Ações simples podem tirar o Restaurante Popular de Juiz de Fora do papel

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Juliano Nery 29/4/2011

Feijão com arroz

Há muito se discute a implantação do Restaurante Popular em Juiz de Fora. Implementada com grande entusiasmo em algumas cidades do país, como Belo Horizonte e São Paulo, a ideia não vingou por aqui ainda. Parece que existem entraves demais para que a iniciativa deixe o papel, abra as portas e sirva as mesas com preços acessíveis e dieta equilibrada para a população. Somente a Câmara de Vereadores já convocou três audiências públicas para discutir o futuro do refeitório, que fazia parte dos planos da administração passada, desde o longínquo 2005. E ainda dá dores de cabeça no presente e rende o meu texto desta semana... Será que não era mais fácil fazer o feijão com arroz?

Fazer o feijão com arroz, não quer dizer desleixo, diferente daquela comida perigosa, que dá notícias do tipo, "O Venâncio morreu", mas um prato decente. Fazer o feijão com arroz, neste caso, quer dizer, simplicidade, caro leitor. O rango do trabalhador deve ficar, sim, bem mais recheado, caso as medidas cabíveis sejam tomadas, como, por exemplo, cumprir o cronograma para a realização da obra que, conforme foi informada pela administração municipal em última ocasião, será em agosto deste ano.

Quando estiver aberto, afinal, minha gente, será muito interessante ver o executivo de terno e gravata, dividindo mesa com as camadas mais populares, gente com piercing na orelha, confraternizando com o pessoal que tatua o corpo inteiro e até o próprio corpo. Camelôs que arrumam colares arrebentados, passando a salada para a menina que rasgou a orelha com o brinco.

A bela confraternização da hora do almoço. Refeição que, por conta dos compromissos profissionais, estudantis e cotidianos, já não pode ser feita em família. Mas como não se solidarizar com os dilemas da pessoa que sempre senta ao seu lado no Restaurante Popular? — Se já tomamos partido nos Big Brothers da vida, que dirá do drama alheio do mais próximo, na cadeira ao lado do refeitório...

Mas e os donos dos restaurantes da cidade? — Como irão ficar com a nova conformação do mercado de refeições de Juiz de Fora? — Sempre haverá gente disposta a pagar os R$ 33,33333... no quilo do rango, que não são os mesmos consumidores que pagarão R$ 0,999999... na comida do popular restaurante. Dízimas periódicas se repetem como a estampa da luta de classes se torna adequada a cada uma das silhuetas sociais. Tem quem possa e tem quem vai poder com a comida mais em conta.

Logicamente que para o projeto sair do papel será necessário aporte de recursos em desenvolvimento de infra-estrutura, como no caso do banco de alimentos. Não há fubá sem milho, não há farofa sem farinha, se é que podemos escolher metáforas alimentares para tratar do imbróglio na construção do templo do sabor a preços módicos. Um projeto desse vulto deve amarrar todas as premissas necessárias para a sua viabilização. Se não for desta forma, torna-se arriscado o projeto de um restaurante popular se transformar numa colcha de retalhos. Ou pior, acabar em pizza. E as fatias nem vão ser servidas para a população, a título de cortesia...

Mais do que assembleias, planilhas e projetos, o povo quer ver o restaurante em funcionamento. Não há iniciativa que resista sem atitude. E espero que de barriga cheia, a população possa mostrar sua fome por outras benfeitorias igualmente importantes em nossa cidade. Quem sabe o restaurante inaugure uma era de abundância acerca de boas notícias municipais.

Juliano Nery já separou R$ 30 para pagar a alimentação no mês de inauguração do restaurante popular. E quer comer todo santo dia com o dinheiro.


Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.