Ícone do samba em JF: Sandra Portella conta a sua história
Com 14 anos de carreira, a juiz-forana que cresceu no meio do samba, já passou por diversos estilos musicais e se prepara para a carreira nacional
Repórter
24/08/2013
Filha de Dona Lecy Delgado e Valdir Delgado (Guida Tirote), fã de Clara Nunes e Alcione, dona de uma voz magistral. Isso é um pouco da cantora Sandra Portella, juiz-forana de nascimento e de coração, que começa a traçar os primeiros passos no cenário do samba nacional. Com 14 anos de carreira e muita história para contar, Sandra concedeu uma entrevista ao Portal ACESSA.com, inaugurando um novo projeto do site, que trará toda semana o perfil de uma personalidade local.
Tendo a persistência como uma das principais marcas de sua carreira, Sandra resume sua trajetória com estas palavras. “Nada cai do céu. Cheguei até aqui depois de muita luta e de uma caminhada muito difícil. Mas tenho plena convicção que isso tudo foi importante para a minha carreira e, hoje, vejo que tudo que vivi é muito gratificante.”
A juiz-forana, que sempre residiu na região Leste da cidade, dividiu sua vida entre os bairros Vila Olavo Costa, Furtado de Menezes e Vila Ozanan. “Sou do morro de Juiz de Fora, onde o samba está muito presente. E isto me deixa muito orgulhosa.”
A família
Sandra nasceu no samba e tem este estilo musical correndo nas veias. A mãe Lecy Delgado, conhecida como Dona Lecy do Samba, prestes a completar 70 anos ainda se arrisca pelo mundo das composições. O pai Valdir Delgado (já falecido), carioca da gema, foi um dos principais compositores da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense na década de 1960. “Minha base de formação de sambista devo a meu pai e, claro, principalmente a minha mãe, que foi quem me criou e me passou os valores, a cultura do samba. Cresci ouvindo minha mãe cantar Clara Nunes, sambas enredo da Juventude Imperial. Então é muito importante para mim ser filha deles. Graças a Deus, eu tenho muito a agradecer por isso.”
Além dos pais, a família de Sandra ainda conta com outros cantores e compositores. “Falo que minha família é musical. Tenho uma tia que canta na igreja e um tio, já falecido, que era compositor. Inclusive, duas músicas do meu CD Samba no Morro (confira o vídeo), são de composição da minha mãe, com este meu tio.”
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O início
Crescer em uma família musical, fez com que Sandra tomasse gosto pela música desde a infância. E, como ela revela, a música a acompanha por toda parte. “Sempre gostei de cantar, pois a música sempre alegrou minha alma. Quando tinha 18 anos comecei a trabalhar em um supermercado de Juiz de Fora. Um dia estava no vestuário e comecei a cantar, foi quando um funcionário, o Joel Oliveira – que também é cantor lírico – estava perto e me ouviu. Ele então me procurou e disse que ficou encantado com minha voz e que eu tinha muito talento.”
De fã, Joel passou a produtor e incentivou Sandra a gravar uma música e encaminhar para um concurso de calouros que havia na época. “O Domingão do Faustão estava com o Concurso de Novos Talentos. O Joel me levou para o estúdio, arrumou um tecladista e mandamos a mídia. Até hoje eu tenho o CD. Cantei a música Não deixe o samba morrer, da Alcione. Mas como não tínhamos muito recurso e minha voz não estava trabalhada, nem fui selecionada.”
Mesmo com o primeiro obstáculo de sua carreira, Sandra não desistiu. “Digo que mesmo com a recusa, este foi o primeiro passo da minha carreira, pois o dono do estúdio, o Chafic, ficou louco com a minha voz e disse que eu tinha potencial. Ele me apresentou um amigo dele, o Fabrício, que resolveu investir na minha carreira. Eles gostaram, tanto é que já comecei como se fosse uma estrela. Me levaram para o cabeleireiro, compraram roupas e me deram uma banda.”
A carreira
Sambista por criação e amor, Sandra já passou por diversos estilos musicais, começando pelo country. “O ano era 1999 e o forró de bandas como Matruz com Leite e Magníficos estava em alta. Então resolvemos investir e deu muito certo.” Mas a personalidade inquieta de Sandra fez com que ela realizasse dois trabalhos simultaneamente. “Naquele tempo eu também cantava MPB, na rua do Bahamas 24 horas. Sempre fui assim, fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo.”
Depois de um tempo, a artista foi convidada para integrar o grupo Angu de Caroço, cujo repertório era formado por forró de raiz. “Foi uma experiência maravilhosa que vivi. Tínhamos uma agenda intensa, com muitas viagens e shows. Mas, de repente, aquele estilo não agradava mais a mídia e foi decaindo.”Até que em um Carnaval, Sandra recebeu outro convite inusitado, agora para integrar a uma banda de baile. “O forró de raiz já estava em baixa e no Carnaval aquele estilo não tocava mesmo. Foi quando recebi um convite para integrar a Banda Realce, outra grande escola por onde passei.” Na Banda Realce foram oito anos de carreira, compartilhados com shows de jazz e samba. “Sempre estava me apresentando com grandes nomes da música, como Joãozinho da Percussão e Mauro Continentino. Mas depois os shows de samba foram ficando mais intensos e resolvi largar a Realce em 2011, para me dedicar exclusivamente ao samba.”
Exclusividade que cativou algumas casas de Juiz de Fora, como o Café Muzik, onde Sandra realiza apresentações quase todas as quartas-feiras há oito anos. “É bom demais fazer os shows no Muzik e sinto falta quando eu não posso ir, apesar de ser raro a minha ausência. E depois de tanto tempo, saber que o Muzik virou uma referência de samba na cidade, me deixa muito orgulhosa.”
Atualmente, a cantora realiza apresentações semanais em outra casa de shows da cidade. “No último sábado (17 de agosto) o Clube de Tênis Dom Pedro II inaugurou o projeto Confraria do Samba. Lá eu divido o palco com os grupos Virtude e Glicose. Tivemos uma receptividade muito boa e espero que o projeto se prolongue.”
A carreira nacional
Sandra acaba de assinar um contrato com a GM Produções, que pretende introduzir a sambista no cenário nacional. “Eles acreditam na minha competência e estão apostando em mim. Em um momento que eu mesma achava que não ia mais conseguir. Depois de tanta luta, 14 anos de trabalho, achei que não encontraria mais alguém que iria querer apostar na minha carreira e me oferecer toda a estrutura necessária para trabalhar.”
Um dos primeiros passos da produtora é introduzir a juiz-forana em programas de rede nacional, como o Encontro com Fátima Bernardes, onde Sandra esteve na última terça-feira, 20 de agosto. “Ainda não consigo acreditar que estive lá, em um programa ao vivo de rede nacional.” Espanto que foi recíproco, como revela a sambista de Juiz de Fora. “A Fátima Bernardes é uma pessoa maravilhosa em todos os sentidos. Ela perguntou se era a primeira vez que eu participava de um programa de rede nacional. Percebi que ela sentiu que eu estava me descobrindo. Que ela se sentia a minha madrinha, quando ela afirmou: "Estou descobrindo um talento.”
Samba e carnaval
Com influências de Clara Nunes, Alcione, Elza Soares, Marisa Monte e Jovelina da Pérola Negra a artista não resume sua carreira apenas aos palcos, mas também já realizou grandes performances na passarela do samba. “Fui intérprete e campeã pela Unidos do Ladeira. Pela Mocidade do Progresso, eu ganhei o troféu Pandeiro de Ouro. Sempre gosto de estar atuante no Carnaval, inclusive na Juventude, pois foi lá que tive a honra de cantar ao lado da Alcione, quando ela foi homenageada pela escola.”
Sobre o samba, Sandra acredita que este estilo musical está em alta no país, devido aos grandes eventos que estão prestes a acontecer. “Com a proximidade da Copa do Mundo e como o samba e futebol são muito ligados, este estilo está em evidência.” Mas o cenário de Juiz de Fora não parece tão promissor para Sandra. “Sempre digo que eu, juntamente com os sambistas que atuam na cidade, estamos lutando para não deixar a peteca cair. Os problemas são muitos como o cachê baixo e as poucas casas. Mas, apesar de tudo, temos o orgulho de estarmos lutando pelo samba de raiz em Juiz de Fora.”
O nome
Como boa sambista, Sandra traz nome de uma importante escola de samba, mas ela revela que essa paixão não vem de berço. “Minha escola de samba em Juiz de Fora é a Juventude Imperial. E a Mocidade Independente, do Rio de Janeiro, era a madrinha da Juventude Imperial, então eu era Mocidade. Mas tinha uma amiga que trabalhava comigo no supermercado e ficava falando: 'Você é uma mulata igual a da Portela. Você tem que ser da Portela.' E confesso que sentia raiva, pois era Mocidade. Até que um dia uma amiga fez uma excursão para a quadra da Portela e foi paixão a primeira vista. Lembro da porta-bandeira e do mestre-sala nos recebendo. Lembro de um grupo de samba no palco. Recordo direitinho como se fosse hoje. Então me apaixonei pela escola, pela história da escola, pelos baluartes da escola e acabei sentindo prazer em ter o Portela no nome, o que acabou ficando.”
Projetos
Sandra juntamente com Fernando Barreto acaba de produzir o CD Samba do Morro, com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura Murilo Mendes. O primeiro trabalho com quatro músicas autorais: A Lua, Lamento, Vamos Zoar e Zé Trapaça, esta última em parceria com o amigo Paulinho Jalon. A artista revela que contou com o apoio de muitas pessoas para a concretização do projeto. “A lei ajuda muito, mas não cobre todos os custos. Por exemplo, um CD de qualidade no Rio de Janeiro não fica por menos de R$ 50 mil. Aqui nós temos que fazer com R$ 18 mil, R$ 19 mil, no máximo. É uma loucura. Tem que apertar daqui, apertar dali. É muita gente participando, muita gente se doando, porque não podemos pagar todo mundo.”
Apesar do lançamento ocorrer apenas no final do ano, Sandra já começou a colher os frutos. “O CD tem a minha cara. Achei que ficou bom e a crítica tem sido generosa.”
A sambista agora começa um intenso trabalho em todas as regiões do Brasil, com o objetivo de divulgar a música, e com a pretensão de realizar um sonho. “Tenho muita vontade de trabalhar em uma casa de samba do Rio de Janeiro ou de São Paulo, cidades onde o samba é muito marcante.”
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