Lucas Soares Lucas Soares 17/12/2013

A falência moral do futebol brasileiro

PortuguesaNa última semana fomos assolados pela bomba que poderia salvar, novamente, o Fluminense da disputa da Série B, desta vez, edição 2014. O clube carioca, que já havia se livrado da disputa da segunda divisão do futebol nacional em 1996 e 2000 fora do campo, foi salvo novamente pelo tribunal, algo que mancha toda a credibilidade do Brasileirão. Vou explicar.

Logo que essa história começou, o procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Paulo Schmitt, fez questão de ir à imprensa afirmar que a não punição de Portuguesa e Flamengo, caso culpados, representaria a falência moral do STJD. Além disso, afirmou que "ressuscitaram o Fluminense" quando fez o anúncio da escalação irregular do jogador Héverton, da Lusa.

Amigos, me desculpem. Não sou advogado, sei muito pouco de direito esportivo. Mas se em 2010 tirar o título do próprio Fluminense por uma suposta escalação irregular seria imoral e anti-ético, salvar o mesmo clube do rebaixamento e colocar um que ganhou no campo em seu lugar, é certo? Não quero abordar se Tartá estava ou não irregular, já que o caso prescreveu. E sim, a fala do procurador: "Não acredito que haja condição moral, disciplinar, até (de tirar os pontos do Fluminense). Pode ter (condição) técnica. Técnica, jurídica, com base em uma jurisprudência. Mas moralidade… Rediscutir o título que foi conquistado no campo de jogo, da forma como foi, agora, abrindo um precedente. Essa decisão poderia ser em algum momento revista, mas isso seria um caos", disse Schmitt, na época, ao SporTV.

Vemos a imensa contradição neste fato. Quando se rebaixa a Lusa e beneficia o Fluminense, que caiu por incompetência pura, é muita vontade de se cumprir a lei e punir. O que fica, no entanto, é o prejuízo à credibilidade do torneio. O mal, no fim das contas, é bem maior do que o erro que se pretende corrigir.

Julgamento

Na última segunda-feira, na hora do julgamento, outros fatores chamaram muito minha atenção. Acompanhei ao vivo os discursos dos advogados da Portuguesa, do Fluminense e posteriormente do Flamengo. Mas pra quê? Os auditores já estavam com votos prontos, antes mesmo de se ouvir a defesa do clube paulista. O presidente do STJD já havia decidido punir os clubes envolvidos. Um dos auditores, na semana passada, foi afastado do julgamento por ter declarado seu voto no Facebook.

O fato fica mais estranho ainda quando se vê o julgamento do Flamengo. A tese defendida pelo clube carioca foi elogiada por todos os presentes, mas "para manter a ordem", decidiram punir também o rubro-negro. Para livrar-se de qualquer represália da opinião pública, os responsáveis por decidir o futuro do Brasileirão leram apenas um artigo entre os mais de 200 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) e aplicaram a punição. Onde está o princípio da razoabilidade, defendido pelo Sr. Schmitt em 2010?

A Lusa e o Flamengo já decidiram recorrer ao Pleno do STJD, e o julgamento deve ser no próximo dia 27, em última instância na esfera esportiva. Caso derrotados, o clube paulista pretende ir à justiça comum. O carioca, à Fifa.

Fluminense

Incrível foi a forma que se portou o Tricolor Carioca diante disso tudo. Na imprensa, informara que não partiu dele a denúncia e que o clube estaria fora de quaisquer polêmicas envolvendo "tapetão" e "virada de mesa." Acontece que o Fluminense foi parte interessada em ambos os processos, colocando-se a disposição do STJD e acusando Flamengo e Portuguesa de terem agido de má-fé. No momento em que poderia se redimir da Série B que ainda deve, de 2000, o Tricolor tenta se agarrar a qualquer chance de permanecer na elite.

Com o objetivo conquistado, agora é hora de aguentar as gozações de torcedores de todos os clubes, os possíveis boicotes de atletas, de parte da imprensa, de patrocinadores e até mesmo de outros clubes. O Fluminense, merecido ou não, virou o inimigo público número um do futebol nacional. Na internet já surgem diversos boatos do que pode acontecer ao futebol brasileiro em 2014, desde boicotes nos jogos contra o Flu, até greve de atletas.

Certo é que qualquer mobilização em 2014, se de fato concretizadas, terão repercussão ainda maior por ser ano de Copa do Mundo, com atenções voltadas todas para o Brasil. O que aconteceu na Rua da Ajuda, por ironia do destino, me diz que o Brasileirão 2013 ainda tem mais algumas rodadas...


Lucas Soares é natural de Juiz de Fora, é jornalista formado pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora em dezembro de 2012 e apaixonado por futebol. Atualmente, é aluno de pós-graduação em Jornalismo Multiplataforma na Universidade Federal de Juiz de Fora, Repórter no portal Acessa.com e Editor-chefe do blog Flamengo em Foco. Já atuou em veículos impressos da cidade e como assessor de imprensa na PJF e na Câmara Municipal.

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