Documentário retrata a simplicidade e as transformações da vida na Serra do Ibitipoca

Selecionado no Festival de Cinema de Paulínia, o longa é dirigido pelo juiz-forano Felipe Scaldini e ficará em cartaz em mais de 30 salas de cinema do Brasil

Nathália Carvalho
Repórter
25/8/2012
Ibitipoca Droba pra lá

O ritmo de vida das pessoas simples do campo atrelado às mudanças proporcionadas pela chegada do turismo na Serra do Ibitipoca rendeu ao diretor juiz-forano, Felipe Scaldini, a participação em um dos festivais de cinema mais aclamados do Brasil, o de Paulínia. O documentário Ibitipoca, Droba pra Lá, de 71 minutos, está sendo exibido no Espaço de Cinema Alameda e, a partir da próxima semana, estreia em mais de 30 salas de todo o país.

O projeto teve início a partir da necessidade de realizar um registro histórico das transformações vividas pelo povo que habita as redondezas de Ibitipoca, distrito de Lima Duarte, município vizinho de Juiz de Fora. "As pessoas que viviam dos hábitos tradicionais estavam morrendo e já percebíamos a grande influência do turismo na nova geração que vem se formando", expõe Scaldini. A partir daí, ele explica que os responsáveis pela Reserva do Ibitipoca perceberam a importância deste momento e, com este patrocínio inicial, o projeto saiu do papel.

As gravações foram realizadas ao longo de 40 dias, divididos nos quatro meses em que a equipe visitou as redondezas de Ibitipoca. Entre outubro de 2010 e janeiro de 2011, cerca de 30 moradores da região foram entrevistados pela produção do filme. "Escolhemos realizar as gravações ao longo de um período de tempo maior, ao invés de fazer tudo de uma vez só. Com isso, conseguimos pegar diferentes tipos de climas, com cenas de sol e de chuva, e ainda presenciamos datas comemorativas da cidade, importante para as filmagens", explica Scaldini.

A equipe era reduzida e toda composta por pessoas de Juiz de Fora. Com no máximo quatro pessoas em campo e com o apoio posterior dos patrocinadores, o filme chegou em Paulínia no ano passado. "Assim que enviamos o projeto, despretensiosamente, ele foi selecionado. Foi uma loucura! É um dos maiores festivais do Brasil e ficamos extremamente empolgados. O filme saiu em grandes jornais e foi analisado por críticos exigentes." Scaldini ressalta, ainda, a importância de ter um retorno proveniente do público especializado. "A rigidez de quem analisa os filmes nos festivais é muito grande e as críticas foram todas muito positivas. É interessante notar o olhar do outro sobre o filme, porque, muitas vezes, eles percebem coisas que você mesmo não viu", explica.

Depois da visibilidade, veio o patrocínio necessário para a exibição nas salas de cinema do país. O lançamento oficial ocorreu durante a noite da última sexta-feira, 24 de agosto. "Agora estamos na expectativa para a exibição nacional de um filme aqui da cidade. A intenção é que tanto as pessoas que gostam de visitar Ibitipoca, turistas de todo o Brasil e os próprios moradores sintam-se identificados com as histórias. Queremos mostrar para o turista que ali não é apenas um lugar para se divertir. Aquele povo tem uma história e o filme retrata essa identidade", explica.

Droba?

A estranheza causada pelo uso errado do verbo "dobrar" é justificada em cenas do filme. Propositalmente, Scaldini utilizou a maneira popular que os moradores utilizam no dia a dia e deu uma nova expressão para o longa. "Em uma das passagens, um personagem conta que foi comprar uma fazenda e, ao perguntar a respeito do limite do lugar, foi respondido que as terras 'drobavam pra lá', além das montanhas. Mas eu ainda interpreto no sentido de que Ibitipoca vai muito além daquilo que as pessoas conhecem e visitam, e é essa a nossa proposta", explica.

Um dos pontos de referência do filme é o Pico do Peão, localizado dentro do Parque Estadual de Ibitipoca e considerado o centro da região. A partir dali, surgiram os famosos "causos" das famílias que ainda vivem por lá e traçam a narrativa. "Em uma das regiões, ficamos cerca de uma semana e acabamos estabelecendo uma relação muito intensa com as pessoas que conhecemos. A gente jantava lá, na casa dos próprios entrevistados, e ficávamos admirados com a realidade de vida diferente da que estamos acostumados. Passávamos noites vendo o céu estrelado, sem energia elétrica e conversando com eles. Uma experiência de vida fantástica", completa.

Fotos: Carlos Staico

Os textos são revisados por Mariana Benicá

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