Crianças com deficiência auditiva devem aprender Libras a partir dos seis meses de idade
A recomendação dos especialistas é de que os pais fiquem atentos ao teste da orelhinha e, caso seja detectada, a surdez deve ser tratada o quanto antes
Repórter
29/9/2012
Um dos primeiros passos a ser tomado pelos pais com o filho recém-nascido é a realização do teste da orelhinha, uma maneira simples de identificar possíveis problemas na audição do bebê. Caso seja diagnosticada, a deficiência auditiva irá requisitar uma série de cuidados e acompanhamentos médicos. Dentro de seis meses poderá iniciar-se, então, uma aprendizagem que envolve toda a família desta criança: a alfabetização da Língua Brasileira de Sinais (Libras), ou seja, a língua gestual.
A recomendação da idade é do professor Wanderson Samuel, que atua na área há cerca de 20 anos. "O ideal é que a criança já esteja inserida neste contexto desde nova, pois o quanto antes ela tiver contato com esse aprendizado, mais cedo ela conseguirá desenvolver melhor a vida social e receber a informação de maneira natural", explica. Samuel é coordenador de um curso de libras em Juiz de Fora (fotos abaixo), oferecido gratuitamente aos surdos e familiares pelo Centro de Educação e Cultura para o Ensino de Libras (Cecel).
A opinião é compartilhada pelo fonoaudiólogo e professor Leandro Rocha, que acredita na importância da criança entrar no processo de entender e conhecer a Libras o mais cedo possível. "É importante lembrar que a família deve acompanhar o processo, até porque, normalmente, os pais são ouvintes e vão precisar aprender juntos a nova língua." Além disso, ele explica que existem correntes de ensino dentro da área que dividem-se em três formatos de trabalho. O primeiro está pautado na estimulação máxima da oralidade, a outra volta-se para o ensino exclusivo da Libras e ainda tem uma que trabalha com o bilinguismo, ou seja, para que a criança saiba se expressar em português e em Libras.
Falta de conhecimento
A Lei Nº 10.436, de dezembro de 2002, trouxe o reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência auditiva, garantindo, por parte do poder público, formas institucionalizadas de apoiar o uso e a difusão da Libras. Samuel explica que a procura pelo aprendizado em Libras é recente, mas que, aos poucos, as pessoas vêm se conscientizando a respeito da importância da língua para os deficientes. "Um surdo não possui problemas cognitivos, ele só precisa de apoio para que aprenda a língua dos sinais, algo que nem sempre é estimulado pela família. Mas, aos poucos, estamos conseguindo reverter esse quadro."
Segundo Samuel, em Juiz de Fora, ainda não existe um trabalho precoce para aquisição da língua, até mesmo pela falta de procura dos próprios pais. "Este trabalho deve ser iniciado em casa e paralelamente, é necessário que a família entre em contato com associações do ramo, que se interessem pelo assunto." Para Rocha, é fundamental que a família incentive e aprenda junto com a criança. "Eles devem ter acesso a essa cultura de maneira bem natural, até porque não adianta eles terem conhecimento da língua e não terem com quem exercitar. Se eles aprenderem sozinhos, não vão conversar com ninguém ou será raramente", explica.
Samuel acrescenta que no trabalho realizado no Cecel, algumas crianças chegam com idade mais avançada, o que pode dificultar o aprendizado. Além disso, outras instituições públicas também oferecem o ensino na cidade, como o Núcleo Especializado de Atendimento à Criança Escolar (Neace), que possui professores com deficiência auditiva.
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Aprendizado Bilíngue
A metodologia bilíngue está baseada no aprendizado da língua portuguesa paralelamente à língua de sinais pelo jovem deficiente auditivo. Para Rocha, está havendo um grande interesse dessas pessoas no sentido em que seja estimulado tal tipo de alfabetização. "Uma é nossa língua natural, que irá oferecer acesso para que eles consigam conversar com as outras pessoas, o que ainda irá facilitar o aprendizado de línguas estrangeiras também. Já a Libras é a natural deles, que vão aprender com muita facilidade", explica. Neste sentido, Samuel ainda lembra que, anteriormente, a cultura era a de tentar fazer com que a criança aprendesse a oralidade, um quadro que já vem sofrendo mudanças. "Tenho casos de crianças surdas que tiveram mais facilidade de reconhecer letras do que as ouvintes. A resposta foi mais rápida e isso demonstra a capacidade elevada que elas têm de aprender a língua."
O fonoaudiólogo acrescenta, ainda, que o ideal para os surdos é que tudo tivesse sinalização em Libras, mas como essa realidade ainda está sendo alcançada, é importante que eles aprendam a língua portuguesa o quanto antes também. "Caso seja estimulada apenas a Libras, ele poderá ficar limitado a determinadas situações, até porque a maior parte das nossas experiências são orais. O português torna-se ainda mais importante quando pensamos que ele vai utilizá-lo para ler placas, jornais e ainda escrever." Neste sentido, ele lembra também do crescimento das redes sociais. "Vejo muitos deficientes que se comunicam por Facebook, msn e outra redes, uma realidade que é possível graças ao conhecimento das línguas", explica.
Importância do teste de orelhinha
Segundo o Portal de campanhas saúde do Senado Federal, o teste de orelhinha é um exame simples de audição, realizado por meio de um aparelho eletrônico com fone que é colocado no ouvido do bebê. Ele não tem contraindicações e pode ser feito até mesmo com o bebê dormindo, visto que não dói e é rápido. A recomendação é de que ele seja realizado no primeiro mês de vida e, segundo a Lei 12.303/10, todos os hospitais e maternidades do país são obrigados a realizar o exame gratuitamente nos bebês que nascerem em suas dependências.
O fonoaudiólogo entende que o ideal é que o bebê já saia da maternidade com esse exame feito. Muitas famílias não realizam e acabam não sabendo que estão lidando com uma criança surda, o que gera outros problemas para o próprio desenvolvimento daquele deficiente auditivo. "Temos histórias de crianças que chegam ao consultório mais velhas e são vistas como psicóticas, autistas ou que possuem algum tipo de problema mental. Tivemos um caso de uma garota de onze anos que era tratada com remédios controlados, porque ela só gritava e não conseguia se expressar. Detectamos que o único problema que ela tinha era na audição. Colocamos um aparelho e ela ficou tranquila", conta.
Os textos são revisados por Mariana Benicá
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