Personalidades de JF analisam as recentes manifestações no país
Falta de foco, vontade de mudar e indignação do povo brasileiro são algumas das abordagens observadas pelos entrevistados do Portal ACESSA.com
Repórter
24/06/2013
Melhorias na saúde e na educação, rejeição da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, críticas aos investimentos da Copa do Mundo. Estes são apenas algumas das reivindicações da onda de manifestação que começou há algumas semanas na cidade de São Paulo, quando o Movimento Passe Livre, lutava pela redução de R$ 0,20, na tarifa de ônibus. Com a diversidade de anseios e o aumento dos protestos em todo o país e, inclusive, em Juiz de Fora, o Portal ACESSA.com ouviu as opiniões de algumas lideranças do município sobre estes atos.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Raul Magalhães, os protestos cresceram em uma escala inimaginável, devido ao excesso de insatisfação do povo brasileiro. "Percebemos claramente que este movimento conquistou uma amplitude muito maior do que a redução da tarifa de ônibus. São tantas carências no Brasil, que o movimento cresceu sem lideranças e sem clareza nas reivindicações."
Falta de foco
Participante de todas as manifestações, o presidente do Movimento Gay de Minas (MGM), Oswaldo Braga, também ressalta a falta de liderança dos protestos. "O movimento precisa se organizar. Falta um microfone, uma voz que dê um 'norte' para os manifestantes. Na verdade, a indignação do povo é tão grande, que sabemos que quase todo mundo que está nas ruas, tem um motivo em particular para protestar. O meu motivo pode ser muito distante do seu, mas todos têm a mesma importância," afirma.
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Sobre as causas em particular do MGM, que são as questões ligadas a homofobia, principalmente contra o deputado Marcos Feliciano (PSC-SP), autor do polêmico projeto conhecido como Cura Gay, Braga revela que ficou surpreendido com o apoio que o movimento está recebendo. "Vimos tantas pessoas heterossexuais segurando cartazes de Fora Feliciano, Abaixo a Cura Gay, que percebemos que a homofobia não incomoda apenas o nosso grupo. Receber o apoio destas pessoas, foi e está sendo simplesmente maravilhoso."
Problemas
Para o presidente do Sindicato dos Bancários de Juiz de Fora (Sintraf-JF), Carlos Alberto Nunes, a falta de foco das manifestações unida a anos de corrupção pode fazer com que com o país reviva uma das épocas mais repressivas da história. "O Brasil está envolvido em corrupção desde o descobrimento. E nos últimos 50 anos, quase que não houve investimentos. Agora o povo sai as ruas pedido transporte, educação e saúde de qualidade. Mas as reclamações são tantas e tudo está tão fora de foco, que me preocupa onde estas insatisfações podem nos levar. Sinto que muitas pessoas não sabem para onde ir, por isso tenho medo que elas queiram retroceder, até mesmo para uma ditadura."
Ainda, de acordo com Nunes, o brasileiro começa a compreender e se revoltar com as injustiças. "Pude perceber que algumas pessoas começaram a se dar conta das desigualdades que vivemos no dia a dia. Por exemplo, enquanto o banco Itaú patrocina a Copa do Mundo de um lado, do outro demite um monte de funcionários para aumentar os lucros da instituição."
Já a coordenadora do Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro-JF), Aparecida de Oliveira Pinto, avalia que a recusa dos manifestantes em aceitar o apoio de algumas organizações, tem um caráter facista. "Os sindicatos, movimentos sociais e até mesmo alguns partidos políticos foram os responsáveis pela história do Brasil. Então quando algumas pessoas impedem bandeiras, impede a democracia. Afinal, defender a organização dos trabalhadores e do povo, é defender que todos tenham os mesmos direitos," afirma Aparecida, ressaltando que em Juiz de Fora, esta situação é diferente. "Hoje (segunda-feira) estou aqui em frente a Câmara, junto com estes jovens, segurando a bandeira do meu sindicato e lutando por algo, que muitos deles também lutam, que é o piso salarial dos professores."
Outro problema levantado pelo cientista político, é a omissão do Estado. "De um lado temos um movimento sem liderança e de outro a omissão dos políticos. Essa incapacidade do Estado de lidar com essa situação, é algo crítico, que vem de outras épocas de repressão," afirma Magalhães.
Mudança
"Quando olhei aquelas pessoas com os cartazes nas mãos, percebi que elas queriam mudança. E tenho muita fé que isso irá acontecer," acredita o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário (Sinttro), Adilson Antônio Rezende, afirmando que a transformação deve começar pelos municípios. "As manifestações começaram reivindicando a redução das tarifas de ônibus. Problema que afeta toda a população do Brasil. Depois vimos que as pessoas se voltaram mais para os problemas das suas cidades, como aqui em Juiz de Fora, quando alguns solicitam a realização imediata da licitação do transporte público."
Mesmo com a mudança de comportamento, Rezende avalia que a pressão em Juiz de Fora deva ser maior. "Especificamente, tratando sobre o transporte público, posso afirmar que há 200 anos este setor está na mão de quatro pessoas. E enquanto não mudarmos nossos políticos, isso não vai mudar. Os juiz-foranos estão iludidos, se acreditam que teremos licitação para o transporte público. Isso só vai acontecer quando mudarmos os políticos que estão aí e que não querem que façamos isso."
Esperança
A presidente do Comitê de Cidadania, Dea Emília Carneiro de Andrade, acredita que a população do Brasil, principalmente os jovens, começam a exercer o direito de cidadania. "Todos sofremos com as decisões dos políticos. Enquanto que muitos reclamam das consequências, poucos participam da vida política de sua cidade, do seu estado e do seu país. Mas com estas manifestações, estamos vendo os jovens indo para as ruas, indignados com tudo o que está acontecendo. E estes jovens trouxeram também o professor, a dona de casa, o trabalhador, a população em geral que clama por mudanças."
Para Dea, esta mudança de comportamento é o primeiro passo para a mudança da nação. "O Comitê sempre lutou por uma participação mais efetiva das pessoas na política. Pois, nós acreditamos que quando as pessoas acompanham o trabalho dos vereadores, por exemplo, elas têm condições de cobrar melhorias para a cidade. Quando vemos os projetos votados pelos deputados, sabemos exatamente se eles nos representam ou não. E o que estamos vendo muito nestas manifestações são cartazes com os dizeres 'Fulano de tal não me representa'. E se não me representa, não serve para ser político."
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