Convivendo com a diferen?a: o dilema da educa??o In?cio das aulas, volta dos dilemas. Afinal, crian?as com defici?ncia devem ou n?o freq?entar escolas regulares?
Rep?rter
31/01/2007
"A Constitui??o de 1988 garante, em seu artigo terceiro, o direito a uma sociedade livre, justa e igualit?ria, proibindo qualquer forma de preconceito"
. Foi assim, com a frase que ela mesmo classifica como "de algu?m psicologicamente cansada", que Marta Medeiros come?ou a nossa entrevista. Marta ? m?e de Simone, de seis anos - que tem dislexia em um grau avan?ado e diz estar cansada de ver a educa??o de seu pa?s ser excludente.
A filha, Simone, tem dificuldades de aprendizado de leitura e escrita, uma defici?ncia que nada tem a ver com a capacidade intelectual de
quem sofre com esse tipo de limita??o. "Minha filha s? precisa de ser estimulada, ter aten??o. E esse ? o segundo janeiro da minha vida que eu come?o a batalha pela escola certa"
.
Segundo Marta, a hist?ria ? sempre a mesma. Desde que Simone entrou na fase de alfabetiza??o, ela recorre aos col?gios da cidade, que deixam no ar uma d?vida quanto a verdadeira inten??o de dar boas-vindas ? filha dela ou n?o.
"? como se os col?gios s? preparassem vencedores. Olham as crian?as j? pensando se v?o passar no vestibular do ITA ou n?o, se eles podem ser meninos de algum outdoor que vai provar que o col?gio ? melhor"
, desafaba.
No pr?dio ao lado, mora a sua irm?. Gl?ria, que ? administradora de empresa, acabou fazendo companhia ? irm? pelo acaso do destino. A filha J?lia, de cinco anos, tem s?ndrome de down.
Ao lado da irm?, ela refor?a que ainda bem que j? convivia com a sobrinha e que aprendeu um pouco com a for?a de Marta. Ambas reclamam que Juiz de Fora n?o possui op?es claras de escolas que trabalhem com a diferen?a, e que para elas a decis?o da escolha da escola especial ou regular ainda ? uma grande inc?gnita.
"J?lia j? foi para a Apae, ficou por l? um tempo. Mas depois comecei a seguir os conselhos da minha irm?. Penso que ela tinha que se enxergar como diferente tamb?m, porque ser diferente ? normal", afirmou Gl?ria. A empres?ria decidiu que vai tentar uma vaga para a filha em um col?gio regular, mas que at? agora, n?o tem certeza se vai conseguir ou se essa ? a melhor op??o.
Segundo Gl?ria, em Juiz de Fora, ela n?o presenciou nenhum "n?o" direto. Para a empres?ria, as escolas recusam crian?as com frases que soam como chantagem emocional. Coisas do tipo: n?o sei se os professores v?o saber cuidar do seu filho. "O que, obviamente, desanima qualquer pai a matricular o filho na institui??o", resume.
Discuss?o ampla
A discuss?o da educa??o regular ou especial realmente parece ser um novo desafio. Juristas, educadores e pais, divergem ate mesmo entre si com rela??o a quem decis?o tomar. N?o h? uma posi??o correta, e sim pontos de vista. At? mesmo a novela 'P?ginas da Vida' traz discuss?es sobre o assunto que ainda promete muitos anos de mudan?as e especula?es.
O que se tem de concreto, ? a n?tida ang?stia dos pais que passam por essa situa??o. Tanto Marta como Gl?ria, dizem estar sempre antenadas com as leis e pedindo opini?es diversas para chegar a conclus?o do que seria o melhor para a filha. "A melhor heran?a que se pode deixar para um filho ? a educa??o. Sempre pensei assim. Agora tenho que me desdobrar para entender qual seria o melhor para J?lia"
, desabafa Gl?ria.
O Minist?rio da Educa??o prepara duas mil escolas p?blicas em todo o pa?s, com treinamento para cerca de 30 mil professores visando aperfei?oar a forma de trabalho com alunos que t?m defici?ncia visual, auditiva, s?ndrome de Down e outras defici?ncias. Mas at? agora isso ainda est? no papel. Como a pr?pria ACESSA.com apurou, pelo menos em Juiz de Fora, uma dessa a?es - que ? a implanta??o das libras nas faculdades e col?gios p?blicos -, ainda n?o aconteceu. (leia a mat?ria!)
Com rela??o ?s escolas particulares, a situa??o ainda ? mais delicada. Pelo menos juridicamente, elas n?o t?m obriga??o nenhuma de tratar da diferen?a. "Nada mais segregador que privar as crian?as da rede particular de ensino da conviv?ncia com a diversidade. E as escolas n?o est?o a? s? para lucrar, elas t?m um papel social compartilhado com o poder p?blico"
, ressaltou a coordenadora Projeto Educar na Diversidade do Minist?rio da Educa??o, Windyz Braz?o Ferreira (foto abaixo).
Para Windyz, o sistema inclusivo privilegia a participa??o dos alunos. O conhecimento pr?vio do aluno ? valorizado e ele ? estimulado a ajudar quem sente dificuldade. "A escola que s? trabalha com a chamada elite intelectual, na qual a crian?a tem de provar o tempo todo seu direito de estar ali, trabalha com a exclus?o", afirma a coordenadora do MEC.
Windyz refor?a que pessoas com defici?ncia t?m direito ? educa??o, assim como as demais. Mas aconselha que os pais tenham muita for?a porque "o processo de inclus?o n?o ? algo pronto e acabado. ? uma constante constru??o de cidadania, dignidade e respeito entre as pessoas"
.
Recentemente, a educadora deu um parecer sobre um estudante cujos pais moviam um processo contra uma escola p?blica federal. O aluno, com hiperatividade, considerava que sua reprova??o na 6? s?rie do Ensino Fundamental era injusta. Al?m de ganhar a causa - e a promo??o ? s?rie seguinte -, ele teve reconhecido na Justi?a o direito de apoio educacional especializado.
Como estudiosa do assunto, a coordenadora disse que ? preciso que a sociedade debata a escola de todos. E que ela, enquanto cidad? e pesquisadora, defende com unhas e dentes a id?ia de que crian?as com defici?ncia e sem defici?ncia devem conviver no mesmo ambiente escolar.
"? claro que se o respons?vel optar por uma escola especial, isso j? ? uma quest?o pessoal. Mas os benef?cios da escola regular s?o muito maiores"
, destacou. Para Windyz, fazendo parte do cotidiano de uma escola, as pessoas com defici?ncia n?o ficam escondidas e exploram o assunto no dia-a-dia.
"Ambiente escolar ? de aprendizado. O que deve ser feito literalmente. N?o h? espa?o melhor para aprender com a diferen?a. Ganha quem percebe que ? diferente - porque somos todos diferentes - e que freq?enta um lugar cheio dessa diversidade; e ganha quem n?o possui defici?ncia, e convive com essa realidade
.
Como analisar uma escola
Se voc? tem d?vidas de como analisar uma escola para saber se ela ? inclusiva, aqui est?o as dicas da coordenadora Projeto Educar na Diversidade do Minist?rio da Educa??o, Windyz Braz?o Ferreira. Como ela mesma lembra, escolher uma escola que respeite as diferen?as, ? ter a certeza que seu filho vai ser preparado para ser um cidad?o e n?o s? um estudante. E essa regra vale tanto para filhos com defici?ncia ou n?o.Observe se a escola:
- Possui pr?ticas inclusivas e disposi??o para mudar, respeitando os alunos com todas as suas peculiaridades;
- Fornece aos professores capacita??o para suprir as necessidades e lacunas, dentro de uma forma??o educacional para a diversidade;
- Ensina a todos sem distin??o e sem homogeneizar;
- N?o adota a discrimina??o como ato educacional;
- Educa com o conceito de cidadania e dignidade presentes na Constitui??o;
"Podemos alcan?ar esses objetivos atrav?s da educa??o e de uma consci?ncia inclusiva, assim como se desenvolveu nas crian?as uma consci?ncia ecol?gica"
, diz Windyz.
Para a pesquisadora, a acessibilidade arquitet?nica deve ser promovida para autonomia e independ?ncia de quem tem defici?ncia f?sica. Para outros recursos materiais, deve-se solicitar apoio de institui?es especializadas, caso a escola n?o disponha deles.
Para cegos: m?quina Perkins, computador com programa de leitura de tela, soroban, regletes, e professor que ensine a crian?a a us?-los - assim como um professor de Libras, de prefer?ncia surdo, para os alunos com defici?ncia auditiva. "Professor de sala comum n?o ? substitu?vel pelo do atendimento educacional especializado e vice-versa. Seus pap?is s?o diferentes"
, reafirma.
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