Quando a alma gêmea aparece depois dos 60 anos

Casais que começaram a namorar na melhor idade não estão nem aí para presentes no Dia dos Namorados. Querem mesmo é estar ao lado de quem amam

Thiago Stephan
Repórter
2/6/2012
Mãos idosas

Quem disse que o cupido escolhe seus alvos pela idade? Após sofrerem com a viuvez ou o fim de um relacionamento, pessoas com mais de 60 anos estão provando que não existe idade para encontrar a alma gêmea. Após se entregarem à vontade do coração, garantem que não se arrependeram.

Vivem  relacionamentos em que a paixão é substituída, parcialmente, por sentimentos como carinho e companheirismo. Eles não estão nem aí para presentes no Dia dos Namorados, comemorado no dia 12 de junho. O que querem mesmo é estar ao lado da pessoa com quem escolheram passar o resto da vida.

Assim como os jovens, os casais de idosos também sonham com o casamento. O Portal ACESSSA.com conversou com três casais que participam das atividades do Centro de Convivência do Idoso, em Juiz de Fora. Um deles está com o enlace marcado para o fim do ano. O outro casou no ano passado, quando o noivo tinha 90 anos. O terceiro começou a namorar depois dos 50 e já tem 15 anos de relacionamento, mas eles garantem que sentimento ainda é mesmo de quando começaram a se relacionar.

Só se casar

Irton Fernandes Leite, 69 anos, e Virgínia do Carmo Carvalho, 70 anos, (foto abaixo, à esquerda) namoram há dois anos. Eles se conheceram na aula de dança do Centro de Convivência do Idoso. Irton confessa que logo que conheceu Virgínia sentiu o coração bater mais forte. "O jeito dela me chamou a atenção. Ela é muito gente boa". Ele era divorciado e ela, viúva. "Falei para ela o que eu estava sentindo e que queria algo a mais. Ela disse que me namoraria, desde que nos casássemos, orientação da igreja dela", comenta Irton, que garante que o casamento vai sair. "Seria em julho, mas os filhos dela não poderiam vir. Vamos deixar para o fim do ano. Eles queriam que fosse agora, mas decidimos esperar. Os nossos filhos estão mais empolgados com o casamento que a gente", diz, com o sorriso no rosto.

E como foram esses dois anos? Irton afirma que não poderiam ter sido melhores: "Combinamos bem. Morar sozinho é ruim. Ter uma companhia, cuidar um do outro... Uma pessoa para conversar", destaca. Sentimento semelhante é o de Virgínia, que afirma sentir-se mais segura ao lado do companheiro. "Está sendo ótimo. Ele é uma pessoa sincera, honesta, responsável, bondosa e que me respeita muito. O relacionamento dele com os meus filhos é ótimo. Todos gostam dele", relata. E como é o namoro na melhor idade? "A gente namora como qualquer outro casal. Gostamos de sair para dançar, viajar...", diz. Sobre o casamento, ela explica como será a cerimônia: "Será na igreja, com direito a bolo".

E o Dia nos Namorados, vai passar em branco? O noivo garante que não: "Vamos comemorar, sair, dançar...Se não tiver dinheiro, dou pelo menos uns três beijos nela [risos]. Ela não esquenta muito para presente. Quer que eu seja honesto e fiel".

Irton e Virgínia Pedro e Solange

Casamento depois dos 90

Pedro Paiva, 91 anos, e Solange Almeida de Medeiros, de 75 anos, (foto acima, à direita) casaram-se no ano passado, no civil e no religioso, e teve festa. Os dois resolveram que o relacionamento de 13 anos merecia ser "oficializado". Ambos ficaram viúvos e, após anos de luto, se encontraram e agora vivem juntos. "Ficar sozinho em casa é chato. A gente sempre combinou", garante Pedro. Assim como no relacionamento de Irton e Virgínia, a família também apoiou a decisão de Pedro e Solange de se casarem. Ela tem três filhas. Pedro, oito filhos.

Sobre o casamento, Solange garante que não poderia ser melhor. "Meu sentimento por ele se renova a cada dia. Acho que acontece o mesmo da parte dele. Ele me trata muito bem. A gente ri muito, porque isso é importante", revela Solange, para depois comentar os benefícios que o relacionamento com Pedro trouxe para a sua vida. "A gente se sente melhor. A pessoa que vive sozinha é mal-humorada. Faz bem para a saúde". Sobre o 12 de junho, tem o seguinte pensamento: "O Dia dos Namorados para nós é todo dia. Não vai ter programação especial", afirma, destacando que uma das atividades preferidas do casal é viajar. "Neste ano já fomos a Raposo (RJ), Cabo Frio (RJ), Piúma (ES), e estamos nos preparando para excursão a uma feira em Belo Horizonte".

Não existe fórmula pronta

Questionada se os idosos devem mesmo buscar uma companhia, a psicóloga do Centro de Convivência do Idoso, Débora Delgado, explica que não existe fórmula pronta. "Muitos são sozinhos, viúvos ou sempre foram solteiros. Para alguns, a família basta", explica.

Segundo Débora, nesta fase da vida, o relacionamento tem nuances especiais. "O mais importante não é o sexo, é a atenção, o carinho, a companhia. Acabam se tornando pessoas mais felizes após o relacionamento, procuram realizar um número maior de atividades e aumentam o ambiente de convívio", revela Débora, para acrescentar: "Às vezes, o amor na terceira idade não está ligado a morar junto. É a companhia para ir a um baile, fazer um passeio, ter um grupo de amigos. O amor é algo muito extenso, não apenas a relação homem e mulher. E isso fica mais evidente na terceira idade", comenta a psicóloga.

Os textos são revisados por Mariana Benicá

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