A velhice e a decad?ncia

Ailton Alves Ailton Alves 29/09/2008

H? enorme diferen?a entre ficar velho e estar decadente.

Na vida, sabe-se que est? velho quando morre algu?m "famoso" (tipo Kurt Kobain), a not?cia vai para a primeira p?gina dos jornais, h? uma como??o geral e voc? n?o tem a m?nima id?ia de quem seja o morto. E sabe-se que est? em processo de decad?ncia quando algu?m especial como Paul Newman morre, voc? sabe exatamente quem ?, j? assistiu a todos os filmes dele, a not?cia vai para a primeira p?gina mas muitos n?o t?m a m?nima id?ia de quem seja o grande ator.

No futebol as coisas funcionam mais ou menos assim. N?o vou entrar no jogo de palavras no qual o futebol de antigamente era melhor, o craque idem, tinha- se respeito ao clube... e hoje os atletas, al?m de piores, s?o mercen?rios, sem amor ? camisa etc e tal.

N?o, n?o ? disso que falo. Digo da percep??o que o velho, o decadente e o "antenado" t?m do futebol.

Foto de Messi e Roberto Dinamite Chegou esta semana ?s bancas a revista de futebol do Lance (Lance, como velhos e novos sabem, ? aquele jornal que incentiva a doen?a club?stica - outro sintoma da minha decad?ncia: confundir a paix?o com doen?a). Bonita, bem-feita, muitas fotos e informa??o fast-food. Um sandu?che de alface, para ser mais exato. N?o ? uma cr?tica - apesar de velho e decadente n?o sou ranzinza -, ? uma constata??o. Na capa, o argentino Messi (coisa impens?vel no meu tempo, quando a globaliza??o era uma miragem t?pica de filmes de fic??o e o futebol ainda n?o explicava o mundo, s? a sua aldeia).

Para os novos, n?o h? nenhum problema. Messi ? t?o ?dolo dos jovens da Galil?ia quanto Roberto Dinamite foi para mim. Com uma diferen?a fundamental: mesmo gostando de futebol desde que me entendo por gente posso contar no dedo quantas vezes vi Roberto Dinamite jogar. Ao vivo, talvez dez vezes; pela televis?o mais, mas nem tanto assim. As jogadas dele chegavam at? mim pelas ondas do r?dio e, a conta-gotas, pela sess?o "Gols do Fant?stico". Messi pode ser visto na ?ntegra, todo final de semana, e em algumas quartas-feiras, com um toque no controle remoto da TV.

Al?m das jogadas e dos gols, das discuss?es nas escolas, nas filas do banco e nos botecos, a percep??o geral do que representava Roberto Dinamite (e tamb?m Zico, Rivelino, Reinaldo, S?crates e Falc?o, entre tantos outros) para o futebol era passada a n?s, os jovens da ?poca, pela Revista Placar - em tudo oposta a essa atual, do Lance. Tinha muito texto, poucas fotos e muito amor (outro sintoma da minha velhice: ter a certeza que o amor ? melhor que a paix?o).

A revista do Lance e a Placar s?o, portanto, um contraponto perfeito. Talvez o futebol n?o tenha mudado tanto assim. ? bem prov?vel que a vis?o que temos dele ? que foi modificada.

***

Paul Newman viveu 83 anos, adorava automobilismo, protagonizou nas telas um grande personagem do boxe e fez, em sua longa carreira, um filme que retrata fielmente a diferen?a entre velhice e decad?ncia e entre o novo e o velho.

Passou no Brasil com o nome "Aus?ncia de Mal?cia", o tal filme.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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