"Roubo por fora": Como custa caro à sociedade!
Estamos a pouco menos de um mês para o primeiro turno das eleições (gostaria que a mesma acabasse de imediato no primeiro turno) e no papel de professor, educador e colunista, sinto-me no dever de discutir sobre política durante essa época. E para debater o assunto, novamente, enquanto estacionei meu carro na porta da minha residência, o nosso amigo Avatar (aquele mesmo dos artigos anteriores) apareceu para me cobrar com o mesmo bordão:
- O Senhor está na Zona! Tem de pagar para estacionar, mesmo que aqui seja um bairro e esteja na porta de sua residência.
Fazer o quê? Infelizmente tive que pagar. E pior, não tenho qualquer garantia de proteção ao meu veículo, caso aconteça algum dano com ele. Hoje entendo porque Zona Eleitoral, Zona Azul, Zona ... todas elas têm esse prefixo. O próprio Avatar (agora de vermelho, pois James Cameron estar em fase de teste das câmeras subaquáticas HD, para filmar Avatar 2) reclamou que em algumas ruas do Centro há ainda a extorsão não oficial por parte dos flanelinhas, ou seja, o contribuinte paga duas vezes para estacionar seu carro em algumas localidades. Onde está a Prefeitura de Juiz de Fora numa hora desta? E a polícia, o que a mesma pode fazer? Sinto muito a ausência do Estado no exercício de suas funções públicas, das quais uma delas é proteger a sociedade (é para isso que pagamos tantos tributos). Para se ter uma ideia, a arrecadação tributária do Brasil (ao longo de 2012 até então) ultrapassou a cada de R$ 1.000.000.000.000,00 (um trilhão de reais) há poucos dias. Para onde vai todo esse dinheiro?
Enquanto eu aguardava a minha esposa, aproveitei para conversar com o Avatar (que ainda me cobrou mais uma vez, pois havia passado mais de duas horas que eu esperava a minha esposa se aprontar para sairmos). Perguntei a ele como era a campanha política lá no planeta dele durante essa época e ele me disse o seguinte:
- Caro amigo Fernando (vejam como nossa amizade intergaláctica tem se fortalecido a cada artigo), entristeço-me muito nessa época do ano. São muitos candidatos despreparados para exercer uma boa administração pública. Verdadeiros analfabetos funcionais e totalmente ignorantes quanto à matemática básica querem administrar os recursos públicos de um município. Eu acho que para ingressar na vida pública, desde um vereador até um presidente, precisaria ter um curso de Administração Pública.
Eu perguntei ao Avatar:
- Mas lá no seu planeta não tem corrupção. Li no Jornal Galáctico desta semana que as contas da Prefeitura de sua cidade foram aprovadas e que nada de errado foi comprovado. Parece que vai tudo muito bem na sua cidade.
O Avatar interrompeu-me imediatamente:
- Ledo engano, Fernando. A corrupção tem adquirido novas formas. O "roubo por dentro" tem custado caro para os políticos desonestos. Eles desenvolveram o "roubo por fora", que funciona da seguinte maneira: alguns grupos poderosos economicamente financiam a campanha dessa corja de corruptos intergalácticos. Quando esses bandidos espaciais assumem a prefeitura de meu planeta (prefeito e vereadores), eles passam a legislar em favor das causas desses grupos econômicos. Tem até um caso em que uma grande empresa interplanetária (com sede em Marte) foi isentada de pagar um tributo anual da ordem de 5 milhões de merrecas (nossa moeda intergaláctica). Para compensar essa perda de arrecadação, a prefeitura reajustou alguns impostos lá no nosso planeta e quem paga é o cidadão mais pobre, que não teve o benefício que essa grande empresa teve.
Espantei-me com a situação, pois sempre acreditei na democracia intergaláctica. E para ampliar esse susto, o Avatar ainda me contou mais uma história:
- E tem mais: nosso planeta passou por alguns problemas com cometas que destruíram algumas ruas, bem como alguns vulcões anteriormente adormecidos resolveram voltar para destruir a nossa cidade. E aí, para contratar empresas para prestarem serviços à nossa prefeitura, descobrimos fraudes nos processos de licitação: o próprio prefeito e alguns vereadores criaram empresas em nome de "laranjas" que combinam os preços e dividem as licitações, ou seja, cada empresa já sabe qual a licitação que vai ganhar. Além de favorecer a grandes grupos econômicos, alguns políticos têm empresas que, de maneira fraudulenta, prestam serviços à própria prefeitura. O atual prefeito de nosso município lá no planeta em que moro é alvo de denúncias até de compra de votos: ele chama-se Estélio Natário. Se a lei da ficha limpa interplanetária, defendida pelos vereadores de Júpiter passar, ele não poderá ser candidato (graças a Deus).
- Caro Avatar, assisti a uma entrevista de um especialista em combate à corrupção que sugeriu que os preços das licitações fossem disponibilizados para toda a sociedade (on line e de acesso até mesmo antes de qualquer obra) para que assim, caso o preço de qualquer produto apareça bem acima do preço médio de mercado, as autoridades precisariam investigar, pois nessas licitações, o que preocupa e enche o bolso das empresas que participam e dos gatunos do dinheiro público são os superfaturamentos.
- Prezado Fernando, isso mesmo. Pois é inadmissível um saco de cimento para reformar crateras em Saturno ser comprado por 100 merrecas, quando o preço no mercado galáctico gira de 19 a 21 merrecas. Quando essas informações ficarem transparentes, a sociedade saberá se as licitações são idôneas ou não.
Enquanto a minha esposa ainda se arrumava, peguei um livro para ler, chamado "Viagens a Marte em 12 vezes sem juros", da famosa autora Deso Nesta. O Avatar estava a ler, da mesma autora, o livro "Venha passar o fim de semana em Urano". De repente, quando conversávamos sobres os referidos livros, percebemos que se tratava de livros exatamente iguais, mas com títulos diferentes. Ficamos por demais revoltados e resolvemos procurar o Código de Defesa do Consumidor Interplanetário para exigir explicações. Mas isso é assunto para outro artigo.
- Criança saudável, poupança cheia!
- No meio da crise, vale continuar a estimular crescimento via consumo?
- Você já foi abordado por alguém com promessas de enriquecimento fácil?
Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá, Universo e da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas a instituições em Juiz de Fora - MG. O autor ministra palestras, para empresas, na área de Educação Financeira. Saiba mais cliente aqui.
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