2/04/2014
Sobre "Entre nós"
Quando o personagem de Carolina Dieckmann pergunta para Felipe, personagem de Caio Blat, "Que tipo de homem você é?", "Que tipo de pessoa você é?", ela está fazendo essa pergunta para nós, que estamos diante deles, na plateia do cinema. Isso torna o filme, enquanto uma história que está sendo contada, válido. Afinal de contas, que tipo de pessoas somos? O que somos capazes de fazer para atingir um objetivo? Por menor ou maior que seja, o que somos capazes de fazer para conseguir o que queremos? A resposta a essa pergunta diz muito sobre nós. Diz sobre o essencial. Diz sobre a essência.
Jovens amigos se reúnem na casa de campo de Silvana (Maria Ribeiro) e decidem escrever, cada um, uma carta para si próprio, que seria aberta dez anos depois. E, após esse período, eles se reencontram, com as mudanças naturais que o tempo possibilita. E com os pesos que o tempo traz.
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"Entre nós" é um filme que na maior parte do tempo é agradável de assistir. É um filme relativamente curto, se comparado à maioria dos longas-metragens. Mas, mesmo assim, consegue ter uma considerável parte de sua duração bem arrastada. É que, apesar de um trabalho de direção muito inteligente, em especial o jogo de câmera, o principal ponto do roteiro do filme se esgotou muito rápido. Isso porque ele aposta muito no segredo de Felipe. No entanto, para que esse segredo tivesse uma função mais interessante, que no meu humilde entender seria uma revelação progressiva desse segredo, de forma que o desenrolar de sua revelação tivesse uma função de amadurecimento do público, numa ideia de começo e fim, o fato é que, desde o acidente do amigo Rafa, já fica "na cara" o que vai acontecer. Seria infinitamente mais divertido, e rico, se nós, enquanto público, só conseguíssemos perceber o que realmente se deu na vida de Felipe, junto com a esposa Lúcia (Dieckmann), para que pudéssemos fazer a pergunta junto com ela, e talvez até mesmo refletir junto com ele. Mas não. Desde o começo se sabe o que vai acontecer, então parece que o filme começa a "enrolar", porque as histórias dos demais amigos não são atrativas. Nem um pouco. Outra coisa que prejudica o filme é que eu não consegui ver na Silvana (Maria Ribeiro) a importância que ela parece ter, mas meio que sem ter. Deveriam ter focado um pouco mais nela, pro final do filme ter sido mais coerente. O filme propõe-se, claramente, ser intenso, mas a gente fica ali, pensando que todo aquele clima parece tão desnecessário. Como se não houvesse sentido em tudo aquilo e fosse verificado ali uma barra sendo forçada.
"Entre nós" não é um filme ruim. Tem Caio Blat no elenco, que é um excelente ator (e parece que tem um contrato com a Globo filmes de estar em todos os filmes da produtora, porque ele está em todos, caramba!). Carolina Dieckmann dando seu toque de beleza. O atual Júlio Andrade sendo mal aproveitado. E Maria Ribeiro que é a "senhora só faço filmes". Paulo Morelli mostra um trabalho de direção simples e bom, havendo, no entanto, pouca preocupação com a questão da história mesmo. É bom. No máximo, bom.
Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.
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