Cinema nacional: um balanço de 2015 e algumas previsões para 2016
Contrariando os alarmantes índices econômicos, o setor audiovisual brasileiro teve um ótimo desempenho em 2015, segundo informe lançado recentemente pela Ancine. Mais espectadores foram aos cinemas e mais filmes brasileiros estrearam nas telonas, em comparação com 2014. Além disso, houve um crescimento no número de salas de exibição. As cifras são realmente surpreendentes: 172,9 milhões de espectadores geraram uma renda de R$2,35 bilhões (20% maior do que a do ano anterior).
De fato, o Brasil já vinha experimentando um aquecimento do setor audiovisual graças aos fomentos promovidos pela Ancine e à regulamentação da TV paga. Mas o que explicaria a continuidade deste processo e os números tão expressivos diante de um cenário pouco favorável, de crise econômica?
Em primeiro lugar, a expansão do número de salas contribuiu para esses resultados. No ano passado, 252 salas foram inauguradas e o país registrou o maior número de espaços de exibição desde 1970. Outro fator que não deve ser ignorado é a distribuição do vale-cultura, benefício dado por algumas empresas a seus trabalhadores e que facilita o acesso aos shows, teatros, produtos culturais e, claro, ao cinema. Este incentivo, aliado ao fato de que o cinema ainda é uma das opções de lazer mais baratas, contribui para que o brasileiro continue freqüentando as salas de cinema.
Por fim, o sucesso de algumas franquias ou seqüências de filmes com personagens já familiares para o público levou mais espectadores aos cinemas. A seqüência "Vingadores: a era de Ultron", foi o filme mais assistido em 2015 e levou mais de 10 milhões de brasileiros aos cinemas. Também no ranking dos filmes mais vistos, três longas nacionais fazem parte da lista: "Loucas para casar", "Vai que cola", que se originou de uma série de TV, e a seqüência "Meu passado me condena 2".
No entanto, ainda é difícil fazer qualquer tipo de previsão para 2016. Existe uma grave ameaça ao setor de produção audiovisual, já que as operadoras do ramo de telefonia conseguiram, no final de janeiro, uma liminar que as desobriga a recolher a Condecine, contribuição que abastece o Fundo Setorial do Audiovisual. Este fundo, por sua vez, é responsável pelo fomento à indústria audiovisual. Com isso, o setor poderá sofrer um prejuízo de mais de 1 bilhão de reais, que seriam destinados ao financiamento de produções cinematográficas e televisivas.
Por outro lado, acredita-se que o volume de espectadores nas salas de cinema mantenha-se alto. Provavelmente, várias comédias nacionais vão atingir o patamar de mais de um milhão de ingressos vendidos. E aí, entram novamente no circuito as seqüências ou filmes baseados em produções já conhecidas pelo público, como: "Até que a sorte nos separe 3", "Vai que dá certo 2", e "Porta dos Fundos". Vale lembrar também que o longa brasileiro "Os dez mandamentos" já acumula um público de mais de 4 milhões de espectadores desde sua estréia – um número surpreendente em meio a uma desanimadora realidade econômica pela qual passa a sociedade brasileira.
Ana Paula Ladeira é Jornalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisa assuntos relacionados especialmente à TV.
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