Educar para progredir
A importância da educação na formação do caráter e das habilidades técnicas dos indivíduos é inegável e tem sido defendida há muito tempo por importantes pensadores. Pedagogos, professores, pais e psicólogos afirmam algo que para muitos é até mesmo redundante: a educação transforma as pessoas. Não é à toa a ênfase dada - especialmente no cenário político atual - à imensa importância de se valorizar os professores, qualificar as escolas e melhorar o ensino em suas mais diversas esferas de alcance. Pensando em uma educação completa e transformadora, esta semana reflito, mais profundamente a respeito do negligenciado papel que a educação científica tem em nossa sociedade. Na leitura da coluna "Alô, Professor" do dia 23 de outubro da revista Ciência Hoje, houve a indicação de um livro que trata sobre este tema: Cérebro e crença, de Michael Schermer. O livro fala sobre a dificuldade de substituir por conhecimentos científicos racionais a crença das pessoas a respeito de determinados assuntos. Já providenciei a aquisição do livro e assim que chegar por aqui prometo comentar na nossa coluna. Mas o que quero fazer você pensar é: será que aquilo que acontece no universo científico é adequadamente trazido para nossas salas de aula de modo que os nossos alunos consigam acompanhar com interesse as evoluções deste mundo? Será que professores, pais e meios de comunicação dão conta de instigar estes alunos a fazerem parte da ciência? Será que o modo como ensinamos ciência desafia os preconceitos de um modo que consiga de fato modificá-los?
É relevante esta reflexão na medida em que a ciência tem o poder – embora limitado – de melhorar nossa visão sobre o mundo natural facilitando as nossas decisões, em especial aquelas que envolvem o uso dos recursos deste mundo. Quando eu sei a respeito do Ebola, por exemplo, me sinto apta para agir na prevenção, me sinto capaz de promover este conhecimento para meus familiares e até mesmo me sinto motivada em agir na busca de uma solução. Quando entendo os mecanismos que levam à escassez de água, me julgo mais competente para mudar esse cenário. E é papel dos professores e demais formadores de opinião, portanto, trazer estes e muitos outros conhecimentos para o debate sério, aprofundado e interessante. É um desafio, não nego. Temos que competir com a superficialidade das redes sociais, rica em informação rápida que alimenta nossos preconceitos e que não nos faz pensar. Temos que lutar contra o estigma da "ciência é coisa chata" ou "ciência é muito complicado". Mas quer saber? Vale a pena. Porque eu sinceramente acredito, mesmo que isto soe um tanto ingênuo, que a educação científica é parte essencial para a verdadeira transformação do mundo. E cabe a nós abraçar esse desafio e batalhar de manhã à manhã para vencê-lo.
Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.
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