Bruno Luis Barros *Bruno Luis Barros 5/06/2014

 


O legado da Copa do Mundo

copaA burocracia infernal que emperra o Brasil, também emperra a Copa do Mundo. Mas antes fosse somente procedimentos burocráticos – seria menos vexatório. De acordo com reportagem publicada pela Agência Brasil em 09/04/2014, o ministro Augusto Nardes, presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), disse que foram economizados cerca de R$ 700 milhões para os cofres públicos, graças à atuação do tribunal na fiscalização dos contratos. Nardes ressaltou, ainda, que, nos últimos 5 anos, essa fiscalização do TCU já gerou uma economia de R$ 102 bilhões. Logo, a burocracia e a improbidade administrativa representam alguns dos fatores que contribuem para a aniquilação da tênue credibilidade do Brasil e, consequentemente, colocam em xeque a capacidade do país de organizar um evento da magnitude da Copa do Mundo. De fato, esse imbróglio da Copa brasileira é um "espetáculo" que não fica restrito ao público brasileiro, mas ganha o mundo. É por essas e por outras que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, sob pretexto de evitar vaias, disse que os discursos na abertura do evento estavam suspensos. Se por um lado a decisão de Blatter revela um sentimento de desapontamento – e que creio ser comum a muitos brasileiros –, por outro, deixa evidente, e em primeiro plano, uma incitação à censura e, acima de tudo, um desrespeito à soberania nacional. Se, realmente, não houver discurso na partida inaugural, o nosso país entrará para a história da Copa do Mundo – de uma forma "especialmente" negativa – ao ter Chefes de Estado proibidos de discursar.

Muitos especialistas, formadores de opinião e, sobretudo, nossos governantes, tem defendido a ideia de que este megaevento trará benefícios para a economia nacional. A Copa das Confederações movimentou – segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) – R$ 20,7 bilhões nas seis cidades-sede, e gerou 303 mil empregos. A expectativa, ainda de acordo com a FIPE, é de que a Copa do Mundo movimente três vezes o valor acrescentado ao PIB, que foi de R$ 9,7 bilhões, podendo chegar a R$ 30 bilhões. De fato, o fluxo intenso de turistas aumentará a quantidade de divisas destinada para os setores de hotelaria, transporte, comunicação, cultura, lazer e comércio. Além da geração de empregos, ainda que temporários, a Copa impactará, também, nas atividades exercidas pelas pequenas, médias e grandes empresas. Mas será que, mesmo assim, colheremos bons frutos?

No período pós-evento, muitos estádios estão destinados a se transformarem em "elefantes brancos", com alto custo de manutenção, sem falar do provável endividamento em moeda estrangeira. As melhorias na infraestrutura urbana ficarão muito longe do status de "grande legado", tendo em vista que os benefícios proporcionados serão usufruídos por uma parcela modesta da população, se comparado à imensidão desta pátria chamada Brasil. De acordo com pesquisa publicada pelo Datafolha em 08/04/2014, a aprovação à Copa do Mundo no Brasil caiu para 48%. Vale lembrar que em novembro de 2008, após a Fifa anunciar o nome do país-sede, 79% dos brasileiros apoiavam a realização do Mundial no país. Essa redução drástica é resultado de uma decepção generalizada, e que ganha força a cada dia, em face, não apenas, a demasiada burocracia, mas, também, a corrupção e a falta de planejamento que resultou nos inúmeros estouros astronômicos das verbas destinadas às obras para o Mundial. Logo, a elevação constante dos custos pode fazer com que a promessa de um espetacular retorno financeiro, não seja tão espetacular assim. Então, os incríveis R$ 30 bilhões, informados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, podem – por mais inacreditável que pareça – ser sucumbidos pelos frutos suntuosos da incompetência administrativa.

Brazil tackling child prostitution for World Cup (Brasil combate a prostituição infantil para Copa do Mundo). Essa é a manchete de uma das últimas reportagens realizadas pela rede de notícias norte-americana CNN. Faltando poucos dias para o início deste megaevento, o que conseguimos de mais expressivo até agora, foi a consolidação de uma imagem negativa no cenário nacional e internacional, através da exposição dos problemas sociais, econômicos e políticos. A manchete mencionada é apenas um exemplo em meio a grande variedade de mazelas que se tornaram recorrentes nos noticiários. Enfim, é com imenso pesar que chego à conclusão mais óbvia: Perdemos uma oportunidade histórica de mostrar nosso valor; perdemos a oportunidade de mostrar que o Brasil não está fadado a ser, apenas, o país do samba; do carnaval, ou, ainda, um mero revelador de craques do futebol.

Publicitário e estudante de jornalismo


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