Liga das Escolas de Samba fala sobre futuro dos desfiles em Juiz de Fora
Cortes, quadras fechadas e enfraquecimento dos desfiles carnavalescos. Nova equipe de comunicação pretende criar diálogos e reestruturar as agremiações
Repórter
16/01/2016
No ano em que Juiz de Fora comemora 50 anos dos desfiles oficiais de escolas de samba não haverá passarela do samba. A situação foi uma resposta a tantos outros problemas relacionados às agremiações durante os últimos anos, como enfraquecimento das escolas e quadras fechadas devido às pendências com a Justiça e Corpo de Bombeiros. Sem ter como arrecadar recursos próprios, os grupos se viram reféns dos valores repassados pela Prefeitura para sua realização. Mas, veio a crise econômica e os cortes foram necessários. A redução chegou a quase 60% do total investido em toda a festa carnavalesca da cidade, culminando na impossibilidade dos desfiles.
Diante de todo este cenário, a Liga das Escola de Samba de Juiz de Fora (Liesjuf) se viu em um momento 'divisor de água'. Muita coisa deveria ser feita para mudar esta realidade e reestruturar tudo, quase do zero. Com uma nova equipe de comunicação e uma Liga interina, eles pretendem firmar diálogo com todos os envolvidos, na esperança de fazer respirar as escolas de samba, novamente. Para falar um pouco sobre a atual situação dos desfiles carnavalescos do município, a ACESSA.com conversou com os novos assessores de comunicação Rosiléia Arcanjo e Henrique Araújo. Confira a entrevista:
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ACESSA.com - O que mudou na Liga das Escolas de Samba de Juiz de Fora?
Rosiléa Arcanjo - Na verdade não houve totalmente esta mudança ainda, pois a Liga é interina. O atual presidente Jair de Castro está afastado por 120 dias e neste período uma equipe de comunicação foi chamada a participar pelo então vice-presidente Marcos Tadeu, que assume o posto de presidência de forma provisória. A votação de uma nova chapa ocorrerá em 2017.
ACESSA.com - Então o que foi alterado na Liesjuf?
RA – Pela primeira vez, a Liga passou a contar com uma equipe de comunicação, setor antes era representado por apenas uma pessoa, e tem como meta trabalhar com a divulgação dos trabalhos desenvolvidos pela Liesjuf para imprensa e integrar os foliões e escolas de samba. Formado por quatro pessoas, os assessores também vão auxiliar nas ações da diretoria, com publicidades e organizações de eventos.
ACESSA.com - Como a Liga vê hoje a situação das escolas de samba de Juiz de Fora? É nítido que os problemas são grandes, com quase todas as quadras fechadas por falta de infraestrutura adequada, pouco investimento.
Henrique Araújo – O presidente em exercício tomou este assunto como o principal objetivo. É o maior problema, mas também nosso maior foco. Porque, pior que não ter a verba pública é as escolas não terem condições de arrecadar verba própria e movimentar os seus espaços. Mas, para isso, precisamos do apoio da Prefeitura, Corpo de Bombeiros e iniciativa privada, assim a função da diretoria é reunir as partes para uma conversa que todos entrem em um consenso, permitindo a reabertura. A intenção é que as escolas passem a ter maior autonomia para arrecadar recursos, mas vai depender destas parcerias. A previsão é que todas as quadras estejam abertas até o final do ano.
ACESSA.com - Além da parte de infraestrutura, existem outras pendências dentro das escolas para que os desfiles aconteçam?
HA – Vemos como um problema das escolas terem tomado este rumo de depender dos recursos repassados pela Prefeitura. Temos caso de escolas que recebem do Executivo cerca de R$ 65 mil, mas gastam, pelo menos, o dobro deste valor. A questão é que não tem como levantar valores acima do que os órgãos públicos passam, mas a ideia é angariar fundos e diminuir a dependência dos recursos do Executivo.
Outro problema que enfrentamos foi a falta de conhecimento das escolas quanto forma correta de organização do financeiro para prestação de contas para a Funalfa. Conseguimos regularizar a situação e, a partir de agora, vamos ver formas de fiscalizar este trabalhos.
ACESSA.com - A intenção então é incentivar as escolas a dependerem cada vez menos dos recursos investidos pela Prefeitura para realização dos desfiles?
HA – Sim, acho que o futuro do carnaval no Brasil é esse. A questão também quando pensamos em investimento do poder público, devemos estar atentos que a própria cidade ganha de volta este valor. Quando você investe R$ 1,4 milhão, o município recebe o dinheiro através de contratações para prestação de serviços, comércio e turismo. A questão é que como acontece em muitos lugares, Juiz de Fora ainda não criou uma cultura de fazer turismo no Carnaval para trazer mais dinheiro.
ACESSA.com - Como a Liga recebeu a notícia dos cortes de investimento para os desfiles de 2016?
RA – Os próprios presidentes das escolas de samba optaram por não fazer os desfiles, já que a verba não seria compatível com o necessário. Quadras fechadas e custos altos pesaram na balança e, então, reunidos em várias reuniões foi decidido.
HA – Já imaginávamos os cortes, mas não sabíamos que seria tão grande. Por isso, achamos mais conveniente fazer desta forma, e liberar o valor para que a Prefeitura pudesse realocar este dinheiro em tempos de tanta crise econômica e usar este período para mudanças. Também temos que lembrar que do valor investido, o que vai direto para as agremiações não chega a ser 30% do total destinado para o Carnaval. A maior parte vai para a montagem da estrutura da passarela do samba e o restante para os blocos. Por isso, a verba pública não corresponde ao total gasto por escola, que precisa arrecadar o restante de forma independente.
ACESSA.com - Como estão as discussões para para a reestruturação dos desfiles de escola de samba para o carnaval de 2017?
RA – A diretoria interina da Liga está procurando escutar, em reuniões, outros membros das escolas que integram os desfiles, como mestre de bateria, mestre-sala e porta-bandeira. Por isso, além dos presidentes das escolas, agora vamos ouvir o outro lado das pessoas que sabem os problemas enfrentados dentro das quadras, ensaio ou na avenida.
HA – Existem pessoas dentro das escolas que são muito mais antigas que os próprios diretores, e quem conhece realmente os problemas são os profissionais que trabalham no Carnaval. Até março a gente espera que esteja bem claro quais são as necessidades para começar a fazer o Carnaval de 2017. A própria Prefeitura já se mostrou disponível a conversa, para começar os preparativos, por isso, até lá, estamos reunindo toda semana. De certa forma, já estamos em cima, novamente, para começar os preparativos, mas estamos esperando passar o evento do dia 30 de janeiro, na praça Antônio Carlos, para poder por a cabeça no próximo ano.
ACESSA.com - Os valores dos eventos que serão realizados pela Liga serão para ajudar as escolas de samba?
HA – Primeiro os recursos serão destinados para os problemas institucionais da Liga. Precisamos de uma sede, para termos um grupo para gerir o Carnaval. Depois, dependendo negociação com a Prefeitura, o valor arrecadado também será para as escolas para realizar os desfiles.
ACESSA.com - A Liesjuf já possuí eventos programados?
RA – Vamos agora para o segundo evento, pois a seletiva da Rainha do Carnaval de Juiz de Fora já foi a primeira programação, organizada em 10 dias. Agora, vem o segundo evento, que será a festa em homenagem aos 50 anos dos desfiles de escolas de samba na cidade. A festa ocorre no dia 30, a partir das 14h, com apresentação das escolas filiadas à Liga, com os sambas antológicos, alegorias, e participação de cerca de 200 componentes, de cada escola. No dia será a grande união das escolas de Juiz de Fora.
ACESSA.com - Quando foi anunciado que não haveria desfiles em 2016, muitas pessoas se manifestaram satisfeitos pela decisão nas redes sociais. Como a Liga vê a falta de receptividade da maioria dos juiz-foranos para os desfiles das escolas de samba na cidade?
HA – Infelizmente, nem todos conhecem o trabalho que é feito em uma escola de samba. É claro que se observarmos os últimos 20 anos, vemos uma decadência muito grande das escolas. Mesmo assim, o trabalho que ela exerce, principalmente, em comunidade de periferia, pois o maior número de escolas são nas periferias, é um trabalho social muito grande. Às vezes, uma família que não tem nenhuma fonte de lazer durante o ano, só tem dentro de uma escola de samba. Formar ritmistas, mestre-sala e porta-bandeira, passistas, costureiras, um grande número de pessoas que vão passar a ter a vida dentro de uma escola de samba, tira muita gente das ruas e das drogas. Então, ainda as pessoas têm em mente que o Carnaval é somente para as pessoas brincarem e curtirem, mas existe um outro lado, que vive 365 dias trabalhando.
Podemos colocar o Carnaval como evento que alimenta três pontos importantes que são econômico, social e cultural. Este último tópico é que mais me preocupa, quando vejo as pessoas vibrando quando foi determinado a não realização dos desfiles, principalmente, na cidade que tem a segunda escola mais antiga do Brasil, que é o Turunas do Riachuelo. Fechar uma quadra é a mesma coisa que fechar uma escola, muita coisa que a gente aprende é passado com o enredo, que sempre conta a história de alguém e do Brasil. É polêmico, mas vejo que só chegou neste ponto porque nem as escolas, Liga ou Prefeitura buscaram informar as pessoas sobre isso.
Quem não vê os trabalhos nos barracões ou avenida não sabe a essência disto tudo. Acho que o que falta é as pessoas olharem com outros olhos para o Carnaval, como potencial de retorno econômico, como acontece no Rio de Janeiro. Pesquisas mostram que quase 50% da população carioca não gosta, mas, mesmo assim, o retorno transforma muito válido a festa toda.
Vemos que muitas pessoas formaram ideias, não só em Juiz de Fora, que as escolas são antro de corrupção e estão lá apenas para ganhar dinheiro público, mas mesmo que seja isso, ainda existe o retorno. Mas, que não é visto, não é lembrado. Por isso, é importante mostrar tudo isso.
ACESSA.com - A alteração das datas dos desfiles também é algo a ser discutido?
HA – A antecipação da data do Carnaval é uma tendência, mas vejo que a forma foi feita foi um tanto corrida e sem planejamento para valorizar os desfiles e atrações como um todo. As agremiações não têm interesse em retornar as datas oficiais, mas a Liga vai voltar a conversar sobre este assunto. Vemos também que o diálogo com os blocos deve acontecer para que todos possam ser ouvidos. Afinal, se as escolas perdem, os blocos também perdem, pois os dois fazem parte de uma única festa.
ACESSA.com - Como vocês veem o crescimento dos novos blocos de rua como Come Quieto e Parangolé Valvulado?
HA - A tendência nacional é que Carnaval de rua se fortaleça, pois é o que o jovem gosta. Os blocos mais novos foram ótimo para cidade, pois depois da Banda Daki não víamos outros blocos arrastarem multidões, igual existe agora.
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