A hora certa
"Há tempo para plantar e há tempo para colher". E não fui eu quem disse. Está lá, no livro do Eclesiastes, na Bíblia Sagrada. O Caetano Veloso fez até uma oração ao tempo, "tempo, tempo, tempo, tempo..." Difícil mesmo é descobrir a hora certa para se tomar determinada atitude, dar determinada notícia, fazer um anúncio. Essa semana, por exemplo, ficou marcada pela informação do aumento da passagem no transporte urbano de Juiz de Fora.
Os munícipes terão que desembolsar mais 15 centavos pelo serviço, que passou de R$ 1,80 para R$ 1,95. Notícia que, certamente, impactará no bolso do trabalhador, do estudante, da dona-de-casa, do empregador que fornece vale-transporte... Como dar uma notícia dessas, meu Deus? Coincidentemente, as esferas competentes conseguem fazê-lo nos melhores momentos, para pegar o usuário mais vulnerável e menos combativo, de calça na mão, quanto à discussão do valor.
O mês de julho é uma boa época para um aumento de passagem. Ainda mais nesse ano, agravado com a justa comoção em torno da morte do ex-presidente Itamar Franco, foco das atenções durante a primeira semana do mês. E os estudantes saíram de férias. Os universitários, contestadores e organizados como devem ser, ficaram desfalcados por muitos que deixaram a cidade nessa época. Boa parte das crianças e adolescentes também viajou. E uma parcela vai com os pais, cidadãos do município, que poderiam fazer um barulho. Quem vai carregar os estandartes desta forma?
A cidade está mais vazia e as lutas sociais, por seu turno, esvaziadas ainda mais. Para notícias que ninguém gosta de ouvir é melhor ter menos ouvidos por perto, não é mesmo? Ouvidos que, talvez, não escutaram, vale um parêntese, a profícua discussão na Câmara Legislativa, acerca da expulsão de jogadores em partidas de futebol, nesse mesmo mês de julho. Assunto de extrema relevância para a população de Juiz de Fora, que não poderia passar em brancas nuvens para os nossos vereadores.
Puxando um pouco da memória, relembro-me que nas outras ocasiões em que foram concedidos aumentos na passagem de ônibus, o mês escolhido para dar a "má" notícia foi fevereiro, sempre antes do carnaval. Dizem por aí que o ano no Brasil somente começa depois que ele ocorre. Época altamente propícia para a dificuldade na mobilização social e na articulação do questionamento por parte da população. E que, caso existam, desaquecem com a chegada da Festa do Momo, período em que, costumeiramente, o povo brasileiro esquece os problemas.
A data de 14 de julho não me parece uma data escolhida ao acaso. Já ouvi de um empresário, certa feita, que todos os cortes que ele precisava implementar no seu negócio e que impactassem em retrocessos para o trabalhador, só eram informados após o pagamento do salário. Ele detinha crença de que com o salário nas mãos, os empregados reagiriam melhor às notícias. Não se pode negar que é uma estratégia de negociação. E que as esferas competentes devem ter pensado nisso na hora de dar o aumento. "Compositor de destino, tambor de todos os ritmos, faço um acordo contigo", ó tempo...
E por falar nisso, é tempo de pagar mais caro na roleta do ônibus...
Juliano Nery começou a contar as moedas para pagar os 15 centavos de aumento.
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Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.
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