Baixista vê na música oportunidade de transformar pessoasLuiz Fernando Palavrinha apoia-se em uma carreira de quase 50 anos e tenta levar música a adolescentes infratores de Juiz de Fora
Repórter
9/12/2011
"A minha contribuição para melhorar e mudar o mundo pode ser dada por meio da música, que é, sim, um importante instrumento de transformação." As palavras são do baixista e violonista Luiz Fernando, mais conhecido como Palavrinha. Nascido em Leopoldina, o músico veio para Juiz de Fora, onde mora até hoje, antes de completar um ano de idade.
A afirmativa a respeito da música é traduzida em ideias pela intenção de desenvolver um trabalho com os internos do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora. "Já apresentei, por duas vezes, um projeto de ensino de música, destinado a 70 adolescentes infratores à Funalfa [Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage], mas a proposta não foi aprovada, sob a alegação de que seria muito extensa para ser trabalhada em pouco tempo, oito meses de curso. Além disso, uma das explicações para a negativa foi de que o custo era muito baixo. Se o custo é alto, falam em superfaturamento. Não dá para entender essa dinâmica."
Ainda assim, Palavrinha garante não ter desistido da intenção de dar aulas de música a jovens que cometeram infrações. "Infelizmente, em Juiz de Fora, as pessoas parecem não acreditar que o conserto, com 's', é possível. Mas eu vejo a música como forma de inclusão e quero adequar o projeto e reapresentá-lo."
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Combinação ao violão
Palavrinha, que tem, hoje, 53 anos de idade, não nasceu em uma família de músicos, mas, ainda assim, teve seu primeiro contato com a música ainda criança. "Aos seis anos de idade, uma das minhas irmãs tinha um namorado de São Paulo, que veio à cidade com seu violão. Certa vez, eu peguei o instrumento e acabei fazendo uma combinação interessante, que o fazia pensar que eu já tinha tocado violão antes."
Ele conta que sempre teve interesse pela música, tirando as notas musicais apenas ouvindo. "Pegava instrumentos emprestados com um vizinho e tirava notas. Contato teórico mesmo, só tive mais tarde, por volta dos anos 70. Foi nessa época que ingressei no Conservatório Brasileiro de Música, que tinha uma filial em Juiz de Fora." Ele é baixista desde os treze anos e contrabaixista desde os quinze. Desde 1978, Palavrinha dá aula de contrabaixo, violão, além de teoria da música e harmonia.
Local e nacional
Ao longo de sua trajetória musical, Palavrinha esteve ao lado, como base sonora, de artistas como Nelson Gonçalves, Celly Campelo, Jair Rodrigues, Jamelão, Elimar Santos, entre outros. "Foram muitas viagens. Os convites surgiam quando eu estava em cidades onde os artistas iam se apresentar ou quando eles estavam em Juiz de Fora e os produtores locais me chamavam para acompanhar. Quanto a gravações, acabei participando de produções de muita gente, já que trabalhei em um estúdio no Rio de Janeiro."
Entre os nomes locais que contaram com a participação de Palavrinha estão Joãozinho do Percussão, Márcio Itaboray, Sérgio Evangelista, Goyaná, Afrânio Costa, Toninho Oliveira, entre outros. "Já integrei bandas de jazz, nos anos 90, e participei de diversas apresentações em bairros da cidade." Um dos trabalhos mais recentes do músico foi a participação na gravação do DVD comemorativo aos 70 anos de Joãozinho da Percussão, em 2009, no Cine-Theatro Central.
Outro trabalho de Palavrinha foi o acompanhamento de 30 artistas durante o show comemorativo aos 30 anos da Funalfa, em 2008. Teve, ainda, um CD de Adilson Santos, produzido pela Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura, e a participação em cinco CDs do músico Dall. Apesar de fazer parte da base que compõe o espetáculo, mesmo quando está na banda de apoio de um artista renomado ou não, o músico demonstra simplicidade ao ser questionado sobre os registros fotográficos de tempos atrás. "Não gostava muito de fotos, por isso, não tenho registro de fotos ao lado de grandes artistas."
Premiado em festivais
Palavrinha conquistou prêmios em concursos de música realizados nas cidades de Juiz de Fora e Goianá, além de ter recebido o Prêmio Revelação Nacional durante o Vitória Jazz Festival, realizado em Vitória (ES) em 1990.
Desânimo
O músico, que tocou em casas famosas nos anos 80 e 90, como Dream's, Raffa's, Senzala, entre outras, afirma estar desanimado quando o assunto é música ao vivo. "Couvert não é trabalho. Infelizmente o reconhecimento financeiro de um músico só ocorre se em um bar ou casa noturna houver clientes, ou seja, a remuneração está condicionada. Mas o músico não tem obrigação de levar o público ao local. Isso depende, sim, da boa música, mas de outros fatores também, como atendimento por exemplo."
Questionado sobre o investimento em música em Juiz de Fora, Palavrinha afirma que o que é feito está muito longe do ideal. "Mais recentemente, temos percebido uma movimentação, tanto por parte de quem trabalha com música quanto com relação às leis de incentivo."
Fotos: Arquivo pessoal: Luiz Fernando "Palavrinha"
Os textos são revisados por Thaísa Hosken
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