Paulo César Paulo César 19/1/2013

Depois de largar a política, Schwarzenegger volta aos cinemas em O Último Desafio, com Rodrigo Santoro no elenco

Se você tem mais de vinte anos, é nostálgico entrar em uma sala de cinema e assistir um filme estrelado por Arnold Schwarzenegger, pois, de meados da década de 80 ao início dos anos 2000, quando se decidiu pela vida política, foi o grande nome do gênero de ação e ficção. Entretanto, ao contrário de quando enfrentava alienígenas ou incorporava o simpático ciborgue monossilábico, seus filmes de ação "humana" não conseguiam o mesmo sucesso com o público e, muito menos, com a crítica. Agora, ele volta ao gênero fazendo uma sátira à sua condição de "senhor de idade", mas sem abandonar a truculência que lhe fez notável. E com o brasileiro Rodrigo Santoro no elenco.

Ray Owens (Arnold Scwarzenegger) é o xerife de uma pacata cidade na fronteira com o México. Um perigoso chefe de um cartel mexicano foge do FBI e parte em direção aos domínios do velho policial com o intuito de sair da jurisdição americana através de uma ponte construída pelos seus capangas. Só que não contavam com a resistência de Owens e seus aliados, que farão de tudo para impedir a fuga.

É bem simples mesmo o roteiro de O Último Desafio, e as convenções do gênero se fazem presentes do início ao fim, como o jovem policial aguerrido que perde a vida em trabalho, os affairs, um meliante em busca de redenção e os suportes cômicos. Mas, ao contrário de produções do gênero que surgem aos montes por aí, este possui um pouco mais de texto aproveitável. A forma como a comédia é inserida aos poucos e vai ganhando espaço na trama, principalmente pelo sempre divertido Luis Guzman e pelo exagerado Johnny Knoxville, com pontinhas preciosas do elenco de apoio, chega a lembrar o bom Um tira no jardim de infância, filme de ação carregado de humor.

O diretor Kim Jee-Woon, que já havia se saído muito bem no western Os Invencíveis, faz algo pouco visto na maioria dos filmes de ação, o uso de tomadas diferenciadas que valorizam, principalmente, a figura de Owens como um herói que tem a chance de dar a volta por cima depois de uma missão fracassada na época que era policial em Los Angeles. Além disso, explora os coadjuvantes, de modo a valorizar cada minutinho em que aparecem, permitindo ao público ter aquele momento para respirar entre um tiroteio e outro.

O ex-governador Schwarzenegger mostra que os anos em que esteve longe das câmeras (de cinema, óbvio) enferrujaram seu corpo, mas não diminuíram sua imponência em cena. Apesar de nunca ter sido um excelente ator, sempre cultivou um carisma que o transformava em um verdadeiro super-herói. Este tipo de ação-comédia pode ser uma boa alternativa para esta nova fase de sua carreira. Em meio aos "abilolados" que compõem o elenco, o brasileiro Rodrigo Santoro ao menos mostra presença de cena, e, a cada ano que passa, vai ganhando mais espaço em Hollywood e se aproximando de ser lembrado para um grande papel. Seu personagem é discreto, porém mostra carga dramática que até poderia ser dispensável.

Este renascimento do grande Arnold é o mesmo que Sylvester Stalonne teve de passar para voltar a ser notado. E se este filme era realmente um desafio em sua carreira, um retorno triunfal de um mito que marcou toda uma geração, pode-se dizer que saiu bem. Pois, se comparado à época em que destruía mansões de papelão e enfrentava vilões afetados, com a aparência de cantores de mambo, O Último Desafio é um filme que merece ser visto.


Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.

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