Protetora alerta sobre abandono de animais na Zona Rural de Juiz de Fora

Há 25 anos empenhada em trabalhos com resgate de cães e gatos, Nelma Ferreira chama a atenção para falta de assistência e conscientização

Angeliza Lopes
Repórter
29/08/2015
animais

Pensar que soltar animais na Zona Rural é um alívio para cães e gatos presos na Zona Urbana pode ser uma certeza um tanto equivocada. Por alimentar tais pensamentos, que a protetora independente Nelma Ferreira dos Reis, 66 anos, relata casos diários nos bairros rurais de Juiz de Fora de crescimento populacional desenfreado de animais, que sem cuidados, muitas das vezes morrem nos primeiros anos de vida ou vivem à mercê de doenças, fome e maus-tratos. Com a página no facebook Animais Abandonados JF, ela já desenvolve trabalhos de resgate há 25 anos, e principalmente, nas regiões de Monte Verde e Torreões, já atua há 12 anos.

O projeto independente com recursos próprios e sem apoio da administração pública resgata animais em situação de risco, com doenças que são trazidos para a assistência veterinária nos bairros urbanos. Caso os cuidadores não consigam adotar estes animais após a recuperação, eles acabam voltando para a comunidade. "Mas muitas das vezes eles vão a óbito devido o estado avançado das doenças Por conta do grande número de animais, muitas vezes não realizamos o resgate, necessariamente. Nosso suporte não é tão grande", explica Nelma.

Ela conta que começou estes trabalhos em 2003, quando dava aulas na Escola Municipal Padre Caetano, na comunidade rural de Monte Verde. Neste período, a protetora se sensibilizou com a forma como os animais eram tratados e o estado geral deles, sendo que muitos sofrem maus-tratos, além dos relatos de três a quatro animais abandonados por semana nas estradas. Nelma alerta para a proliferação desenfreada de cães e gatos nestas regiões, que em muitos casos são mortos com requintes de crueldade, pela falta de instrução, orientação e políticas públicas específicas para estas regiões. "Ledo engano quem acha que os animais na zona rural são felizes. Muitos morrem antes mesmo de completarem 10 dias do abandono. Conto com o apoio de dois moradores, Luiz e Celso, que também gostam muito de animais", afirma.

Atualmente, ela cuida de 23 cães com orçamento que sai do próprio bolso, além do apoio com rifas periódicas, ajuda de amigos e da parceria com a coordenadora do grupo de apoio da causa, Mônica Moreira dos Santos. "Os tratamentos, vacinas e castrações são feitos dessa forma. Conseguimos adotar normalmente cadelas castradas e cães mais jovens, que acaba sendo um perfil mais fácil para conseguir a adoção. Batalhamos pelas leis que garantem os direitos dos animais, mas enquanto não conseguimos os retornos necessários, continuamos com projetos como este".

Políticas públicas

Para reduzir estes problemas, Nelma Ferreira aponta algumas ações específicas para minimizar o problema particular e comum a toda Zona Rural. "Os órgão públicos deveriam fazer campanhas educativas, castrações em massa, vacinação contra cinomose e parvovirose e controle sistemático das doenças que atacam direto o animal, além de um profissional de veterinária na comunidade para orientar a população, pois nestas regiões não temos assistência nesta área", destaca.

Conforme nota da assessoria do Demlurb, todas as políticas públicas para cães desenvolvidas pelo departamento contemplam a região urbana e rural da cidade, como é o caso do serviço gratuito de castração de fêmeas, que visa o controle da população canina. "No momento, não há possibilidade do programa custear o transporte dos cães, porém, há estudos em andamento para verificar a viabilidade da criação de um castra-móvel, que atenderia os animais no próprio bairro."

Já quando o resgate de cães soltos, inclusive na área rural, o Demlurb responde que somente estão sendo recolhidos por solicitação do Núcleo de Defesa e Proteção dos Animais da Polícia Civil ou quando o Canil Municipal é acionado e a veterinária responsável comprova que o animal está em risco. "Este protocolo foi adotado pelo órgão após consulta a ONG's e protetores independentes dos animais. O Demlurb ressalta, ainda, que não tem permissão legal de recolher cães na área rural e urbana que estejam dentro de propriedades particulares".

Denúncias

Inaugurado, no dia 9 de dezembro de 2014, o Núcleo de Atendimento às Ocorrências de Maus Tratos a Animais de Juiz de Fora, vinculado à Polícia Civil de Minas Gerais, é o atual responsável por receber as denúncias e atuar sobre as mesmas através de inquéritos enviados à Justiça. Os suspeitos de maus-tratos podem receber penas. O Núcleo fica na rua Custódio Tristão, 76, Santa Terezinha, com funcionamento, de 8h30 às 12h e de 14h às 17h30. O telefone para contato é o (32) 3229-5809.

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