O talento era mais precioso que ouro
O talento era mais precioso que ouro
Corinthians e S?o Paulo j? fizeram grandes confrontos ao longo dos anos, mais emocionantes. E in?meras semifinais. Ent?o, para que n?o haja confus?o, o Corinthians e S?o Paulo das semifinais deste ano passa a ser conhecido, doravante, como o da vit?ria da explos?o sobre o talento.
Para mim - e, acredito, para as pessoas que d?o valor ? est?tica e veem o futebol como algo mais que um placar no fim do jogo - ? quase inexplic?vel que um time que tenha sete dos 11 titulares aptos a tratar a bola com carinho perca para outro que, em sua grande maioria, n?o sabe ou n?o quer fazer isso.
Durante toda a partida, de um lado havia o prazer de ver os zagueiros Miranda e Rodrigo sa?rem jogando com enorme categoria, as trocas de passes entre Hernandes, Jean e Jorge Wagner e a maneira extraordin?ria que Borges e Dagoberto tocam na bola; do outro lado havia os chut?es para o alto de Chic?o e Willian, o jeito truncado de viver de Christian e Elias e a incr?vel incapacidade de Jorge Henrique fazer o m?nimo: dar prosseguimento a qualquer jogada.
Mas...isso de nada adianta nos dias de hoje. Douglas fez o primeiro gol, depois de um chute na trave de...Jorge Henrique (!?). E Ronaldo, o Fen?meno, o segundo, depois de ganhar na corrida (?1) de Rodrigo.
O Corinthians assistiu ao BBB. O S?o Paulo leu 1984, o livro de George Orwell. Deu no que deu.
N?o ? de hoje que o mundo acabou. H? cerca de seis anos, Dagoberto (ent?o uma jovem promessa do Atl?tico paranaense, convocado para a sele??o brasileira sub-20) fez um gol espetacular. Ele estava na lateral do campo, pelo lado direito da sua defesa e recebeu a bola do goleiro Diego. Ao contr?rio de 70% dos atuais jogadores do futebol brasileiro que adoram tocar para o lado ou para tr?s, mais para se livrar da bola, Dagoberto resolveu partir em dire??o ao gol advers?rio. Os zagueiros do Bahia n?o estavam acostumados com isso e, mais por perplexidade do que por falta de a??o, deixaram que o atleticano chegasse perigosamente perto da ?rea. A?, o centroavante, embalado por uma empolga??o comum aos jovens e com a perspectiva certa do gol, driblou quem apareceu pela frente, esperou que a bola ficasse ? sua fei??o, no p? esquerdo, e chutou de forma perfeita para as redes.
Pouca gente deu o devido valor a essa obra-prima. No m?ximo, fizeram compara?es - para elas ?bvias - com pelo menos dois famosos gols: o de Maradona na Copa do Mundo de 1986 e um de Ronaldo, o Fen?meno, pelo Barcelona, dez anos depois.N?o era uma coisa nem outra. O de Maradona, contra os ingleses, teve uma s?rie de dribles geniais que s? cessou praticamente em cima da risca fatal, com o goleiro batido; o de Ronaldo, contra um time espanhol mediano, foi aos trancos e barrancos, e em ziguezague, mais explos?o do que talento, conclu?do com um chute torto.
At? hoje, este gol de Ronaldo, o Fen?meno, ? mais lembrado que o de Dagoberto. Coisas da vida.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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