Paulo César Paulo César 29/10/2012

Em seu 50º aniversário, o Agente 007 volta aos cinemas em Operação Skyfaal, um dos melhores filmes da franquia

Criado por Ian Fleming, o espião mais famoso da história, o Agente 007, ou James Bond, se preferir, completa 50 anos de missões. E, para comemorar sua boda, nada melhor que uma aventura com tudo o que os fãs têm direito, porém, com um toque refinado de humor negro, referências ao glorioso passado, além de discussões sobre honra e envelhecimento, o qual se expande para além da telona.

Nessa nova trama, James Bond (Daniel Craig) é ferido durante uma missão e é dado como morto. Enquanto isso, o MI6 é atacado por um inimigo hostil, Raoul Silva (Javier Bardem, ótimo), que invade o sistema de segurança dos computadores da instituição para revelar identidade de agentes infiltrados em diversos lugares do mundo, além de atacar diretamente o prédio da agência. Porém, Bond ressurge e se apresenta para o serviço, sem as mesmas habilidades, entretanto, como a já conhecida voracidade.

O que faz de 007 – Operação Skyfaal um grande filme é a forma como a trama central foi diluída, tirando das costas de Bond o peso de ser o fiel da balança do longa. O personagem M. ganha relevância e torna-se o apoio narrativo e dramático que a história necessita, já que o ataque do inimigo é diretamente ligado às suas escolhas do passado. Além disso, o roteiro se apega mais ao texto bem elaborado, atualizado com os parâmetros sociais e carregado de um humor cínico, característicos dos filmes de Sam Mendes (Beleza Americana, Estrada para a Perdição), e as referências à história do personagem, como o Aston Martin DB5 usado por Sean Connery em Goldfinger (64) e Chantagem Atômica (65).

O diretor é experiente e soube determinar as curvas da parábola em que a ação seria descarregada aos olhos do público. Começa em uma sequência eletrizante, mas logo passa a ser inserido convenientemente, o que agrada aos fãs da pirotecnia e também aqueles que esperavam algo a mais. Há certa ousadia em abandonar certos clichês consagrados, como por exemplo, a importância da Bond girl, que, desta vez, foi reduzida a pouquíssimas cenas, inclusive a tradicional, em que transa com o protagonista. E também os aparatos hi-tech, que tiveram pouco uso e criatividade.

Daniel Craig é cada vez melhor na pele do agente. Neste longa, Mendes necessita de sua carga dramática e o resultado é convincente. A veterana Judi Dench é incansável mesmo no auge de seus 78 anos, é ríspida e forte na pele da toda poderosa do MI6, mas mostra a versatilidade que lhe deu seis indicações ao Oscar em dez anos, e injetada melancolia e dualidade à personagem. Ralph Fiennes e Albert Finney dão o ar da graça com a competência conhecida. Já Javier Bardem é um show à parte e está ululante na pele do vilão sociopata, sarcástico e vingativo.

A proposta para esta "comemoração" parece ter sido uma discussão sobre o desgaste, o envelhecimento. A relação entre M. e Bond é permeada por esta discussão, pois ambos são tachados como ultrapassados e convidados a se aposentar. E, de forma subjetiva, o questionamento se transfere para o personagem em si e toda a sua história. Estaria na hora de aposentar de vez o personagem? Fica a cargo de o espectador decidir. Contudo, depois de quase 150 minutos de um excelente filme, o melhor das últimas três décadas, acho que vamos vê-lo se apresentar para o serviço novamente.



Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.

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