Penitência e caridade marcam o período da Quaresma Entre as abstinências mais praticadas pelos cristãos estão a de carne, doces e bebidas alcoólicas. Há quem deixe de fumar e assistir a telenovelas

Aline Furtado
Repórter
26/2/2010

Para muitos, a Quaresma, período de quarenta dias compreendidos entre a Quarta-feira de Cinzas e o Domingo de Páscoa, é sinônimo de reflexão sobre os ensinamentos de Cristo, conversão e mudança de vida. De acordo com o vigário geral da Arquidiocese de Juiz de Fora, monsenhor Miguel Falabella, a prática lembra o período de jejum e a oração de Jesus enquanto se preparava para sua grande missão.

A Quaresma foi criada duzentos anos após o nascimento de Jesus, quando os cristãos decidiram preparar a festa da Páscoa, que inicialmente tinha três dias de prática de oração, meditação e jejum. O significado do período quaresmal, para os cristãos, é exatamente a preparação para a Páscoa. "A celebração da Páscoa tem grande importância no calendário litúrgico, já que remete à ressurreição de Jesus. Com isso, nos preparamos para a data, aprofundando a palavra de Deus e intensificando os princípios essenciais da fé", explica o vigário geral.

Segundo Falabella, este tempo requer três obras clássicas dos cristãos. Uma delas é o jejum, que se caracteriza pela restrição a alimentos. A oração é outra obra que deve ser praticada com mais intensidade durante o período quaresmal. A terceira ação é a partilha do que possuímos em benefício dos mais necessitados. "A quaresma deve machucar um pouquinho aquele que pratica o sacrifício, só assim é possível refletir e melhorar o modo de viver", destaca, lembrando que as pessoas fazem diferentes tipos de penitência, além da abstinência de carne, doces e bebidas. "Há quem deixe de fumar e de assistir a telenovelas", completa.

A tradição de não comer carne durante as sextas-feiras da Quaresma foi instituída pela Igreja Católica no século IV. Além da abstinência de carne, segundo Falabella, existe o jejum canônico, que sugere a redução das refeições matinal e vespertina pela metade. Ele lembra que a Igreja Católica sugere que os fiéis substituam o jejum canônico, que é mais rigoroso, por outras obras de caridade. "As pessoas podem doar roupas, tempo e o coração às pessoas que precisam."

A dona de casa Maria José de Carvalho Aguiar está praticando abstinência de carne pela primeira vez, motivada por uma promessa. "Devido a um problema de saúde de uma das minhas filhas, resolvi fazer este sacrifício durante os quarenta dias da Quaresma. Hoje ela está bem e, inclusive, também está fazendo a penitência." Para Maria José, a maior dificuldade é preparar o alimento para o restante da família sem poder ingerir, já que adora carne. Como forma de fazer caridade, além de se privar do alimento, a dona de casa compra a carne que seria consumida por ela e doa a uma família carente.

Para o estudante Fernando Toledo, Quaresma é sinônimo de não ingerir bebidas alcoólicas. "Tenho o hábito de praticar a penitência há alguns anos devido a uma promessa. Não tenho dificuldade, embora às vezes os amigos insistam que eu beba. Mas quando explico o motivo, as pessoas respeitam."

Com relação aos exageros referentes às penitências praticadas durante a Quaresma, o vigário geral lembra que o cristão não deve ser prejudicado com o ato de penitência. "As pessoas que estão doentes, por exemplo, devem fazer um sacrifício mais modesto. Não é indicado retirar a carne sem que haja a substituição por outro alimento com valor nutricional equivalente."

Os textos são revisados por Madalena Fernandes


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