Juliana Machado Juliana Machado 26/05/2015

Educação Ambiental: Como?

Envolvida por questões pedagógicas que me cercam nos últimos dias, reflito hoje sobre a expressão "Educação Ambiental". Sempre considerei esse saber como algo indispensável e belo, algo que deveria ser o foco de nós professores, nas salas de aula do nosso Brasil. No Portal do Ministério do Meio Ambiente encontramos vários conceitos para definir essa tal educação voltada para o meio ambiente. A Lei nº 9795/1999, que trata da política nacional de educação ambiental, diz em seu artigo 1º: "Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade." Já nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental encontramos no Artigo 2º: "A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental."

A questão que me acode a mente, no entanto é: onde temos falhado? Será que nós professores conseguimos dar conta desta proposta na sua amplitude de tal modo que os estudantes possam crescer com essa visão ética ao enxergarem o meio em que vivem? Não te dá a sensação de que existe uma lacuna muito grande entre a proposta – bela e válida em si – e a realidade? Como tudo em educação, vejo que o desafio se instala nesta ponte entre o saber e o fazer. Minha opinião radical e critica como professora, bióloga e aluna, é a de que somos muito superficiais e redundantes nas abordagens. Sinto um tédio, uma não ligação, uma não identificação do aluno com a realidade da natureza. Não existe Educação ambiental. Existe educação e ponto. O meio ambiente, quando tratado apenas nas esporádicas aulas de ciências, em 50 minutos, não consegue nos atingir. Porque tem filosofia ali, tem sociologia, história, geografia, química, física... Há questões psicológicas, estas tão complicadas diferenças individuais, a história do sujeito que ouve, a cultura da comunidade e da escola em que ele se insere, o que ele traz da família, o que ele vê na TV. Estou sendo radical, eu sei. Mas é quase ridículo crer que todos aos alunos ouvem "é preciso preservar a Mata Atlântica" da mesma maneira. "Não podemos desmatar a Amazônia" da mesma forma. Me angustio ao constatar que muitas vezes os saberes são, e precisam ser, trabalhados dessa maneira. Porque é uma bola de neve... Temos o relógio, os vestibulares seriados, o ENEM, o ENADE, as avaliações regulares, os pais preocupados com a nota. E não cabe em tanta cobrança e em tão pouco tempo essa necessária profundidade dos debates. Simplesmente não cabe.

Todo ser humano é um estranho ímpar, já dizia Drummond. E é exatamente no que creio. Mas então, o que fazer? Uma sala de aula com seu mestre no tablado. Ele sabe da importância deste assunto na sobrevivência das espécies e da sua própria. Sabe da importância de tudo isso para a mudança de paradigmas, para o exercício da ética. Ele precisa tocar cada um dos 30 alunos com este assunto. Eles são todos diferentes em cada micro característica. O que ele, mestre, pode fazer? Está lançado o desafio. Quem mandou ser professor?


Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.

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