Juliano Nery Juliano Nery 5/6/2012

Muito estranho

FotosE na semana em que a revista Earth 2, da DC Comics, revelou ao mundo a homossexualidade do popular personagem Lanterna Verde, Juiz de Fora recebe a notícia de que a edição de um dos mais tradicionais eventos voltados para o público, o Miss Brasil Gay 2012, foi cancelado. De acordo com a organização, a captação de recursos não foi suficiente para a realização da iniciativa e não haverá tempo hábil para fazê-la. Estranho pensar que o maior evento do calendário turístico de Juiz de Fora e de renome nacional não tenha conseguido atingir as metas financeiras estipuladas pela organização, ainda mais porque, ano a ano, há um incremento significativo no que se diz respeito à tolerância e à abertura de espaço para o público gay. Uma pena para os envolvidos no projeto. Sejam concorrentes, patrocinadores ou organização, todos também devem ter sentido um certo estranhamento. Mas não foi só isso que aconteceu de estranho nesta semana...

Saiu a relação candidato por vaga do concurso para Assistente Legislativo da Câmara Municipal de Juiz de Fora. Para as onze vagas destinadas para a seleção, 3.293 candidatos irão pleitear um lugar ao sol, o que dá o considerável índice de 299 inscritos para cada uma das cadeiras disponíveis. E olha que o lugar ao sol tem como vencimento pouco mais de mil reais por mês, menos de dois salários mínimos... Além da estabilidade no emprego que o concurso é capaz de gerar, tantos inscritos para a prova de 10 de junho de 2012 revela como o mercado de trabalho juiz-forano não anda apresentando valores financeiros significativos. Sinceramente, acho isso muito estranho, já que a cidade é o centro regional mais importante da Zona da Mata e merecia salários com cifras maiores.

De acordo dados do Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego, em Juiz de Fora, o salário médio das contratações desde o início do ano não ultrapassa os mil reais... O que há de errado por aqui? Há um bom setor de serviços, mão de obra qualificada, proximidade das grandes cidades brasileiras e o salário dos nossos trabalhadores não decola e nem muda de patamar. Tudo muito estranho.

Estranho também foi descobrir que os letreiros luminosos dos táxis de Juiz de Fora se chamam "bigorrilhos". "Bigorrilhos", certamente, está entre as expressões mais estranhas utilizadas nesta coluna. Achei também as luzes verdes intermitentes para táxis que estejam a caminho de um chamado pelo telefone também estranhas. Na dúvida, darei o sinal para ver se o táxi para, caso tenha que pegar um dando sopa por aí.

A cidade do Miss Gay adiado, dos concursos ultraconcorridos por salários de mil reais e dos bigorrilhos é a que escolhi para morar. Escrevendo, por aqui, com tanta estranheza, perguntei-me, mais de uma vez, "seria eu também muito estranho?". Questionamentos à parte, acredito que é sempre bom não ter cem por cento de certeza. E um estranhamentozinho, de vez em quando, não faz mal a ninguém.

Juliano Nery acredita que está ficando meio estranho ultimamente.



Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.

ACESSA.com - Juiz de Fora rende not?cias carregadas de pontos estranhos

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