Romance aborda a solidão do mundo moderno Terceiro livro do jornalista Juliano Nery, Um livro, um filho, uma árvore trata da identidade fragmentada do ser humano que desempenha diversos papéis
Repórter
10/8/2011
Primeiro romance do jornalista Juliano Nery, Um livro, um filho, uma árvore trata da solidão tão comum no mundo moderno. "O livro aborda a identidade fragmentada das pessoas, que acabam desempenhando vários papéis, mas, no momento das grandes decisões, se veem sozinhas", explica o autor.
A narrativa é feita em primeira pessoa, sendo que um escritor é a personagem principal do mote. Este homem, que não tem um nome no romance, vê-se às voltas durante a concepção daquela que é sua segunda publicação. "A linguagem é metalinguística, já que temos um livro que trata de outro livro."
Segundo Nery, produzir um romance representa um desafio, já que grande parte de sua obra é formada por crônicas. "Por natureza, sou um cronista." O autor lançou, em 2008, Diálogos Possíveis, um livro de prosa. No ano passado, foi a vez da obra que reúne 44 crônicas que refletem fatos jornalísticos, Deus sabe de tudo e não é dedo duro.
- Livro reúne 44 crônicas que refletem fatos jornalísticos
- Os diálogos que todos nós já tivemos... ou vamos ter
Um livro, um filho, uma árvore começou a ser escrito no verão de 2009 e foi finalizado no outono de 2010. A intenção do autor é que a obra integre uma trilogia que tem como tema a solidão. O conjunto das obras foi iniciado com Diálogos Possíveis. O romance, de 120 páginas, mantém a mesma equipe que trabalha com o autor desde seu primeiro trabalho. Amaro Baptista é o responsável pelo design das capas, Alexandra Braz pela revisão ortográfica e Clecius Campos pela diagramação. "Poder trabalhar com a mesma equipe é importante porque faz com que cresçamos juntos, o que pode melhorar o resultado a cada trabalho lançado."
Incentivo
A obra é financiada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura Murilo Mendes, tendo sido contemplada na categoria de projetos de baixo custo, que abrange destinação de até R$ 4 mil. Uma novidade é a parceria com uma editora carioca, que ficará responsável pelo lançamento da obra no Rio de Janeiro, além de cuidar das vendas e da distribuição em livrarias.
"A parceria contribui para o aumento da credibilidade e teve o aspecto positivo de aumentar a tiragem, que era de mil exemplares, para 1.200." A previsão é que o romance seja lançado na capital carioca no dia 15 de setembro. Nery destaca que há possibilidade de lançamentos em outras cidades do país.
Lançamento em JF
O lançamento do livro Um livro, um filho, uma árvore em Juiz de Fora está marcado para a próxima sexta-feira, 12 de agosto, exatamente um ano após o lançamento de Deus sabe de tudo e não é dedo duro. O evento está marcado para as 19h, no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes (Mamm). No local, os exemplares serão vendidos a R$ 20 mais um livro usado, que será doado à Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa). O lançamento contará com a apresentação dos músicos Jorge Mautner e Nelson Jacobina, no anfiteatro do Mamm.
Projetos literários
Nery destaca que vem trabalhando em dois projetos literários. "Um deles é um livro de poesias, o outro, uma produção infantil. A expectativa é de que o lançamento ocorra até o final deste ano."
Fragmento do romance
Não gostava de tomar cerveja naquela esquina. Foi-se a época em que aquilo era um programa aprazível. Aquele clima de sentar, ler o jornal, tomar um chopp e botar a conversa em dia, tornou-se algo muitas vezes estressante. O chopp e o petisco demoravam a vir. Quando chegavam, invariavelmente, o pedido saía errado e o garçom gastava mais tempo ainda para desfazer os equívocos. Sem contar a quantidade de gente que passava por ali. Alguns chegavam até a encostar suas partes pudentas nas costas e nos braços de quem estava sentado. Realmente, odiável.
Mas se havia uma coisa que muito me revoltava naquela esquina, era o sem número de pedintes que apareciam por ali. Vindo de todos os lados e com todos os dilemas, patologias, deformidades e aberrações possíveis à natureza humana, aquilo não era, definitivamente, um lugar para se relaxar. Se divertir, talvez. Principalmente para quem gostava de ver o sofrimento humano sendo exposto e vendido por míseros trocados.
Talvez eu tivesse me tornado um chato e não relevasse mais um monte de coisas que aconteciam no mundo. Talvez eu estivesse me tornando um velho. Estava chegando aos 40 anos e já tinha alguns fios brancos na cabeça. Outro dia, apareceu um até no cabelo do saco. Talvez fosse isso. Brandãozinho interrompeu os meus pensamentos.
"Viu que o Flamengo ganhou ontem? Já somos o oitavo da tabela..."
Brandão era rubro-negro e lia um suprimento esportivo do jornal.
"Grande bosta."
Brandão aproveitou para me provocar.
Fragmento retirado do livro Um livro, um filho, uma árvore de Juliano Nery
Os textos são revisados por Thaísa Hosken
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