"Administrar no serviço público é um desafio", diz Júlio Chebli

Aos 49 anos, médico é eleito novo reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora

Eduardo Maia
Repórter
11/07/2014
Júlio Chebli

Aos 49 anos, o médico e pesquisador Júlio Chebli (foto) tem à frente um novo desafio: administrar a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Eleito reitor em consulta pública em junho passado, foi o nome escolhido dentro do grupo político do atual reitor Henrique Duque, para dirigir a universidade a partir de setembro deste ano. De perfil acadêmico, sua meta é dar continuidade às propostas da atual gestão, com a sensibilidade de ouvir às demandas dos professores, alunos e técnicos.

A trajetória acadêmica de Júlio teve início no curso de Medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora em 1982. Concluiu o curso em 1988 e seguiu para a Federal de São Paulo (Unifesp) para fazer a residência médica em gastroenterologia, dando prosseguimento aos estudos com seu mestrado (1994) e o seu doutorado (1996) na mesma instituição. 

Entrou para o Hospital Universitário (HU) em 1998 e atuou como médico durante três anos e meio. Foi aprovado no concurso para a disciplina de gastroenterologia da Faculdade de Medicina e há 16 anos leciona como professor da graduação e dos programas de mestrado e doutorado da UFJF. Além disso, permanece no atendimento ambulatorial no HU e no acompanhamento de médicos residentes. "Mesmo como reitor, não pretendo me afastar da função de médico. Minha formação primária é esta. Quero continuar a acompanhar os residentes. Os pacientes e estudantes ficam satisfeitos e eu ganho muito com o aprendizado que me proporcionam."

Além das tarefas que acumula no âmbito profissional, divide o tempo para dar a devida atenção à esposa e os filhos, uma menina, de 8, e uma menino, de 12. "É preciso otimizar o tempo, para dar um pouco de atenção a cada um. Tento acompanhar meus filhos nas tarefas da escola, brinco com eles, jogo bolo, trago para passear na universidade, levo ao cinema, principalmente aos finais de semana. Procuro sempre ensinar sobre a vida e sobre os valores que acredito", afirma.

Das paixões pelo esporte e pelas artes, destaca o amor pelo Fluminense, sempre afeto a acompanhar as partidas do tricolor pela televisão. Também gosta de cinema, principalmente de filmes de ação e aventura. Suas leituras perpassam não somente a literatura médica, mas também sobre psicologia aplicada e também sobre o budismo. "Tenho muita simpatia pela filosofia budista, pelos princípios que vão muito ao encontro da psicologia e da psiquiatria moderna. Saber ouvir, escutar mais, ser menos reativo e buscar sempre o equilíbrio", revela.

Gestão

E é de forma equilibrada que pretende conduzir a universidade, valorizando a experiência das pessoas e os avanços. "É muito difícil de se alcançar o equilíbrio. Administrar no serviço público é um desafio. É preciso sabedoria para ouvir as pessoas mais experientes e valorizá-las. A gente sabe que haverá falhas, mas sempre buscar um crescimento a partir dos erros. O que o professor Henrique está deixando é um grande avanço e a gente espera contribuir a partir disso. Nunca fechar um ciclo, cada um contribuir um pouquinho e essa é minha meta", afirma.

Entre as prioridades de sua gestão, estão o fortalecimento dos cursos de graduação e da pesquisa na universidade, consolidando o reconhecimento que a instituição possui. "A graduação na UFJF é tradicionalmente bem conceituada. São vários cursos nota 5 e queremos que ainda mais cursos cheguem a este patamar. Vamos investir na pesquisa, no ensino e na extensão para abrir novos horizontes", propõe.

Segundo o pesquisador, contemplar o público noturno é uma das metas, ampliando a acessibilidade e a infraestrutura. "Precisamos fortalecer a graduação noturna, dar uma atenção especial a estes cursos. Vou buscar o aumento das linhas de ônibus tanto internas quanto externas e também estender o horário de atendimento administrativo para que os alunos que estudam à noite possam resolver pendências no seu horário de aula", explica. 

Levando em conta a expansão pela qual a universidade vem passando nos últimos anos, Júlio demonstra atenção à execução e continuidade das obras planejadas pela atual gestão. Dentre elas, as construções de prédios de faculdades, do campus de Governador Valadares, do Jardim Botânico, Hospital Universitário e de laboratórios. "Vamos aprimorar a estrutura destes laboratórios, dando o suporte aos que estão sendo criados. Isso fortalece a graduação e a pesquisa, uma demanda que ouvimos bastante durante a campanha, e favorecerá não somente aos pesquisadores daqui, mas também à atração de pesquisadores de outros países, mostrando que a UFJF tem estrutura para recebê-los", argumenta.

Sobre uma das características fortes do atual reitor Henrique Duque, a interlocução com os diversos setores da sociedade, inclusive para a captação de recursos, Chebli garante que ele será uma peça fundamental para prosseguir com o diálogo. "Queremos contar com a experiência do professor Henrique para nos auxiliar e ampliar as parcerias com governo e município. Mas não basta apenas isso. A universidade tem que ter outras fontes de recursos, captação de verbas em editais. É importante fortalecer a nossa pesquisa e pós-graduação para concorrer em editais mais volumosos. Quanto mais alto o nosso conceito, fica mais fácil captar recursos junto às agências de fomento e até empresas", observa.

Convivência e assistência estudantil

Ainda dentro dos planos que pretende desenvolver à frente da universidade, Júlio demonstra especial atenção com a criação de ambientes de convivência dentro da academia, bem como a assistência estudantil. "Vamos criar locais de convivência na universidade. Sentimos falta de espaços onde os alunos possam estudar ou mesmo trocar ideias. Vamos trabalhar com a arquitetura nesse sentido, é muito comum em instituições de ensino exterior e do Brasil e traz grandes resultados", propõe.

Já sobre as condições de permanência dos estudantes durante a graduação, ele destaca que é um dos fatores cruciais na administração e que buscará ouvir aos estudantes. "A universidade se abriu muito, permitindo a oportunidade de mudar a vida não só do estudante, mas de uma família inteira. Programas de assistência estudantil são fundamentais para isso e temos que correr atrás para desenvolvê-los da melhor forma. Vamos propor um seminário para discutir com os alunos as regras da assistência. Não vamos fazer nada de cima para baixo, eles quem vão definir o que é melhor, discutir as regras. Se chegarmos à conclusão de que o sistema está bom, vamos manter."

Ainda sobre o apoio aos estudantes, faz questão de destacar os investimentos no campus de Governador Valadares. "É outra prioridade nossa. Para quem conhece, é uma região muito carente e a universidade tem levado o desenvolvimento. Vai dar oportunidade para os estudantes terem acesso a uma universidade pública e gratuita e consolidar as transformações naquela região, com oportunidade de emprego e formação profissional."

Por fim, frisa a importância da internacionalização da universidade, garantindo aos alunos a oportunidade de experiências no exterior. "Junto aos programas dos Governo federal, queremos ampliar o número de graduações sanduíche e também a atração de pesquisadores para a nossa instituição. Garantir que eles tenham a infraestrutura necessária para desenvolver sua pesquisa aqui", finaliza.

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