Sexta-feira, 27 de maio de 2011, atualizada às 19h57

Juiz de Fora é a primeira cidade do Estado a ganhar o Comitê da Verdade

Aline Furtado
Repórter

Juiz de Fora é a primeira cidade de Minas Gerais e a terceira do país a ganhar o Comitê da Verdade, criado oficialmente nesta sexta-feira, 27 de maio. O comitê tem como objetivo ser um instrumento de esclarecimento a respeito das violações dos direitos humanos, ocorridas após o Golpe Militar de 1964.

"Por meio do grupo, será possível produzir relatórios para que as famílias de atingidos, torturados e mortos durante a ditadura militar possam saber o que realmente ocorreu com estas pessoas", destaca o coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Gilney Viana.

A intenção é que os comitês regionais fortaleçam o Projeto de Lei 7.376/2010, em tramitação na Câmara dos Deputados, que pretende instituir a Comissão da Verdade em nível nacional. Segundo Viana, há possibilidade de o projeto ser votado ainda no primeiro semestre deste ano. "Mas é importante que a sociedade abrace esta causa, até porque se trata de um órgão da sociedade civil, que pretende que não haja meia verdade."

O Comitê da Verdade pretende ser uma forma de colher depoimentos e levantar documentos, os quais deverão ser entregues à comissão nacional, a fim de que seja possibilitada a leitura desta parte da história do país. A ideia é que os dados sejam coletados por meio da participação de pessoas que sofreram, direta ou indiretamente, perseguições político-ideológicas e foram afetados por restrições da liberdade e tortura.

"Ainda há pessoas com receio quando se fala na criação desta comissão, mas é preciso deixar claro que nossa intenção não é que haja a judicialização dos casos. Não se trata de um revanchismo, já que o trabalho não será direcionado às Forças Armadas, como imaginam alguns. Estamos em busca da verdade, da memória e da justiça em nosso país." Viana lembra, ainda, que a Comissão da Verdade virá preencher a lacuna deixada pela Comissão da Anistia e pela Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos, que não tiveram o poder de requisitar documentos ou servidores.

Juiz de Fora

Para Gilney, que é ex-guerrilheiro, tendo sido preso político no período da ditadura militar, o fato de o comitê estar sendo instalado em Juiz de Fora tem grande significado. "A Penitenciária de Linhares abrigou vários guerrilheiros presos em 1967. Além disso, o movimento golpista foi deflagrado no município pelo general Olimpyo Mourão Filho, em 31 de março de 1964." Em Juiz de Fora, que era sede da 4ª Divisão do Exército, foram condenados, pelo regime militar, vários artistas, intelectuais e militantes.

Gilney foi levado à penitenciária em 19 de maio de 1970, deixando a cadeia em 18 de agosto de 1977. "Outro fato que pode ser destacado na implantação do comitê por aqui é que a cidade abriga o maior líder sindical da América Latina na época pré-golpe, Clodsmith Riani, hoje com 90 anos."

Os textos são revisados por Thaísa Hosken


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