Amanda Beloti Amanda Beloti 22/04/2015

Dor muscular sem aparente motivo? Pode ser um ponto gatilho

Olá queridos leitores! Hoje vou falar de um tema muito frequente no dia-a-dia de todos nós, mas que na maioria das vezes a pessoa nem se dá conta do que é: os pontos-gatilho ("trigger points"). Eles são aquelas "bolinhas" musculares que sentimos quando apalpamos certos locais que estão muito tensos e doloridos (com mais frequência nos nossos ombros).

Essas "bolinhas" são chamadas "pontos-gatilho miofasciais" ("mio" vem de músculo e "fasciais" vem de fáscia, que é uma membrana fininha que recobre todos os nossos músculos do corpo). Esses pontos são hipersensíveis à palpação, mas a dor pode aparecer tanto quanto apertamos o local ou até mesmo espontaneamente, em repouso, resultando em uma sensação latejante que se espalha para outros lugares. Quando são em região próxima ao ombro, os braços parecem ficar pesados e temos dificuldades em funções simples, como levantá-los para servir um café, por exemplo. A dor de um ponto-gatilho perto do ombro pode se espalhar e chegar até ao punho, dando uma falsa sensação de que existe uma disfunção naquela articulação, que na verdade se encontra saudável!

Como estes pontos se formam ainda é discutido, ainda não existe uma teoria 100% completa. Pode vir de comandos cerebrais complexos, mas na maioria das vezes ocorre quando um músculo fraco é muito solicitado. Os pontos-gatilho se encontram em bandas tensas, que são grupos de fibras musculares contraídas o tempo todo ao longo do músculo (ilustrado na próxima imagem). Isso é extremamente prejudicial, pois esta contração mantida o tempo todo (que sentimos como "tensão muscular") comprime os vasos sanguíneos, deixando chegar menos sangue ao ponto-gatilho, que, desta forma, não vai melhorar. Esta redução de suprimento sanguíneo causa mais pontos, menores, que são chamados de satélites. Isto vira um ciclo vicioso, que vai só causando mais dor, mais tensão e menos suprimento de sangue pro músculo prejudicado.


Na nossa palpação como fisioterapeutas, o que sentimos é o que está ilustrado abaixo. Um nodo muscular que, ao ser atingido, causa dor ao paciente.

Os locais mais atingidos por esses nodos musculares são a região cervical, o músculo trapézio, a região entre as escápulas, a musculatura lombar e os glúteos (neste local, pode ajudar na piora da famosa "dor ciática"). Quando próximos à cabeça podem causar dores de cabeça intensas que podem muitas vezes ser confundidas com enxaquecas ou acometimentos mais graves. Podem estar presentes também nos músculos da mastigação, nas pessoas que tem problemas ortodônticos ou bruxismo. Mas eles podem ser encontrados em qualquer lugar do corpo. Veja na figura abaixo os locais mais comuns:

Nesta imagem abaixo, que mostra a termografia muscular, podemos notar estas regiões mais propensas a tensões musculares.

Os pontos-gatilho podem estar ATIVOS ou INATIVOS. Quando estão ativos, percebemos dor quando comprimimos com o dedo, ao repouso ou a um simples movimento executado. Esta dor é intensa, latejante e capaz de incapacitar o músculo atingido, impedindo o paciente de executar suas atividades diárias. Quando estão inativos, a dor é causada apenas pela compressão com o dedo e cessa quando a pressão é retirada. Mas mesmo assim o músculo fica desfavorecido em sua mecânica normal.

Em um músculo que tem ponto-gatilho ativo, encontramos fadiga em excesso, tensão muscular, fraqueza para realização de movimentos simples, espasmos (que são contrações involuntárias) e contração muscular extremamente dolorosa.

São várias as causas, mas o que pode, principalmente, gerar um ponto-gatilho?

  • Traumas musculares ou quedas
  • Movimentos repetidos
  • Movimentos bruscos
  • Inflamação em alguma estrutura articular próxima (em tendão, bursa)
  • Sobrecarga do músculo no dia-a-dia
  • Stress emocional
  • Deficiência nutricional
  • Alteração postural (até para andar e muitas vezes dormir em posições erradas)

E qual o problema de não se tratar um ponto gatilho? A dor piora com a movimentação diária e com os esforços que fazemos naturalmente, dando a oportunidade de surgirem novos pontos como mencionado anteriormente. E esse surgimento pode sair do controle, gerando dores tão fortes instaladas há tanto tempo que causam a "Síndrome Miofascial", também conhecida como "Dor Crônica". Esta síndrome vem acompanhada de diversos outros fatores, mas o não tratamento dos pontos no início é um dos agravantes que geram esta complicação. O paciente fica cheio de pontos-gatilho, contraturas musculares mais graves, dores espalhadas por todos os músculos até mesmo em repouso absoluto. Afeta os músculos, os tendões, os ligamentos e as bursas, além do emocional e da vida social/pessoal do paciente. Os acometimentos são tantos, que levam o paciente a um estado tão incapacitante que fica quase impossível não entrar em depressão.

Não é fácil prevenir o aparecimento dos pontos-gatilhos, uma vez que eles podem aparecer em qualquer lugar do corpo, mas é possível reduzir sua incidência dependendo da disciplina do indivíduo:

  • Buscar melhorar a postura no trabalho, em casa, para andar e para dormir
  • Prática regular de uma atividade física, que aumenta a circulação sanguínea (e consequentemente a nutrição muscular)
  • Buscar sempre um relaxamento pós atividade física, com alongamentos lentos para aumento de flexibilidade e analgesia
  • A acupuntura também é uma excelente opção para quem não tem medo das agulhinhas e traz milhares de outros benefícios – como melhora do sono e um bem-estar geral

Ao sentir um nodo muscular dolorido, procure um fisioterapeuta. Ele é capacitado para aplicar diversas técnicas curativas e preventivas, para que seu ponto-gatilho não evolua para uma síndrome mais grave, aliviando sua dor, relaxando sua musculatura, prevenindo o aparecimento de novos nodos, atuando na percepção corporal, mudança postural e auxiliando você também a dormir na posição correta, já que muitas lesões ocorrem na hora do nosso sono. Se os pontos forem em músculos da mastigação, além do fisioterapeuta será necessário o acompanhamento de um dentista, que definirá a melhor conduta para acabar com o mecanismo de lesão (que pode ser na alimentação ou dormindo), somando sempre ao tratamento fisioterápico. E se os pontos forem muitos, o fisioterapeuta pode recorrer ao auxílio médico, para que uma medicação correta contribua na evolução do tratamento. Nunca tome remédio sem consultá-lo previamente. O tratamento multidisciplinar (com vários profissionais trabalhando em conjunto e harmonia) é sempre a melhor opção em todos os casos. Mas não perca tempo sofrendo! Afinal... Ninguém precisa viver com estas dores!


Amanda Beloti é fisioterapeuta graduada em 2009 pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Cursa Especialização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica pela mesma instituição. Instrutora Internacional de Pilates pela Pilates Plus (autorizada pela Associação Norte-Americana de Pilates). Sócia-proprietária do Consultório de Fisioterapia e Pilates STUDIO A. Saiba mais.

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