Victor Bitarello Victor Bitarello 28/05/2014

"Edukators" e o astro alemão Daniel Brühl

colunaO cinema dos Estados Unidos, sem dúvida o país que mais produz filmes no mundo, muitas vezes traz atores não americanos em suas produções. Possivelmente, uma das razões para isso acontecer é o fato de que, caso um ator, de outra nacionalidade, tenha seu rosto no cartaz de um filme, isso tende a ter mais força de atração de público, quando esse filme for exibido no país natal daquele artista.

Pode-se citar nomes como Javier Barden, Antonio Banderas, Eva Mendes e, por que não dizer, Rodrigo Santoro. E é possível também citar o nome de Daniel Brühl, o ator alemão (nascido na Espanha) protagonista do também alemão "Edukators", e que atuou já em outras produções não alemãs, como no excelente "Bastardos inglórios", de Quentin Tarantino, "Rush", "E se vivêssemos todos juntos?", "O ultimato Bourne". Parece que ele vende bem. Quando vi a foto de Daniel na capa do DVD, isso me chamou a atenção a ponto de ler a sinopse e me interessar por assistir ao longa. O rapaz é muito bom e muito carismático. E, sem dúvida, por se tratar do personagem com participação mais enfática, a gente ouve a proposta do roteiro com muito mais atenção. É lindo ver seu personagem defendendo ideais tão humanos com tanta veemência. Se o diretor (ou produtor) que o escolheu queria alguém que transmitisse bem sua proposta, conseguiu. Não é atoa que "Edukators" se tornou um filme premiado.

"Edukators" conta a história de dois amigos que invadiam casas de pessoas muito ricas, desarrumavam seus móveis e deixavam a seguinte mensagem: "Seus dias de fartura estão acabando". Visavam, com isso, tirar daquelas pessoas a segurança que acreditavam ter pelo fato de poderem pagar por essa segurança. Acreditavam também que, com isso, eles estavam protestando contra as injustiças sociais, em especial a má divisão das riquezas. Quando um dos dois, Peter (Stipe Erceg), viaja para Barcelona, sua namorada, Jule (Julia Jentsch), acaba participando de uma dessas aventuras com o amigo de Peter, Jan (Daniel), e os dois acabam se apaixonando. No entanto, um descuido de Jule fará com que a vida dos três mude radicalmente.

Verifica-se em "Edukators" um ótimo nível de trabalho dos atores e um ótimo nível do trabalho de direção. A fotografia do filme é linda e a realidade de uma série de cenas (algo como uma filmagem caseira), torna o filme muito próximo da gente. São pontos altos do longa. Para um público de língua não alemã, observar as discussões é interessante, porque é um idioma muito diferente do que estamos acostumados, acaba sendo pitoresco. A cena inicial de Jule protestando contra o trabalho infantil na Indonésia, e a cena de Jan argumentando com o Sr. Hardenberg sobre as incontáveis mazelas do capitalismo são muito enriquecedoras. Penso que não custa nada o público sair de um cinema com um pouco de ideias para discutir sobre questões que, muitas vezes (muitas mesmo), não são expostas pelas mídias de massa daquela forma, ficando restritas às discussões acadêmicas ou a quem as busque na internet ou em revistas específicas. "Edukators" se propõe a perguntar às pessoas: por que existe tanta aceitação social das diferenças sociais? Por que existe tanta aceitação da exploração de pessoas e da pobreza? Por que é tão socialmente legítima a ideia de tão poucos terem muito e muitos terem tão pouco? Nunca é demais pensar sobre isso e, sem dúvida, nunca é demais pensar em como é possível mudar isso.

No entanto, essa mensagem de Edukators, apesar das boas atuações e do bom trabalho de direção, é basicamente o que o filme tem de bom. Seu roteiro, no "grosso", é aborrecido e chato. Beira o monótono.

Para a boa divulgação do trabalho, o uso de um grande ator como Daniel Brühl ajudou, mas não foi o suficiente para tornar o filme agradável. No entanto, no que concerne a uma proposta crítica, isso ele traz muito bem. E muito claramente também. Não é necessário subentender as ideias.


Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.

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