Grupo Divulgação completa 44 anos de muita história Nascido no período de ditadura, o grupo teatral atravessou décadas sem perder o caráter crítico e imediatista em suas peças
Repórter
7/7/2010
Um grupo formado por estudantes de Jornalismo, com senso crítico apurado e a necessidade de viver algo além do que era oferecido pela faculdade. O Grupo Divulgação transcendeu décadas contando estórias e histórias, enfrentando desafios e criticando o que havia de errado na política e na sociedade.
O professor e diretor do Centro de Estudos Teatrais Grupo Divulgação, José Luiz Ribeiro, lembra que a data de comemoração do aniversário do grupo é 7 de julho, quando foi apresentado o primeiro espetáculo, Amor em verso e canção, porém, antes disso, reuniões já eram realizadas aos sábados, quando eram feitas as as leituras de peças e poesias.
José Luiz contou que, no início, o grupo recebeu muitos convites para as semanas temáticas das faculdades da área de humanas, como Semana de História Antiga, dentre outras. Com isso, foram montadas peças diferentes dentro de cada tema abordado. "Daí por diante não paramos mais. Muita coisa se passou e muitos projetos foram criados", afirma.
Questionado sobre as dificuldades enfrentadas pelo grupo no início dos trabalhos, em comparação com as atuais, o diretor de teatro afirma que elas são bem parecidas, porém, antes os jovens lutavam pelos seus ideais com mais vigor. "Hoje o jovem universitário que participa do grupo fica no máximo um ano com a gente, não dando continuidade." Um outro ponto abordado é a questão cultural. "Deixamos de ter uma política cultural para ter uma política de eventos", explica José Luiz, ressaltando que as peças que ficam em cartaz por mais tempo, como no Forum da Cultura, não recebem a mesma atenção do público.
José Luiz ressalta ainda algumas dificuldades na época da ditadura, como o episódio em que a peça Diário de um louco foi cancelada na hora da estreia. Ou, na década de 90, quando houve o Plano Collor, que confiscou as poupanças, fazendo o grupo passar po dificuldades financeiras. "O lado bom foi que a partir daí criamos o espatáculo Era sempre 1º de abril, onde contávamos a história do presidente Collor de forma bem crítica e satírica", relembra.
Segundo Ribeiro, a luta para sobreviver é grande e diária. Ele destaca que até hoje faz a distribuição de panfletos nas ruas e instituições, na tentativa de promover o teatro. O diretor lembra que o grupo não recebe verbas de leis de incentivo nem tem patrocinadores, ficando os custos por conta da ligação a um projeto de extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). "Matamos um leão por dia batalhando público."
Ao todo, ao longo dos 44 anos do grupo, são mais de 150 peças encenadas. Algumas com um gosto especial, que trazem lembranças de épocas marcantes. Ribeiro cita algumas, como: Pequenos Burgueses, uma peça de Federico García Lorca, encenada na época da ditadura; Príncipe Rufião, que conta a história de Fernando Henrique Cardoso; Escada de Jacó, que foi premiada, colocando o grupo entre os dez melhores do eixo Rio-São Paulo. "Fica difícil escolher uma que tenha marcado mais, são tantos filhos. Tenho orgulho de todos."
Cursos
O aluno que passa pelo Grupo Divulgação se torna um artista completo, visto que durante os cursos aprende-se muito mais do que artes cênicas. "O ator aprende a construir seu figurino e até mesmo o cenário. Preparamos para a vida", afirma.
Atualmente o grupo trabalha com alguns projetos, como um curso voltado para universitários e outro para adolescentes, o seminário Caminhos do Teatro, o Núcleo de Cenografia e o Workshop de Interpretação para a Terceira Idade.
Sobre o workshop, o diretor afirma que a equipe que o compõe é a mais empolgada entre todas. "Elas raramente estão de mau-humor, além de terem muita disposição. Há muita cumplicidade e solidariedade." O curso tem duração de um ano, porém Ribeiro conta que os idosos acabam se interessando e se inscrevem novamente.
Exposição
Em homenagem a esta trajetória do grupo, a Galeria de Arte do Forum da Cultura exibe a exposição GD 44, uma reunião de fotografias, figurinos e máscaras que registram a história da companhia. As visitas podem ser realizadas de segunda a sexta-feira, de 14h às 18h30. A entrada é franca.
A composição da mostra é eclética e divide parte do acervo do grupo, evidenciando quatro vertentes. A primeira é a de registro de espetáculos. Nela estão contidas fotos em preto e branco, de peças antigas.
A segunda vertente se concentra na ideologia do grupo e se centraliza em um quadro do patrono da companhia, Federico García Lorca, poeta e dramaturgo espanhol morto na guerra civil da Espanha em defesa de seus ideais republicanos. Sua obra é uma metáfora da repressiva sociedade espanhola dos anos 20 e 30 do século XX e inspiradora para o Divulgação, que tem por principal característica um teatro voltado para o povo.
Já em um terceiro momento, a exposição destaca os núcleos produzidos pelo Grupo Divulgação. Há quatro murais de fotografias coloridas, cada um retratando um segmento do teatro pertencente a esses 44 anos. Os quadros possuem fotografias de peças adultas, peças infantis, dos núcleos da terceira idade e adolescentes, que juntos compõem o GD e o que ele representa para a cidade. A quarta e última parte da mostra enfatiza a face da produção teatral.
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