Aos Berros conta a história do movimento punk em JFDocumentário resgata a realização dos festivais de rock na cidade e traz entrevistas com personagens que marcaram a década de 1980 em Juiz de Fora

Clecius Campos
Repórter
22/5/2010

Três anos da década de 1980 marcaram a história de Juiz de Fora, com a realização do Festival de Rock. Em 1983, 1985 e 1986, os eventos fizeram da cidade ponto de encontro da cultura punk, que passava por seu período hardcore, logo após o advento da new wave.

"O que houve foi um boom em função do contexto histórico que o país vivia. Mesmo com o pior instrumento, o pior equipamento e com a falta de habilidade, os jovens queriam fazer música. Então, seguiam a máxima do faça você mesmo. Neste contexto, Juiz de Fora participa do movimento com os festivais e os grupos de punks que se encontravam em bares. Eles subiam e desciam o Calçadão e acabavam chamando a atenção", contextualiza o estudante de História Jimmy Klaus.

Sua pesquisa contribuiu para desenvolver o documentário Aos Berros, dirigido pelo aluno de Comunicação Social Davi Ferreira. O trabalho começou como uma monografia interdisciplinar, que incorporou ainda a experiência da aluna de Especialização em TV, Cinema e Mídias Digitais e co-diretora, Aline Freitas. "Há um vácuo na história da cidade relativo ao movimento punk. Aliar essa pesquisa à produção de um documentário foi o que mais nos motivou", afirma Ferreira. O filme pré-estreia no próximo sábado, 29 de maio, às 20h, na Videoteca do Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. O evento integra a programação do Corredor Cultural.

A produção

Uma série de entrevistas preliminares norteou o trabalho do grupo. Renato Resende (Rato), integrante da primeira banda punk da cidade, a Força Desarmada, foi o ponto de partida para o resgate dessa história. Foi ele quem mencionou a existência do Festival de Rock, o que levou o grupo ao seu idealizador e produtor, Marcos Petrillo. "Ele localizou bem o que havia acontecido naquela época e nos direcionou para as pessoas com quem poderíamos conversar. Foi com ele que tivemos a ideia da importância do movimento punk em Juiz de Fora e toda a repercussão que causou", conta Aline.

A partir daí, personagens foram surgindo para rechear a produção, que levou um ano e sete meses para ficar pronta. "Quando procuramos essas pessoas, elas se mostraram interessadas. Queriam que as pessoas conhecessem essa história", diz Klaus.

Foto da produção Foto da produção

Chico Amieiro, Eduardo Barbosa, Virginia Guidon, Michel Heluey, Júlio Pinto, Adriano Policeni, Renato Rezende, Érica Senra, Fernanda Tabet e Aécio Silva estão entre os que concederam mais que palavras. O último, conhecido na época como Tenente Laranja, foi peça fundamental para o descobrimento de mais detalhes do movimento punk.

"O Tenente nos abriu seu arquivo de fotos e mostrou os mais de três mil discos de rock e de punk de sua coleção. Na época, o Laranja morava fora do país e lá comprava todas as novidades do punk. Ele mandava os LPs para Juiz de Fora e os mantinha com um grande amigo, que discotecava em um bar no prédio do DCE [Diretório Central dos Estudantes], chamado Zona Livre. O local virou uma referência, talvez nacional, de vanguarda da música punk e do hardcore."

Registros da época e sons

Além das histórias, diversos registros foram aproveitados no documentário, que tem 49 minutos de duração. São arquivos de fotos e vídeos cedidos por Petrillo, imagens da banda Inimigos do Ritmo (IDR), viabilizadas por Rato, arquivos de jornais pesquisados na Biblioteca Municipal Murilo Mendes (BMMM), além de um ensaio fotográfico realizado na época pelo fotojornalista, Humberto Nicoline. Uma sequência de imagens do cineasta Arthur Lobato, feitas para um documentário nunca finalizado, será finalmente divulgada por meio de Aos Berros. A produção usou ainda recursos de animação, com desenhos de Márcio Heider e Pedro Paiva.

Foto antigas de punks Foto antiga de punks Foto antiga de punks

Para a trilha sonora, foram utilizados sons de diversas bandas nacionais que eram referência do punk. Grito Suburbano, Lixo Mania, Cólera e Revista Pop Apresenta o Punk estão entre grupos e álbuns utilizados. De Juiz de Fora, foram aproveitados sons de uma coletânea do IDR, um disco do Patrulha 66, doses de Jack Ninguém Kiss e canções da banda Cocktail Molotov. "Essas tiveram que ser extraídas do áudio de um documentário, já que o grupo nunca chegou a gravar um disco", lembra Ferreira.

O punk não morreu

A movimentação causada pelo punk na cidade concentrou-se no período tratado pelo documentário e, posteriormente, nos anos 90, liderados por uma nova geração. "Na ocasião, o evento mais marcante foi a invasão da Casa de Anita", lembra Klaus.

De lá para cá, apesar da baixa representatividade, Klaus acredita que o ritmo segue influenciando outras manifestações artísticas. "Muitas culturas têm traços do punk, como o emo, por exemplo, que se assemelha até visualmente. Mesmo que não esteja em voga, o punk segue levando sua marca."

Os textos são revisados por Madalena Fernandes

Foto antiga de punks
Ficha técnica

Duração: 49'17''
Ano: 2010
Direção: Davi Ferreira
Co-Direção: Jimmy Klaus e Aline Freitas
Pesquisa Histórica: Jimmy Klaus
Produção, Roteiro e Entrevistas: Aline Freitas, Davi Ferreira e Jimmy Klaus
Desenho e Storyboard: Marcio Heider e Pedro Paiva
Edição e Finalização: Davi Ferreira


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