Fernando Agra Fernando Agra 14/06/2013

Inflação, política monetária, câmbio, economia do setor público, PIB e corrupção

economiaPrezados (as) leitores (as), economês puro no título deste artigo. A priori, para que não é familiarizado com a Economia, pode causar um enorme susto, mas as variáveis macroeconômicas supracitadas estão na moda, nos mais diversos meios de comunicação e afetam o nosso cotidiano microeconômico.

Para começo de conversa (ou melhor, de escrita), há uma relação de interdependência entre as referidas variáveis macroeconômicas e a partir de agora, vocês vão compreender melhor a sinergia entre as mesmas. A primeira a ser descrita é a inflação, que tem preocupado a economia brasileira recentemente. Contudo, é importante lembrar que em meados dos anos 80 e início dos anos 90, tínhamos uma inflação totalmente fora de controle. Lembro-me que em fevereiro de 1990, a inflação foi de 83% naquele mês (o que equivale dizer que nosso dinheiro sofria uma desvalorização média diária de 3% por dia útil). Dois dias daquele mês já superavam a inflação acumulada dos nossos últimos 12 meses (quase 6,5% ao ano). Não acredito que voltaremos a uma situação daquela, mas a inflação precisa ser controlada, pois ela prejudica de modo maior as classes mais pobres, que possuem uma maior propensão a consumir da sua renda disponível (e quanto mais pobre, maior a propensão a consumir gêneros de primeira necessidade, sobretudo alimentos). O governo elevou a SELIC para 8% ao ano na última reunião do COPOM (Conselho de Política Monetária) com o objetivo de desaquecer o consumo e diminuir a pressão sobre os preços. Vale ressaltar que essa medida auxilia a combater a inflação quando a mesma é de demanda (exceto demanda por alimentos), mas pode provocar uma inflação de custos. Será que esse aumento da SELIC teve intenção de atender à demanda do setor financeiro, que lucra muito com juros altos?

Essa alta da SELIC pode prejudicar ainda mais a recuperação da economia, que cresceu apenas 0,6% no primeiro trimestre (percentual abaixo das expectativas do mercado). Parece ambíguo: aumentar SELIC para combater inflação às custas do desaquecimento de uma economia que cresceu pouco. E para preocupar ainda mais o governo, a taxa de câmbio (R$/US$) sofreu uma depreciação da ordem de 7,5% nos últimos dias: US$ 1,00 passou de R$ 2,00 para R$ 2,15. Isso se deu em parte pela perspectiva de um aperto na política monetária americana, bem como pela fuga de capitais da bolsa de valores em função de algumas incertezas no rumo da economia brasileira. Com o câmbio depreciado, os produtos importados ficam mais caros e podem contaminar os preços dos produtos nacionais similares e fazer a inflação subir. Com isso, o governo eliminou o IOF do capital financeiro internacional que vem aplicar em títulos públicos brasileiros, para atrair mais dólares à nossa economia e forçar uma queda na cotação do mesmo. E tem mais, uma SELIC maior aumenta os gastos com o pagamento dos juros da dívida pública e amplia o déficit nominal do governo. Assim, o mesmo poderá aumentar alguns tributos e reduzir alguns gastos para obter uma folga maior no superávit primário. Mais tributos e menos gastos públicos desaquecem ainda mais a economia.

Conduzir os rumos da política econômica de um país é um árduo trabalho. E ainda maior numa economia globalizada que recebe influências da conjuntura internacional de modo mais intenso e rápido. É muito fácil ir à TV apresentar fórmulas mágicas e mirabolantes de combate à inflação e promoção do crescimento do PIB. O que de fato precisa ser feito é despertar na classe política uma visão de longo prazo, que priorize os investimentos na economia de modo a ampliar a nossa Curva de Possibilidade de Produção (capacidade produtiva), para que o país possa crescer sem se preocupar em provocar pressão nos preços. Independente de partido político, noto que as variáveis macroeconômicas melhoraram nos governos de FHC, Lula e Dilma, mas faltou e falta em todos eles essa visão de longo prazo.

Nossos governantes (e aí incluo secretários de municípios e de Estados, ministros, vereadores, prefeitos, deputados, governadores e presidentes) precisam saber que foram eleitos (exceto os secretários, que deveriam ser escolhidos por competência, mas às vezes são escolhidos por interesses políticos, e pior, alguns ainda são mantidos mesmo quando os governos mudam, por quê? Ainda bem que alguns secretários não foram mantidos. Ainda bem!) e não "ungidos". Os políticos precisam saber que são servidores públicos e para isso são pagos (e muito bem pagos) para servir à sociedade. Precisam governar em favor do povo e não em favor dos grandes grupos econômicos. No nosso país, uma variável terrível que prejudica por demais (fazia tempo que não usava esse termo) a economia é a corrupção. E não somente a corrupção no alto escalão, mas também aquele no campo individual. Os gastos com obras públicas precisam estar on line na internet para que a população saiba quanto custou cada item. Assim, evita-se o problema do superfaturamento que enrique ilicitamente políticos desonestos, favorecem empresários sem escrúpulos e prejudicam a população. Para quem, de fato, os governantes (prefeitos, governadores etc.) governam? Para a população ou para empresas de ônibus, empreiteiras, construtoras, gráficas etc.?


Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Universo, Estácio de Sá, Vianna Júnior e da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas as instituições em Juiz de Fora - MG. O autor ministra palestras, para empresas, na área de Educação Financeira, Gestão de pessoas, Relacionamento Interpessoal, Marketing Pessoal e Gestão do Tempo. Saiba mais clicando aqui

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