É preciso ter paciência!
Este é sem dúvida um discurso que muito me impressiona e que eu tenho muita dificuldade de por em prática, embora tente todos os dias. Este é o discurso que escuto com atenção nas entrevistas de televisão, nos documentários em que os residentes da melhor idade, já ou quase centenários, pregam a calma e a paciência para a longevidade que vivenciam com alegria, com poesia e, sobretudo, com amor. Toca-me a alma, o fundo do coração vê-los dançando, beijando na boca de mãozinhas dadas ainda que tão perto da passagem.
Longevidade é assunto que muito me prende a atenção. Primeiro porque sou filha de uma família que vive muito e depois, porque acredito. Cresci vendo pessoas dispostas a viverem muito e em plenitude. Sempre ouvi falar de amor, de muita saúde, de sexo, de beleza e de Deus.
Intrínseca a esta crença, está o cerne de minha pesquisa no campo do amor e da sexualidade que prega, através do meu pensamento, o sentimento e o sentido apurado das emoções e das sensações, como recursos para uma vida, eu diria... Mais legal.
Hoje, gostaria de falar sobre a angústia de ser homem quando não se caminha bem por estes campos que a meu ver, deviriam ser sempre floridos.
No calcanhar de Aquiles da espécie masculina, habitam os fantasmas da Impotência e da Ejaculação Precoce atormentando a mente de muitos homens e tirando a leveza e a plenitude de viver em verdade encontros sexuais gostosos. Mecanizando momentos que poderiam ser mágicos, leves e inteiros, transformando-os em um enorme vazio pela simples falta de calma e paciência.
_ Ah, mas não pode ser só isso! Deve ser alguma patologia. Deve ter tratamento. Mas tem mulher que nem liga. Mas isso é coisa de homem mesmo, e daí? Eu tomo um “Viagra®” e tudo bem. Eu digo que é por causa dela, e tudo bem. Eu sou um cara legal. Eu? Nervoso, atormentado, apressado, egoísta, insensível?
Nããão!!!! Homem não sente, homem vai e pronto! Eles dizem.
Então, faça a sua escolha, vá em frente até quando der. “Um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria...” Desculpas e mais desculpas, até quando?
Longevidade, eterna juventude, garanhão velho de guerra! Sonho possível para o homem que para, respira, pensa e sente.
Trocando em miúdos, a mensagem fica por conta do Tao do Amor e do Sexo¹, vertente riquíssima da filosofia do Tao² que prega simplicidade, calma e paciência para uma vida rica e feliz.
A mensagem é tão simples quanto incrível. “Não pode ser tão fácil assim?”
A filosofia propõe ao homem controle sobre o seus sentidos, controle sobre sua necessidade premente de ejaculação e principalmente controle sobre seu egoísmo e egocentrismo, reconhecendo o valor da sua parceira e se preocupando em primeiro lugar com o prazer dela. Mesmo que seja pelo efeito rebote.
Neste movimento, cabe experimentar um sexo onde as preocupações com o cotidiano ficam sempre fora do quarto, em um mundo onde não existe celular, onde a vida lá fora foi organizada e preparada para que o casal pudesse viver com tranquilidade e êxtase essa hora, que é só dos dois.
As pessoas subestimam tanto o momento de amar, desprezam tanto a qualidade do parceiro, que vão para um encontro quase que sem levar o corpo. Cabeça e coração então estão fora de cogitação.
Muitos homens, no afã de simplesmente gozar o alívio de uma necessidade fisiológica, se esquecem da riqueza que é dividir emoções, e outros tantos, nem sabem que isto é possível. Bastaria dividir afetividade, sorrisos e gratidão pela partilha.
Ainda que não se dedique amor a uma relação sexual, calma e paciência já faria com que muitos homens não tivessem que se justificar nestes momentos. Amar pode ser uma arte.
Nesta concepção ignorante do que seja um sexo bom, não atingir o nível de ereção satisfatória para o casal e não conseguir controlar o tempo necessário antes de ejacular para que a mulher fique feliz e gratificada, o homem desatento, busca em consultórios médicos soluções comprimidas e rápidas que poderiam ser facilmente substituídas por calma e paciência. É bem possível que a questão tenha a ver com algum distúrbio físico sim, porque os maus hábitos da vida hoje geram muitas doenças e neste caso, nada como um bom médico e todo seu conhecimento, para tentar resolver.
E a mulher, onde entra nisto? À mulher que também vai para um encontro com um homem sem levar corpo, alma e coração interessada sabe-se lá em que, cabe apenas representar seu teatro. À mulher integral, cabem as essenciais, calma e paciência. Não adianta reclamar, nem querer modificar o homem que não deseja ou tem dificuldades em operar mudanças em seu comportamento. Melhor encontrar outro que se enquadre às suas necessidades. Contudo, a esta mulher e caso o homem queira, cabe participar com ele de um processo de melhora, visando o bem estar dos dois. O desejo mútuo de se fazerem felizes, contribui bastante. O sexo pode ser aprimorado e neste caso, comunicação é indispensável.
Concentração, dedicação, disciplina, saúde emocional, equilíbrio... Até no sexo, a ordem faz sentido. A ordem dá sentido a vida. A vida pode ser longa e boa.
A vida é tão rara.
1 – O Tao do Amor e do Sexo – Jolan Chang – Ed. Artenova
2 – Tao Te King - O Taoismo – Filosofia chinesa deixada por Lao Tsè.
Jussara Hadadd é filósofa clínica, psicoterapeuta, especialista em sexualidade feminina, escritora, palestrante.
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