Jussara Hadadd Jussara Hadadd 14/12/2010


Quem tem boca vai a Roma 

-Vai, mas vai mesmo. Vai a qualquer lugar do mundo em busca do prazer de viver bem e com tudo a que tem direito. Quem tem boca vai ao beijo, expressa seu desejo, geme seu despejo. Quem tem boca, morde seu orgulho, cala seus medos, cospe suas angústias. Quem tem boca pergunta o caminho do céu e o do inferno também. Quem tem boca, expele seda e envolve em seus sonhos e carícias o ser iluminado e capaz de ouvir sua voz em um apelo de amor que fará da sua alma a maior e a mais plena, quando em flutuante êxtase, lhe gritar com a boca que não cala, a gratidão e o aconchego.

Quem tem boca não morre esquecido, não fala batido e não vive sem sentido. Quem tem boca vai onde a sua felicidade está e pede por ela em tom de bondade, em tom de humildade e com sinceridade.

Quem tem boca vai ao colo do ser amado e se entrega sem jogar e sem se prender às armadilhas da vaidade e do medo de errar. Não diminui, não exclui, não repele e não finge, não precisa.

Talvez seja este o mal do século no amor. Os homens estão fingindo não precisar dele e da sua forma mais simples de expressão.

Amar é ser medíocre, pequeno, pouco inteligente? Se entregar com simplicidade e desejo sincero de ser feliz com alguém, é pouco? Precisar do amor de alguém para se realizar sexualmente é coisa do passado, de românticos e de gente atrasada? A ordem é vencer? Vencer quem ou o quê? Vencer pra quê?

Tenho observado casais disputando quem precisa menos um do outro e ridiculamente se expondo a contorcionismos e acrobacias para se realizarem em suas necessidades mais básicas, como a básica necessidade de amar e de sentir prazer e de se satisfazer e se engrandecer perante o equilíbrio de energias que esta maravilhosa atividade humana pode proporcionar.

Tenho observado jovens e marmanjos, homens e mulheres e principalmente os mais desenvolvidos intelectualmente, representarem o papel de seres ilibados como se isto os elevasse a um status de ser humano especial capaz de negar a própria raça. Que loucura.... Sexo é melhor que terapia gente, que dinheiro no banco, que carro novo, que mansões luxuosas, que drogas. Sexo com envolvimento é melhor que comprar gente, é verdade.

O interessante é que estas mesmas pessoas estão comprando sexo desarvoradamente. Vertem-se ao apego louco e desenfreado da aquisição da matéria para tão e somente impressionarem e exercerem seu poder sobre o sensorial. Rodam, rodam, rodam e acabam ali, nos braços de alguém que enxergue nelas, alguém especial, ou melhor. Enriquecem, ficam poderosas de alguma maneira e vão comprar alguma forma de exercerem seus sentidos. É básico, é necessário, é fisiológico, é humano, é espiritual, é de Deus. Ninguém fica sem. Não acreditam? Querem resultados de pesquisas? Uhuuuu, não me obriguem, vocês vão cair de quatro. Vou ter que citar Nelson Rodrigues de novo?

Explodem diariamente, mais e mais bordeis, sex shops, motéis, casas de shows, mulheres e homens especializados em profissionais requintados, drogas para ereção, sons, imagens, texturas, formatos..... Quanta dissimulação, quanta loucura em detrimento a um mundo feliz, só para não ter que dar um pouquinho de carinho, um pouquinho de alegria, um pouquinho de prazer? Quanta preguiça e pretensão a uma vida boa sem nenhum sacrifício.

Quem tem boca vai a Roma e vai mesmo. Quem tem cabeça sabe o que pedir. Que sabe o que quer, não tem retrabalho, não tem que pegar atalho e não fica fora do baralho. O que você quer para sua vida? Honestidade pode ser uma boa pedida.

Fim de ano, época de rever valores e conceitos já há muito superados pelos mais simples e dispostos à felicidade e ainda tão enraizados por outros tantos complexos e confusos que a tudo contestam.

E agora, essa mania de não precisar do outro, esse modismo que vem disfarçando o medo e o pavor que a modernidade tem de se envolver e se doar. O egoísmo e o egocentrismo, superando a básica necessidade de amar. Você não precisa de nada disso? Parabéns. Você venceu!

O que você gostaria de verdade que o Papai Noel te trouxesse de presente este ano? É de sentir, é de comer, é de beber? Tem luz vermelha, estrelinhas, sai fumacinha, apita? Vai com você para a eternidade ou na manhã do dia 26 você nem vai se lembrar porque pediu aquilo?

Feliz Natal e um Ano Novo de verdade para você. Do que seja a verdade para você, do que te faça a pessoa mais feliz do mundo. Não importa o que.

Muito obrigada por mais este ano. Eu adoro estar aqui.



Jussara Hadadd é filósofa e terapeuta sexual feminina
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