Leitor: cuidado ao consumir!
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Ultimamente, falar da crise econômica virou moda. Chega a ser cansativo ligar um televisor, abrir um jornal e/ou uma revista, acessar um site e verificar que só se fala de crise, crise, crise... Nessa época também aparecem muitos profetas que tentam adivinhar a extensão da mesma e o tempo de duração. Até o presidente Lula, que outrora ignorou, afirmou que a crise só vai durar até 2010 (tomara que sim!) e com isso, o mesmo tem estimulado a população brasileira a consumir, consumir, consumir... Será que esse conselho deve ser seguido à risca?
O estímulo ao consumo, pregado por Lula, tem como objetivo aquecer a demanda agregada no Brasil. Consumo maior faz com que o comércio venda mais, bem como faz com que a indústria possa produzir mais, e com isso empregam-se mais pessoas. Com mais empregos, o consumo pode aumentar mais ainda e provocar um efeito multiplicador positivo para a renda na economia. Tudo isso reaquece o mercado interno e tenta-se atenuar os efeitos da crise econômica mundial que diminuiu a demanda por nossos produtos no mercado internacional.
Em teoria, isso é muito interessante. Na prática, a situação é diferente. Primeiro, porque em épocas de grandes crises, como a atual, o clima de incerteza aumenta e os agentes econômicos tendem a ficar mais cautelosos. Com medo do futuro, o nível de consumo cai. Muitas empresas brasileiras que exportam diminuíram sua produção, e com isso demitiram funcionários e/ou deram férias coletivas. Quem perdeu o emprego reduz o padrão de consumo e quem está empregado, mas tem medo de perder seu posto de trabalho, também diminui o consumo. E aí Presidente: como estimular esses indivíduos a consumirem mais?
E para piorar ainda a situação, em 10 de dezembro foi divulgada uma pesquisa realizada pela Fundação Procon de São Paulo que mostra que as taxas de juros do cheque especial e do empréstimo pessoal subiram neste fim de ano. Os juros do cheque especial passaram de 9,24%, em novembro, para 9,33% ao mês, em média, agora em dezembro. Isso equivale a 191,66% ao ano. Vale ressaltar que tem banco que cobra 12,30% ao mês (302,31% ao ano). Já a taxa cobrada pelo empréstimo pessoal passou de 6,15% ao mês, em novembro, para 6,25% ao mês, em dezembro. Isso corresponde a 106,99% ao ano. Como nem todos, no Brasil, podem comprar à vista, esses financiamentos caros são alternativas. E tem mais, tem cartão de crédito que não te cobra anuidade, mas possui uma taxa de 15,99% ao mês (492,99% ao ano) no rotativo (taxa que incide sobre a diferença entre o valor pago e o total da fatura). E aí Presidente: como consumir com juros tão elevados?
Infelizmente a força do sistema financeiro é tão forte no Brasil que nenhuma força política consegue promover redução de juros de forma satisfatória. Paga-se muito quando precisa de dinheiro emprestado e ganha-se pouco quando se aplica numa caderneta de poupança. Em média, essa aplicação apresenta uma remuneração mensal de 0,65%, o que equivale a 8,08% ao ano (quase o que se paga por mês no cheque especial). E aí eu pergunto: no Brasil governa- se para o povo ou para atender aos interesses do sistema financeiro que enriquece a cada ano que passa? O leitor sabe a resposta, basta verificar os balanços mais recentes dos bancos brasileiros.
Enfim, não se quer desestimular o consumo, pois isso desaquece a economia e contribui para aumentar o desemprego. O que se quer aqui é alertar para consumir de acordo com as possibilidades de cada um. Comprar primeiro para atender às necessidades e só depois os desejos. Pesquisar preços (e qualidade, é claro!) melhores. Pedir descontos quando à compra é à vista (e, sobretudo se o pagamento for em dinheiro).
Em geral, o capitalismo prega o consumo. Explicita o valor das pessoas pelas roupas de marcas famosas que elas vestem, pelos carros zero quilômetros que elas têm etc. Isso é uma inversão de valores. Ética, honestidade, cidadania, bom caráter, entre outros nobres princípios, é que mostram o verdadeiro valor do ser humano. Sendo assim, desejo um feliz Natal e um ano de 2009 de felicidades e paz de espírito a você: leitor.
Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela UFAL (Universidade Federal de Alagoas), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá e Universo e do curso de Formação Gerencial do Instituto Educacional Machado Sobrinho, sendo todas a instituições em Juiz de Fora - MG.
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