Obras inacabadas e gerência do HU norteiam debate à reitoria da UFJF
Fadepe e Diretoria de Ações Afirmativas também foram tema da discussão, que durou quase três horas
Repórter
13/01/2016
O segundo debate realizado pela Comissão Eleitoral, reunindo as três chapas que concorrem à reitoria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), foi marcado por acusações e pouco debate envolvendo o ensino na instituição. Realizado na manhã desta quarta-feira, 13 de janeiro, no Teatro Pró-Música, o debate durou quase três horas e contou com a presença de alunos, técnicos-administrativos, servidores e terceirizados na plateia.
A primeira chapa a se apresentar foi a 1, "Reconstruir a UFJF", que conta com o professor do Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Marcos David, como reitor e a professora Girlene Alves da Silva, da Faculdade de Enfermagem, para o cargo de vice.
Em seguida, a chapa 3, "Competência e Respeito: Caminhar com Responsabilidade", se apresentou com o ex-superintendente do HU, Dimas Augusto de Carvalho Araújo, que encabeça a chapa, com o professor da Faculdade de Engenharia, Hélio Antônio da Silva, como vice.
A chapa 2, "Independência e Mudança", traz dois pró-reitores da atual administração. Com discurso de mudança, o pró-reitor de Obras, Sustentabilidade e Sistemas de Informação Rubens Oliveira encabeça a chapa, com o pró-reitor de Extensão Leonardo de Oliveira Carneiro como vice.
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Perguntas e acusações
Definido através de sorteio, feito pela Comissão Eleitoral, a chapa 2 realizou a primeira pergunta para a chapa 1, sobre qual era o entendimento do concorrente sobre transparência na UFJF. Marcos David lembrou que "Governador Valadares está há três anos e meio sem saber da reitoria qual é o orçamento disponibilizado, como está sendo a execução e não tem prestação de campos". Ele considerou que este fato é uma crise e assumiu um compromisso. "Imediatamente, depois de eleito, vamos fornecer um amplo diagnóstico da situação orçamentária-financeira da universidade. Além disso, vamos providenciar um diagnóstico das inúmeras obras inacabadas na UFJF, que temos conhecimento que existem pendências de natureza orçamentária e jurídica por questionamentos levantados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e Ministério Público." Além das medidas de curto prazo, o candidato a reitor afirmou que será lançado um portal de transparência da reitoria da UFJF, com informações sobre pessoal, técnico, ocupação de cargos de direção, comportamento dos gastos e a situação dos gastos.
Na réplica, o pró-reitor Rubens Oliveira afirmou que Marcos David mantém um discurso, mas na prática age de outra forma. "O senhor foi o pró-reitor responsável pelo orçamento na gestão da professora Margarida. Naquela época, era uma caixa preta. Eu, como diretor do ICE, nunca vi uma planilha orçamentária sua. Qual vai ser a realidade? A prática ou o discurso?", questionou o candidato da chapa 2. Na tréplica, Marcos considerou que Rubens se enganou. "O senhor foi diretor de 2006 até 2012. Eu fui pró-reitor até 2002. Quando o senhor participou do conselho como diretor do ICE? O senhor deveria se informar melhor para vir ao debate. Eu participo de reuniões com planilhas e era elogiado por todos os diretores", contou.
A segunda pergunta foi da chapa 2 para a chapa 3, indagando ao atual pró-reitor os motivos da paralisação das obras. Rubens garantiu que uma sucessão de erros o levaram a tomar essa decisão. "Os projetos e as licitações são os pontos básicos. Na obra do HU, o TCU condenou a universidade por um orçamento superfaturado das escoras, não teve repasse financeiro. A empresa solicitou a paralisação da obra, suspendendo o contrato. A obra da reitoria tem erros clássicos no projeto. As estacas da fundação estavam previstas para terem 18 metros e estão dando mais de 40. Fizeram um projeto sem sondagem. A maioria das paralisações tem haver com projetos e licitações. Pensando na instituição, temos que paralisar, corrigir os erros e continuar assim que for possível. Eu fiz a auditoria de vários projetos. Temos que observar o orçamento anual e reiniciar. Seria uma irresponsabilidade continuar como ela estava", afirma. Em sua réplica, Dimas questionou porque essa situação não foi exposta durante o tempo em que Rubens esteve a frente da pasta, além de questões relativas a obras do HU. Na tréplica, o pró-reitor excedeu o tempo da mesa e não concluiu o raciocínio.
Na última parte da primeira rodada de perguntas, a chapa 1 questionou à chapa 3 sobre a opinião do grupo sobre a diretoria de Ações Afirmativas. "Lógico que são muito importantes. Nós vamos apoias todas as ações afirmativas que são desenvolvidas no âmbito da UFJF. Não só o projeto, como ações de investimento. No entanto, as ações precisam se modernizar e avançar mais, sejam elas de gênero, raciais ou com pessoas de baixa renda. Essas ações devem ser discutidas com toda a comunidade acadêmica, não deve estar na cabeça de apenas uma pessoa, para não ficar parecendo que apenas um grupo ou uma pessoa tem esse olhar referente à determinada questão social", respondeu Dimas.
Na réplica, a candidata à vice pela chapa 1, Girlene Alves, afirmou que seu grupo propõe a criação de um fórum para tratar sobre a diversidade, e que vai incluir outras ações em parceria com a graduação. Dimas fez a tréplica que o "discurso é muito parecido e que todos vão fazer fórum", além de garantir uma democratização maior da UFJF e de "gente que sabe fazer, quando esteve a frente, fez."
Troca de farpas
No início da segunda rodada de perguntas, a chapa 1 direcionou sua pergunta à chapa 2, tocando novamente no assunto das obras do Hospital Universitário. Rubens respondeu que "os problemas de licitação naquela obra são imensos". "Temos várias pessoas da universidade que estão condenadas preliminarmente pelo TCU, sem sair o acórdão definitivo, sobre essa obra. Mandaram a UFJF pagar R$ 9 milhões à empresa, sem estar na planilha. No projeto não foi previsto blindagem para a radioterapia. Como vamos fazer aditivo, sendo que já passamos o limite de aditivos? Temos que rever esses problemas, refazer esses projetos e achar a solução."
Na réplica, Marcos David chamou atenção que a direção do HU é descentralizada e que a queixa de todos é em relação à obra. "Essa é uma dúvida de toda a comunidade de saúde da UFJF. A comunidade precisa do nosso hospital. Quando a gente vê uma chapa ir à Governador Valadares e falar em abrir uma caixa preta de lá, por que não abrir uma do HU também? O HU opera hoje com menos de 20% de atendimento. Ninguém sabe o que acontece com a obra, o que acontece com o contrato da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Temos sim uma caixa preta para abrir, e ela é no HU", afirmou. Na tréplica, Rubens lembrou que os dirigentes do HU estão respondendo o que aconteceu nas obras para o TCU.
A próxima pergunta foi da chapa 2, em direção à chapa 3, questionou a opinião de Dimas e Hélio sobre as fundações de apoio, como a Fadepe. "Elas devem apoiar o desenvolvimento, o ensino e as pesquisas nas universidades. A nossa fundação de apoio precisa mudar seu posicionamento e passar a apoiar. Ela teve o seu papel limitado, através de uma limitação da reitoria, para que ela não faça o que se tem que fazer. A nossa precisa mudar urgentemente o seu conceito", opina Dimas. Hélio, que foi presidente da Fadepe, contou que já questionou essa situação ao auditor da procuradoria, e que ele confirmou que a Fadepe pode ajudar e que não faz, porque não quer.
Na réplica, Rubens rebateu afirmando que essa não é a opinião do TCU e do Ministério Público. "Nessa reunião que você citou o questionamento, o procurador falou que as fundações estão mais parecidas com laranjas e caixas pretas. O que a administração fez agora foi enquadrar as corretas determinações mostradas. Se há essa dificuldade para colocar a Fadepe para apoiar o ensino, a pesquisa e a extensão, há esse choque. A fundação está se adequando e temos que achar o equilíbrio entre essas ações." Na tréplica, Hélio afirmou que Rubens se equivocou novamente. "O Ministério Público está preocupado se tem dinheiro público dentro da Fadepe, na minha opinião, não tem", conclui.
Na última rodada de perguntas, a chapa 3 questionou a chapa 1 sobre a política de recursos humanos para o HU de Juiz de Fora, já que Marcos e Girlane são contrários ao contrato assinado entre a UFJF e a EBSERH. Marcos respondeu que tem "uma preocupação muito grande com diferentes sistemas de trabalho, já que isso cria um sistema caótico de gestão. O assunto foi debatido em várias oportunidades pelo Conselho Superior, que entendeu que isso deveria ser assinado. Nós debatamos muito com os trabalhadores do HU, que vivem uma verdadeira angústia. Eles não sabem o que vai acontecer com eles. O nosso compromisso básico é retomar o respeito, a transparência, de iniciar imediatamente um contato junto a EBSERH, um tratamento negocial, garantindo proteção. No entanto, o ajuste que foi assinado já cria-se algumas obrigações", afirmou Marcos. Na réplica, Dimas disse que a "chapa 1, mais uma vez, não se posiciona claramente sobre a política de recursos humanos". Na tréplica, Marcos afirmou que foi claro em sua resposta e citou a "demora do concurso e a demora de prorrogar o contrato", além de atacar Dimas, ex-diretor do HU, dizendo que falou pela primeira vez o assunto.
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