Muito Não, Pouca Educação
(filho): Mama…
(mãe): Nãooo!
(filho): Por quê?
(mãe): Porque nãooooooooooooooooooo!
Não, por quê? Em sua maioria, nem nós mesmas sabemos. Tornamo-nos viciadas nesta proteção. O Não empregado sem critério torna-se um “Não histérico”. Descontrolado, sem conteúdo, sem rédeas, sem ponderação, enfim… Torna-se um Não sem educação.
O pedido fica censurado, os filhos à deriva de um ataque materno e Nós distantes de rever uma rigidez que implora por misericórdia. Acho que estamos pouco abertas ao que está “desprogramado”, emocionalmente, dentro de nós para aquele momento. Então, nos protegemos através de um controle.
Acreditamos ter controle. Mas, para que mesmo?
Para disfarçar a nossa indisponibilidade. Estamos cobrando o nosso cansaço holístico através de “Nãos” repetitivos, insistentes e estridentes.
Nãooo queremos ver as coisas fora do lugar, nãooo queremos que o chão acumule mais papéis picotados, nãooo queremos que a piscina da boneca ganhe mais volume de água e alcance o piso do banheiro, nãooo queremos que os super- heróis entrem em ação, peguem suas espadas e voem pelos corredores, nãooo queremos que uma nova brincadeira seja sinônimo de demanda de atenção, nãooo queremos que o iogurte lambuze toda a roupa limpa, nãooo queremos que o bolo de cobertura solte farelos no sofá, nãooo queremos que as massinhas ganhem mobilidade e se instalem em nossa sola do pé, nãooo queremos que a tinta saia respingando por aí, nãooo queremos que uma nova pergunta nos faça entender que sabemos menos do que realmente sabemos, nãooo queremos que uma birra nos confirme que a rigidez estressa, nãooo queremos que a curiosidade deles nos esgote mentalmente, nãooo queremos que o Ser criança nos desafie constantemente.
Na verdade, não estamos sabendo dialogar. Não estamos sabendo escutar. Não estamos sabendo acolher a flexibilidade dentro do educar. O Não contundente precisa ser empregado em situações de risco absoluto. Isso é lei. Mas, em todos os outros casos, precisamos manusear a elasticidade do Não.
Quando paramos e escutamos o nosso filho, estamos criando um vínculo de respeito com ele. Começamos a enxergar alguém além de nós mesmos. Estamos optando por um construir junto. Aliamo-nos à humildade na condição de aprendiz. Criamos uma nova possibilidade na transformação de antigos conceitos. Convidamos a nossa criança interna a entrar na roda.
Conquistamos um Não com respeito.
Um Não com educação cria filhos pensantes. Um Não com rigidez cria filhos adestrados.
O famoso “não, porque não” terá o mesmo “adestramento” quando eles tiverem seus 15 anos?
Então, onde está o controle?
Com afeto e gratidão
Até a próxima.
Raquel Marcato, mãe da Marta de 4 anos, blogueira do portal mamaesavessas.com, escritora, questionadora por essência, ativista pelo autoconhecimento e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Autônoma de Barcelona.
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