Olhar: o Natal para os catadores de material reciclável

Profissionais dizem como esperam passar a noite de Natal e as expectativas para 2014

Eduardo Maia
Repórter
21/12/2013
Catadores

Passado o ano de 2013, as comemorações de fim de ano tomam a cabeça das pessoas, seguidas das trocas de presentes, dos votos de prosperidade para o ano que chega e fartas ceias comemorativas nas duas datas especiais. Pelas ruas centrais de Juiz de Fora, as lojas enfeitadas e seus clientes alvoroçados por produtos de qualidade e baixo preço se contrastam com a dura vida dos catadores de materiais recicláveis, que aproveitam o período para ganhar um rendimento extra. Protagonizando a cena no cair da tarde, eles separam o material que é uma fonte de renda. Eles não deixam de imprimir os desejos de felicidade para o próximo ano, seguidos dos sonhos de paz e dias melhores para suas famílias.

Rosimar Sílvia Gouvêa, de 40 anos, cata papelão desde os 25. Mãe de quatro filhos, mora com dois adolescentes, de 15 e 9 anos, em sua casa própria recém adquirida, localizada no bairro Bom Jardim. É com os filhos e o companheiro, Maciel Rodrigues Sudré, de 40, que pretende passar a noite de Natal. "Vou dar um jeito de passar com os meus filhos. Se os dois maiores também forem, serão bem recebidos. Às vezes, eu tenho que dormir na rua, porque tem muito material para separar e pesar. Meu desejo de Natal é ganhar uma cesta para eu comemorar com a minha família e conseguir ligar a luz da minha casa. Se Deus quiser até o Ano Novo eu vou conseguir", revela.

Sílvia catadoresSílvia, como é tratada pelos lojistas que a ajudam a separar o papelão na rua Marechal Deodoro, não esconde os recentes problemas que enfrentou na sua vida e também não perde o bom humor e o carinho no trato com os que passam pela rua. "O pai do meu filho, de 9 anos, entrou na Justiça, para tentar a guarda. Foi um sofrimento, mas eu consegui ficar com ele. Ele estuda e recebo o Bolsa Família e uma pensão de R$ 150. Mas, como é pouco, complemento a renda com o material", desabafa.

Seu companheiro, Maciel, é o braço direito na coleta do material. Natural de Silveirânia (MG) e pai de cinco filhos, ele acredita que o Natal é um bom período para aumentar a coleta e a renda. "O Natal é muito bom. Dá pra trabalhar bem, pegar muito material. O ganho é um pouco maior. Cato papelão, latinha e pet, com isso já dá pra ganhar um extra", diz. O seu filho Douglas Sudré, de 16 anos, enteado de Sílvia, também o auxilia em buscar o material na rua. O adolescente, que concluiu a 5ª série do ensino fundamental no final deste ano, sonha com dias prósperos em 2014. "Espero que as pessoas sejam mais humildes, tem que ter mais caráter. Eu espero que o meu pai arrume um emprego melhor e que arrume a minha casa", deseja.

Sonhos

Maria Mariana MoreiraMaria Mariana Moreira Gaspar, de 58 anos, também coleta material reciclável ao lado do marido. Casada há 26 anos com José Júlio Gaspar, de 60, eles fazem do trabalho um complemento da renda. Para o Natal, esperam poder passar com o filho em casa. "Não tem muito luxo. A gente comemora, tem ano que faz, tem ano que não. Faço mesmo um arroz com feijão e às vezes ganho um frango na rua. Mas o Natal tem que ser em família, diz".

Entre os sonhos de Maria para o próximo ano, está o de um emprego para o filho, de 24 anos. "Ele já fez vários cursos, como de porteiro e segurança, já distribuiu currículo, mas está difícil. Queria muito que ele conseguisse um emprego", espera.

A aposentada Maria de Lourdes Ribeiro Silva, de 69 anos, carrega uma dor ao falar do Natal. "Não tenho muito a comemorar. Perdi minha mãe no ano passado, nesse dia. Esse ano eu não sei como vai ser. Meu marido está internado, pois teve um derrame e hoje está como uma criança. Eu o visito sempre, mas acho que vou passar sozinha em casa", lamenta.

Maria de Lourdes acredita que as pessoas perderam o espírito do Natal. "Ultimamente não saía para catar material, porém voltei por conta da data. Mas estou achando tudo muito choco. Antigamente tinha umas festas, as ruas eram todas enfeitadas, a cidade era alegre. Hoje está tudo tão triste."

De uma alegria cativante, Maria espera realizar o sonho de ganhar um prêmio de título de capitalização no ano que vem. "Eu adoro comprar a Tele Sena. É o único vício que tenho. Não fumo, não bebo, sou uma pessoa muito alegre. Mas eu adoro a Tele Sena e, se Deus quiser, no ano que vem eu vou ganhar e conhecer o Sílvio Santos", revela.

Desafio

Joaquim PereiraPai de 21 filhos, Joaquim Pereira, de 71 anos, é morador do Santos Dumont. Aposentado, trabalhou no Demlurb por 36 anos, mas decidiu seguir na coleta de material, para não parar de trabalhar. "Aposentei há um ano, mas não posso parar. Tenho que correr atrás. Um colega meu que aposentou e parou, morreu pouco tempo depois", comenta, sem parar por um instante de amarrar os sacos com o papelão.

Sobre a renda mensal que consegue com o ofício, ele diz não saber o quanto arrecada. "Não consigo saber quanto ganho aqui, porque gasto dinheiro todo dia. Quem tem que comprar leite pros filhos não consegue saber quanto gastou. E ainda tenho que ir mais cedo hoje pra pegar o supermercado aberto ainda."

Na noite de Natal espera passar na companhia dos filhos, entre eles uma menina de cinco anos. "Todo ano pra gente é bom. A gente não pode reclamar das coisas, falar que tá tudo ruim, senão dá tudo errado. O negócio é ter saúde. O resto a gente corre atrás. Vou fazer 72 anos, mas jogo capoeira como um moleque de 20 anos. Meus filhos também jogam, meu menino que me ensinou", revela.


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