Como não amar "Walt nos bastidores de Mary Poppins"? Como?
Walt Disney e eu (humildemente) compartilhamos um gosto: a música preferida, "Feed the birds", do filme "Mary Poppins". Foi a música tocada em seu funeral, vinda de um filme mais que especial para ele. Filmar "Mary Poppins" foi um sonho realizado por Disney e uma promessa que ele fez às filhas. É com a vencedora de melhor canção do Oscar 1964, "Chim Chim Cher-ee", que a Disney decidiu abrir e fechar "Walt nos bastidores de Mary Poppins" (que em seu original recebeu o título "Saving Mr. Banks", nome que ao longo da história se faz explicar, mas que talvez teria pouca força atraente se fosse traduzido ao "pé da letra" por aqui – coisa que, aliás, em regra, não se faz no Brasil).
O filme conta o desenrolar da aprovação do roteiro do filme "Mary Poppins" pela autora do livro, famoso na literatura inglesa da primeira metade do século passado, de mesmo título, da escritora australiana P.L. Travers (pseudônimo adotado por Hellen Goff). Após 20 anos insistindo com a escritora, Walt finalmente consegue que ela se disponha a analisar a possibilidade de lhe ceder os direitos autorais para que um filme da história seja feito. Travers, ao longo da trama, se mostra uma mulher muito ranzinza, cheia de manias e pouquíssimo disposta a ceder em suas convicções. No entanto, ao mesmo tempo em que as diversas possiblidades de adaptações de seu livro para o cinema vão lhe sendo apresentadas, ela se vê relembrando seu passado, em especial sua infância e sua forte relação com o pai, Travers Goff.
Apesar de eu achar difícil encontrar uma pessoa adulta que ainda não tenha assistido a "Mary Poppins", é possível que haja. Se houver, assista, é lindo! E, se não assistiu, é melhor ver antes de ir a "Walt nos bastidores de Mary Poppins". Porque uma das maiores emoções do filme é justamente ir lembrando das coisas que vão sendo mostradas à escritora. Quem não se recorda do "Supercalifragilisticexpialidocious"? Aliás, só de lembrar a música já gruda na cabeça! Ou da cena de Mary chegando das nuvens com um guarda-chuva? Sua bolsa que cabiam coisas inimagináveis? O óleo de rícino com gosto de abacaxi? "Mary Poppins" mexia com nossos sonhos e com nossas percepções de possível quando crianças, mas ainda nos emociona quando adultos, porque sua mensagem é linda e humana.
"Walt nos bastidores de Mary Poppins" conta, além desse enorme potencial emotivo, com as participações de Emma Thompson, no papel principal, e Tom Hanks no papel do próprio Disney. Emma e Tom dão muita conta do recado em tudo que fazem, e não foi diferente no filme. Aliás, se Amy Adams conseguiu ser indicada ao Oscar por "Trapaça", me estranha muito Emma não ter conseguido. Seu trabalho é BEM melhor!
Eu tenho uma crítica já um tanto antiga quanto a Walt Disney e os filmes da Disney, em especial os infantis e infanto-juvenis, que é a forma como as mulheres são colocadas, iniciando-se uma mudança de postura no atual "Frozen". As mulheres, nos desenhos, eram moças que, basicamente, deviam ficar à espera de um príncipe que as salvasse de uma vida que não fazia sentido até sua chegada. O príncipe não precisava ser nada, só bonito e rico. A mulher só precisava ser bonita, passiva, meiga e submissa. Mais propagador de uma sociedade machista, impossível. No entanto, existe algo que é inegável com relação ao estúdio: eles são bons! No que diz respeito à qualidade técnica, a Disney sempre foi impecável. A cada filme pode-se notar o primor do trabalho, a beleza, o encanto. Tanto que quando foi dito para P.L. Travers que os pinguins seriam animação, ela se irrita e abandona os trabalhos, pois provavelmente ela não conseguia vislumbrar animação misturada com os atores reais. Isso, nos dias de hoje, pode parecer bobagem, mas em 1964 foi inovador!
Infelizmente, existe um defeitinho a ser ressaltado. A Disney, empresária que é, não faria um filme contando uma história de maneira bem feita e pronto. Tem que colocar um salzinho para atrair público. E isso ela fez usando boas pitadas de melodrama. Alguns diálogos entre Travers e Disney (que, de acordo com o longa, gostava de ser chamado de "Walt", somente), entre Travers e seu motorista, se dão claramente para "fazer o público chorar". E isso, inevitavelmente, tem força atrativa e popular. Na minha opinião, não era necessário. A emoção é inerente a um filme que fala sobre "Mary Poppins", que marcou a história do cinema e provavelmente a infância de muita gente (a minha, com certeza, tendo-o inclusive como dos meus filmes favoritos). Dá uma nostalgia muito gostosa assistir.
Julie Andrews, vencedora do Oscar 1964 de melhor atriz por sua atuação histórica e brilhante no filme, conta que, ao ser vista por P. L. Travers e apresentada como a atriz que faria a Mary Poppins, foi aprovada pois, de acordo com ela, "tinha o nariz certo". Julie realmente é dona de um dos narizes mais cinematográficos da história do cinema, e ela fala sobre a escritora como sendo uma mulher muito rígida. E, em "Walt nos bastidores de Mary Poppins" a gente percebe isso. No entanto, ele humaniza a escritora e conta somente para o telespectador seus porquês, como as coisas se deram em sua vida para ela chegar como chegou até então.
Permita-se entender um pouco mais sobre um dos filmes mais encantadores que a Disney já produziu. Recordar Dick Van Dike dançando com os limpadores de chaminés nos telhados. Permita-se sentar na poltrona, ao som de "Chim Chim Cher-ee" e voltar no tempo ali!
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Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.
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