Nome do Colunista Juliana Machado 28/09/2015

Sobre ética em Paris

éticaEm dezembro deste ano acontece em Paris a 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21). O objetivo deste encontro é substituir o famoso Protocolo de Kioto e chegar a um acordo sobre as mudanças climáticas e as emissões de gases poluentes. O evento vai reunir milhares de pessoas, incluindo líderes de importantes países como China e Estados Unidos, no debate que promete encontrar uma solução justa e prática para a situação climática que vivenciamos. O principal aspecto é estimular a redução na emissão de gases gerados por combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural. Responsabilizar e propor metas que possam entrar em vigor em 2020.

Eu costumo ser cética com relação a propostas vindas de representantes do alto poder, especialmente em um mundo capitalista em que o que predomina, por uma questão de coerência, é o lucro. Historicamente o que vejo é que o lucro predomina acima da ética e acima se qualquer interesse coletivo. Se ficar comprovado com clareza para aqueles que cismam em não enxergar, que o meio ambiente em colapso afeta irreparavelmente o bolso dos ricos (porque dos pobres não interessa), aí sim vejo uma possibilidade deste e de qualquer outra conferência sobre o clima surtirem efeito positivo. Todavia, caso seja uma reunião de países trocando ideias superficiais, confrontando pontos de vista sem consenso, prometendo reduções de emissões que não irão cumprir e desconsiderando a real gravidade da situação, a COP21 será mais uma sigla bonitinha para a lista de encontros sobre o clima que não tiveram resultado algum.

Penso que a única coisa que pode fazer este encontro dar certo no fim das contas, para além das propostas numéricas e debates cheios de detalhes técnicos, é a ética. Porque é ela que vai fazer quem estiver falando e principalmente o representante de todos os países sentirem um peso na consciência em não propor e se engajar com algo maior. Fazer algo que não beneficie apenas a si mesmo, mas essa comunidade toda da qual fazemos parte. Propor reduções nas emissões de gases poluidores que sejam cumpridas e não apenas anunciadas. A maioria ali tem informação suficiente de biologia, ecologia, ética e cidadania, seja porque estudou em boas escolas ou porque possui conselheiros informados para este fim. Mas esse conhecimento só será sedimentado dentro da pessoa, em uma parte que desconhecemos, se o botãozinho do "fazer o que é certo" for acionado, mesmo que isso signifique frear os índices de crescimento econômico. Caso contrário, repito, este será só mais um evento charmosinho, sobre um tema cultzinho em um lugar elegante.


Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.

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