Ana Paula Ladeira Ana Paula Ladeira 19/08/2014

O futuro já chegou

tvAs gerações dos anos 1980 e 1990 devem se lembrar: escolher um determinado filme e assisti-lo a qualquer hora não era uma tarefa muito fácil. Era preciso, no mínimo, um vídeo cassete e acesso a uma boa (e hoje em extinção) locadora. O mais comum era que todos aguardassem pacientemente o tão esperado lançamento do filme na televisão ou mais um capítulo do programa favorito, com dia e hora marcados.

Não demorou muito para que as empresas de TV por assinatura começassem a oferecer o serviço de pay-per-view, com uma pequena lista de filmes disponibilizados, que poderiam ser "comprados" por telefone e, mais recentemente, através do controle remoto. Mas, assim como a TV por assinatura, este serviço era bastante restrito a um pequeno número de telespectadores e não atendia totalmente às demandas dos assinantes.

Foi necessário, então, que a tecnologia de internet avançasse para que este serviço também evoluísse e transformasse o pay-per-view num segmento menor diante do VoD, o vídeo sob demanda, que, no Brasil, está se popularizando através da Netflix. Através deste serviço, o usuário tem um amplo rol de programas e filmes para assistir quando e onde quiser, através do celular, computador ou televisão. O serviço é relativamente novo, pois sua existência depende da internet de banda larga; mas a rapidez com que se multiplica o número de assinantes já aponta os novos caminhos que a televisão deve tomar.

A Netflix, atual líder mundial na transmissão de conteúdo audiovisual na internet, já soma aproximadamente 48 milhões de assinantes nos 40 países onde atua. O número é ainda mais expressivo se observarmos que houve um aumento de quase 20 milhões de assinaturas desde 2012. Os Estados Unidos compõem a maior fatia de assinantes, totalizando cerca de 35 milhões de usuários da rede. No Brasil, a Netflix chegou em 2011, mas já é considerado como um dos cinco maiores mercados mundiais.

Sem dúvidas, o acesso ao serviço de VoD e a consequente ampliação do poder de escolha do telespectador em todo o mundo já está impactando o mercado televisivo. Em recente declaração, o diretor geral da BBC, Tony Hall, afirmou que a rede pública britânica já está se preparando para o fim das transmissões lineares de seu conteúdo televisivo. Seu comentário pode até parecer um pouco precipitado, mas reflete a preocupação de muitas emissoras abertas e – mais importante – mostra que o futuro da programação das TV's não passa, necessariamente, pelas tradicionais grades de horários que hoje conhecemos.

Hoje, o crescimento do número de assinantes de VoD faz com que alguns conteúdos sejam produzidos especialmente para estas plataformas, principalmente em mercados mais consolidados como os Estados Unidos. Como resultado, em 2014, a Netflix obteve 31 indicações para a premiação Primetime Emmy Awards, que ocorrerá no dia 16 de agosto. Neste sentido, o Brasil ainda tem muito a se desenvolver. São poucos os exemplos de produções brasileiras lançadas exclusivamente para plataformas de VoD, como A Toca, produzida para a Netflix, ou a série Poesias em Movimento, a ser lançada no próximo semestre pela Globosat Play. Por outro lado, se o crescimento do vídeo sob demanda se mantiver no mesmo ritmo, é de se esperar que em pouco tempo muito conteúdo brasileiro seja criado exclusivamente para o vídeo sob demanda.


Ana Paula Ladeira é Jornalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisa assuntos relacionados especialmente à TV.

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