O triste fim do rio
Eles cortam grande parte das cidades brasileiras, especialmente no Sudeste. Poderiam ser um ponto de encontro, abrigar peixes coloridos, alimentar pequeninos organismos e proteger as tão importantes algas. Poderiam servir de lazer para nós, refrescar nossas crianças, fazer brotar frutos em suas margens.
Mas, infelizmente, este cenário tão bucólico narrado para os rios do nosso planeta, é raro. A imagem mais comum é uma linha de água marrom e fedorenta que corta as cidades cheias de concreto. Em nossas casas, muitas vezes, eliminamos nossos resíduos nos ralos e esgotos domésticos e ficamos com aquela sensação de "problema resolvido". Mas, o que de fato acontece, muitas das vezes, é apenas uma mudança geográfica de lugar destes incômodos orgânicos. Lançamos todos juntos nos rios das nossas cidades tudo aquilo que consideramos imprestável ao nosso bem estar. Muitas pessoas nem enxergam mais aquela linha podre como um rio. Nomeiam, logo de cara, como esgoto. Cidadãos ainda mais urbanizados (leia-se insensíveis para o mundo natural), ainda conseguem crer que aquela imensa vala que corta a cidade é, na verdade, um grande de um incômodo.
Incômodo mesmo meus amigos, ouso opinar, é conviver com tal transformação de um curso d'água natural e saber que é culpa nossa o seu atual estado deplorável. Culpa da nossa falta de planejamento urbano, de investimento em meio ambiente e de sensação de pertencimento. Sim, pertencimento. Somos parte dessa cadeia toda. O rio limpo abriga algas importantes que em seu processo alimentar usam a luz do sol para produzir seu alimento e liberam na atmosfera o indispensável oxigênio. O rio limpo abriga ainda, minúsculos organismos chamados de zooplâncton que muitas vezes se alimentam destas algas e que por sua vez servem de alimento para uma série de outros organismos aquáticos. Seres vivos maiores, de diferentes espécies, harmonizam a cadeia alimentar em conjunto com estes e por aí vai. O que importa compreender, portanto é que este ecossistema é fundamental porque torna possível a vida de todos nós. Matem os rios, todos eles.
Aproveitem e matem os mares também. Sequem as lagoas e lagos e vejamos onde vai parar o equilíbrio ambiental do qual dependemos em uma escala que não imaginamos (e muitas vezes, infelizmente, nem nos interessamos em compreender). Por essas e outras, acho triste o fim dos nossos rios. Acho realmente deprimente. Só lembramos que eles existem quando chove e eles transbordam. Xingamos o rio. Amaldiçoamos o rio. E desejamos que ele nunca tenha existido. Que incoerência...
Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.
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