A crescente trajet?ria do cineasta juizforano que usa o document?rio para refletir sobre tempo e mem?ria
Marcelo Miranda
Rep?rter
11/03/2006
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"O rolo de filme ? um cemit?rio de mem?rias". Esta id?ia est? t?o presente na cabe?a do cineasta juizforano Marcos Pimentel que ele batizou um de seus filmes justamente com o t?tulo "Cemit?rio da Mem?ria".
Talvez esteja certo em seguir o pensamento: o curta, lan?ado em 2003, ? um de seus trabalhos mais premiados e elogiados entre tantos e apenas mais um projeto em que ele imprime na tela certa obsess?o saud?vel pelo tempo e pela mem?ria.
Para ele, o tempo ? o conceito que mais lhe fascina. "? algo que n?o compreendo muito bem, n?o consigo explicar e sinto de diferentes formas. Procuro, atrav?s dos meus filmes, entender como o tempo funciona", diz Pimentel. J? a mem?ria ? mais simples de definir: "ela ? basicamente formada por fragmentos de determinadas ?pocas e lugares, ? a eterniza??o de um momento". N?o ? ? toa que uma de suas influ?ncias cinematogr?ficas ? o franc?s Alain Resnais, diretor de "Hiroshima, mon amour" (1959) e "O Ano Passado em Marienbad" (1960) obras que mexem com as duas quest?es de tempo e mem?ria.
Nascido em 1977, Marquinhos (como ? conhecido entre amigos e familiares) j? possui carreira razoavelmente bem tra?ada. Desde que se tornou diretor independente de document?rios em curta-metragem, acumula 15 filmes e mais de 40 pr?mios em festivais nacionais e internacionais. "Nada com Ningu?m", realizado em Cuba, ? o campe?o, com 18 pr?mios e exibi??o em 64 festivais.
Caminho tra?ado no audiovisual
A trajet?ria de Pimentel no audiovisual come?ou quando ainda era estudante
acad?mico. Cursou paralelamente Psicologia no Centro de Ensino
Superior (CES) e Comunica??o Social na Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF).
Terminou ambos em 2000. "Fui o ?nico da minha turma de Comunica??o a optar pela forma??o em R?dio e TV", relembra. "Desde ent?o eu j? estava envolvido em produ??o de comerciais locais e alguns curtas". O ent?o formando produziu os dois primeiros filmes do colega Rog?rio Terra ("Sob a Sombra dos Anjos" e "Os Fantasmas da Cidade") e a vis?o profundamente particular de Jos? Sette sobre o poeta Murilo Mendes em "A Janela do Caos".
Em seguida, tamb?m participou da produ??o de "Deus me Livre", de Alexei Divino, e "Jo?o Carri?o - Amigo do Povo", de Martha Sirimarco. Nessa ?poca, Marquinhos dirigiu seu primeiro projeto em pel?cula de cinema: "O Que a Feira Livre Tem", finalizado em 16mm.
"Eu sentia atra??o muito grande pelo document?rio, mas n?o via possibilidade de seguir fazendo isso em Juiz de Fora. Por isso fui ajudando os amigos para poder ganhar algum dinheiro", conta. Foi quando o jovem recebeu convite para ser produtor de v?deos de capacita??o educativa na Rede Minas, em Belo Horizonte. "Serviam pra treinar e orientar professores a como apresentar o conte?do aos alunos", diz. Mas n?o ficou muito tempo. Em 2001, Marquinhos teve aprovada sua primeira proposta na Lei Murilo Mendes: o v?deo "As Princesas de Minas", que registrava a hist?ria de JF contada sob um olhar feminino. Pimentel voltou ? cidade no intuito de dar vida ao trabalho.
"Descobri de vez que o document?rio era mesmo a minha praia. E tamb?m aprendi na experi?ncia a selecionar imagens. Eu tinha 52 horas de grava??o para um v?deo de 52 minutos", comenta. Terminado "As Princesas de Minas", o rapaz partiu para o Rio de Janeiro e fez cursos de especializa??o com o lend?rio Eduardo Coutinho (mais importante documentarista em atividade no Brasil, diretor de "Cabra Marcado para Morrer" e "Edif?cio Master", entre outros) e Jo?o Moreira Salles, outra figura de renome no meio, realizador de "Not?cias de uma Guerra Particular" e "Nelson Freire".
Ao retornar, teve r?pida passagem pelo extinto "Minuto no Campus", que
consistia em filmetes sobre a universidade, e voltou a Belo Horizonte,
novamente na Rede Minas.
Passou a roteirizar, produzir e dirigir v?deos
institucionais e educativos. Nas horas de folga, dirigiu na capital mineira
"Sobreviventes", em que mostrava o cotidiano de dois irm?os pobres de uma
favela de BH em contraponto ao dia-a-dia de um garoto rico.
Em Cuba
Na metade de 2002, um concurso mudaria a vida de Marquinhos. Aprovado para
uma bolsa de dois anos na prestigiada Escola Internacional de Cinema e TV
de San Antonio de los Ba?os (EICTV), em Cuba, partiu para o pa?s. "At?
ent?o eu n?o tinha qualquer perspectiva de evoluir na realiza??o de
document?rios. Quando vi a oportunidade de ir pra Cuba, me animei". Por l?
ficou de setembro de 2002 a julho de 2004, mas sem deixar o Brasil de lado.
"Nas minhas f?rias sempre conseguia vir pra casa. Numa dessas viagens,
inscrevi e fui aprovado com outro projeto na Lei Murilo Mendes", conta. Era
"Biografia do Tempo", dirigido em parceria com Joana Oliveira e que
mesclava imagens do documentarista cubano Santiago Alvarez com textos
narrados de Pedro Nava.
Em Cuba, Pimentel idealizou e finalizou sete trabalhos para o curso - entre eles, "Nada com Ningu?m" (foto ao lado). "? o que mais gosto dos que fiz. Foi o primeiro no curso, o primeiro em que apare?o fisicamente e o que tenho liga??o afetiva mais forte com o personagem retratado", afirma. O filme mostra um velho vivendo numa montanha, isolado de qualquer contato com o mundo exterior. Outros feitos em Cuba tamb?m tiveram carreira em festivais, sendo os principais "O Ch?o e o C?u", sobre os sonhos de jovens boxeadores; e "Ilha", reflex?o a respeito de se viver rodeado de ?gua numa ilha.
Tamb?m enquanto estava em Cuba, Pimentel vivenciou, no Brasil, dois fatos que mexeriam de novo com sua trajet?ria: teve aceito no Minist?rio da Cultura o projeto "O Maior Espet?culo da Terra", acalentado pelo cineasta desde 2001, sobre um pequeno circo mambembe do norte de Minas; e a not?cia de que ganhara mais uma bolsa para seguir estudando document?rios, desta vez na Filmakademie Baden-W?rttemberg (Alemanha). "Ent?o eu sabia que, quando voltasse ao Brasil, teria muito o que fazer: filmar o circo e me preparar pra viajar de novo".
Trabalho e projetos
Na Europa, Marquinhos ficou por oito meses e fez tr?s filmes: "Ruminantes",
o principal deles, um ensaio sobre vacas nas montanhas que serviu de
conclus?o do curso; "O Lugar do Vazio", trabalho extremamente pessoal e sem
sentido aparente; e "Anjos", realizado com restos de imagens n?o
aproveitadas de um bal? infantil.
Diferente de quando veio de Cuba, o documentarista n?o tinha o que fazer ao voltar da Alemanha . "Foi duro, n?o havia nada engatilhado", conta. Mas bastaram cinco dias "desempregado" para surgir nova oportunidade, agora pela TV Cultura: realizaria a campanha de lan?amento do canal Cultura Brasil, novo "bra?o" da emissora p?blica em Bras?lia. Somado a isso, ele tamb?m tem roteirizado a s?rie "Almanaque Brasil" para uma empresa a?rea. S?o v?deos de cinco minutos sobre cultura brasileira exibidos durante v?os.
Engatilhados, j? existem mais dois projetos pessoais, obviamente documentais: um sobre a rela??o entre dor e bal?; e outro a respeito de pessoas que vivem na estrada - caminhoneiros, prostitutas, borracheiros, donos de bares. Enquanto n?o saem, Marquinhos trabalha de sua casa em Juiz de Fora e administra a participa??o de seus filmes nos festivais para onde s?o convidados ou aprovados. Recentemente, "O Maior Espet?culo da Terra" teve exibi??o em mostra paralela do Festival de Berlim e estar? no Festival do Recife no segundo semestre.
Planos de dirigir um longa-metragem? "Sou completamente apaixonado pelo formato do curta, ? onde se pode experimentar, aprender e oferecer alguma coisa diferente. Tudo o que tenho a dizer e refletir, eu consigo no curta-metragem". Logo, ainda podemos esperar muitas p?lulas de tempo e mem?ria desenvolvidas por Marcos Pimentel.
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