JF carece de políticas públicas que atendam à população idosa, que cresceu 45% nos últimos dez anos
UFJF desenvolveu um relatório, solicitado pela Comissão do Idoso, visando atender melhor esse público
Repórter
20/12/2012
Auxiliar gestores, legisladores e autoridades a desempenharem suas funções, com o intuito de preparar Juiz de Fora para atender melhor à população idosa. Estes são os objetivos principais do Diagnóstico Socioeconômico da População Idosa de Juiz de Fora apresentado nesta quinta-feira, 20 de dezembro, no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM). O trabalho, de cerca de um ano, foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisas Sociais (CPS), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a pedido da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos dos Idosos da Câmara Municipal. "Sabemos que a população idosa de Juiz de Fora cresceu 45% nos últimos dez anos. Números superiores às Minas Gerais e ao Brasil. Então, estamos com o desafio de fazer com que a população local entenda como funciona o envelhecimento," explica o diretor do CPS, Paulo César Pontes Fraga.
O estudo contou com a participação de dois sociólogos, quatro professores e 35 estudantes que aplicaram um questionário a 282 idosos, residentes em 33 bairros da cidade. "A pesquisa foi dividida em dois métodos. Na parte quantitativa, que é a investigação de base amostral, também conhecida como survey, verificamos que 110 entrevistados, o que corresponde a 39%, são homens, enquanto 172, ou seja, 61% são mulheres. Já na parte qualitativa, fizemos um levantamento de informações sobre as atividades que os idosos desenvolvem diariamente, a relação com a família, os problemas de saúde e a situação socioeconômica," afirma Fraga.
Para o diretor do CPS, o resultado do diagnóstico confirma que a cidade precisa desenvolver diversas políticas públicas em inúmeras áreas para atender às necessidades dessa população. "O trânsito em Juiz de Fora não está preparado para atender esse público. De um lado estão os motoristas, algumas vezes impacientes, e do outro lado estão os idosos, que, na maioria das vezes, têm pressa para atravessar a rua, fazendo com que o número de atropelamentos de idosos seja muito grande."
Quando trata de problemas e insegurança, o diagnóstico revela que o medo da violência e da solidão ocupam o topo do ranking, com 61,1% e 58% respectivamente. "Apesar de verificarmos que o tipo mais comum é o lar em que o idoso mora com filhos ou outros parentes, o que corresponde a 37,8%, nos deparamos com um dado surpreendente de idosos morando sozinhos, que é de 14,4%. E são esses idosos que se sentem menos apoiados pela família e, em muitas das narrativas, o sofrimento está ligado a conflitos familiares," destaca Fraga.
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Escolaridade
Outro dado apresentado no diagnóstico refere-se à baixa escolaridade da terceira idade. Enquanto, as pessoas que possuem curso superior representam apenas 7,4%, os analfabetos correspondem a 9,6%, o primário incompleto a 19,9% e o primário completo a 31,2%. Para o diretor do CPS, essa realidade pode ser explicada pelo antigo sistema de ensino praticado no Brasil. "Os idosos do país tiveram um acesso restrito à educação formal. Acredito que, por isso, esse índice seja tão alto. Mas outro dado que me chamou a atenção, é que quando comparamos homens e mulheres, verificamos que elas são menos escolarizadas."
A solidão também pode ser representada em outro ponto da pesquisa, o que trata de atividades de lazer. Nesse item, 60% dos entrevistados realizam atividades que podem ser praticadas individualmente, como assistir televisão, ouvir música ou ler. No tópico, os idosos destacam que os lugares públicos mais frequentados para lazer são o Parque Halfeld, o Museu Mariano Procópio e o campus da UFJF. Para a secretária de Assistência Social, Tammy Claret Monteiro, os dados irão ajudar a desenvolver mais atividades para essa parcela da população. "Conhecendo melhor a realidade dos idosos, teremos mais condições de desenvolver serviços compatíveis com suas necessidades."
Políticas públicas
Para o vereador Isauro Calais (PMN), presidente da Comissão do Idoso, o diagnóstico será o ponto inicial para solicitar aos poderes Executivo municipal, estadual e federal, recursos para a implementação de novas políticas públicas. "Já solicitamos ao Estado a criação de uma Delegacia do Idoso. Agora pretendemos conseguir kits de segurança para os banheiros, pois todos sabemos que a maioria dos acidentes com idosos acontece em casa e, principalmente, nos banheiros. Cada material custa cerca de R$ 600, valor bem inferior ao que é gasto quando um idoso sofre uma fratura."
O reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Henrique Duque, também acredita que o relatório irá contribuir para a elaboração de novas políticas públicas. "Temos que transformar o conhecimento adquirido com o relatório em condições de melhoria para essa parcela da população. A própria universidade já possui alguns projetos, como a academia ao ar livre, a caminhada orientada, o grupo de teatro e as campanhas de saúde."
Os textos são revisados por Juliana França
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