O peso do vazio e da reflexão em “A grande beleza”
Um filme que começa como "A grande beleza" já é empolgante e traz o pensamento: "esse promete". Uma festa super divertida, com o pessoal "se jogando", fazendo até mesmo passos de dança que lembra o kuduro. E assim dura um pouco o início, até que a festa acaba. E, ao final dessa festa, começa "A grande beleza". As pessoas dormindo pelo chão, gente extremamente embriagada, gente falando sozinha. Ilusão. Toda alegria e toda aquela diversão. O que são? Precisam ser alguma coisa? Eles podem somente divertir-se? Eles podem divertir-se e ao final se incomodarem com o vazio de tudo aquilo?
Sobre a vida e a possibilidade da vida se tornar vazia e sem sentido se faz o roteiro do longa. O filme, vencedor do Oscar 2014 de melhor filme estrangeiro, conta a história de Jep Gambardella (Toni Servillo), um escritor que se tornou conhecido por um romance escrito quando tinha cerca de 25 anos, num momento em que acabara de viver o grande amor de sua vida. Jep não consegue escrever outro livro, e viveu como bon vivant, em busca da "grande beleza". Ao saber da morte de Elisa, seu amor do passado, ele se sente novamente inspirado a escrever.
Muito se critica o passar do tempo. Muito se critica a Roma atual, as novas gerações, inclusive critica-se as críticas às novas gerações. Critica-se. E muito. E muito se propõe de reflexão. Muito mesmo.
"A grande beleza" não é um filme fácil de se assistir. É pesado tudo aquilo. Num primeiro momento, ele parece um pouco arrastado. No entanto, quando se começa a perceber as propostas reflexivas trazidas em quase todos os diálogos, ele vai se tornando difícil, pelos apontamentos que faz sobre nossas dificuldades enquanto pessoas. Quando Jep, por exemplo, se vira para a arrogância de sua amiga e aponta todas as suas fragilidades, que ela talvez nem soubesse que possuía, ele está falando tudo aquilo pra nós também. Nossos medos que muitas vezes recusamos a, pelo menos, aceitar que temos. Nossos fantasmas que estão bem a nossa frente e temos tanto medo de enxergá-los que chegamos ao ponto de, por vezes, não vê-los como fantasmas ou, até mesmo, achá-los bonitos. Jep é um homem totalmente consciente do vazio que sua vida representa. Mas, no entanto, ele prefere viver com essa consciência, optando por não se auto enganar e optando também por não se incomodar com isso. Ele vive. Ele somente vive.
Na minha humilde opinião, por mais interessante que sejam as propostas reflexivas do filme, os vencedores do Oscar de melhor filme estrangeiro anteriores a ele eram melhores. Eram melhores porque aliavam a qualidade técnica do filme a uma história interessante, com momentos de grande empolgação e surpresa. "A grande beleza" é um pouco chato, monótono. Acaba que a única coisa de bom com a qual saímos do cinema é a sensação de que temos muito mais a pensar sobre a vida do que imaginamos. Mas enquanto diversão, aspecto muito importante nas produções cinematográficas, isso ele oferece pouco.
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Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.
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