Cuidar de doentes e idosos exige paciência e dedicação dos familiares

O excesso de trabalho pode causar transtornos físicos e psicológicos. Ter um tempo para cuidar de si mesmo é fundamental, revelam os especialistas

Andréa Moreira
Repórter
21/7/2012
idoso

Cuidar de uma pessoa doente ou de um idoso com alguma restrição física ou motora não é uma tarefa fácil. E este trabalho fica ainda mais difícil quando este indivíduo é um familiar. Pois, além do desgaste físico, o lado emocional do cuidador fica muito abalado.

A dona de casa Luíza Fabri Carneiro, 63 anos, sabe muito bem o que é este tipo de desgaste. Após cuidar, por três anos, do seu pai, que padecia com a doença de Alzheimer, Luíza revela que sofria ao ver o sofrimento do pai. "Era horrível, pois ele esqueceu de todos os filhos. Tínhamos que vigiá-lo 24 horas por dia, para que não fugisse ou se machucasse."

Apesar de contar com a ajuda dos irmãos e parentes, Luíza ressalta que a única ajuda especializada que teve era do médico que cuidava do seu pai. "Ele perdeu toda a autonomia. Tínhamos que dar banho, trocar fraldas e dar comida. E fazíamos tudo isso, somente com a orientação do médico", conta.

Situação semelhante viveu a dona de casa Divina Henriques, de 63 anos, que há cinco anos cuidou do seu marido, que teve câncer no estômago. "Foi um período muito cansativo. Primeiro a descoberta da doença, depois a rotina do hospital, e claro, o período pós-operatório." Como Luíza, Divina também não contou com a ajuda de nenhum especialista, durante este período. "Passei por essa fase fazendo tudo praticamente sozinha. Isso tudo me deixou muito cansada e estressada", desabafa.

Para a psicóloga e coordenadora do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS Idoso / Mulher), Arlene Silvana da Motta Pires, pessoas que cuidam de doentes ou idosos têm que reservar um tempo para si. "As pessoas têm que admitir que elas precisam do seu tempo e que também necessitam de ajuda, pois este tipo de tarefa é muito desgastante. Ter uma atenção especial com quem cuida é fundamental também para a saúde do doente", destaca.

A codependência

Segundo o psicólogo Leonardo Barreto Vargas, que trabalha há cinco anos com idosos, a sociedade tem uma ideia ampla de dependência, a qual pode ser física, psíquica ou afetiva, fazendo com que a população crie uma expectativa muito grande em relação aos familiares mais velhos. "Construímos uma imagem de que nossos pais são inatingíveis. E quando eles não conseguem mais realizar algumas funções, os filhos passam a adotar estas responsabilidades. A gratidão faz com que os filhos assumam o papel dos pais, criando assim uma relação de codependência."

Entretanto, o psicólogo ressalta que a inversão dos papéis pode não ser permanente e isso deve ser cuidadosamente observado pelos familiares, porque isso pode prejudicar ainda mais a vida dos doentes e, principalmente, dos idosos. "Os filhos, netos, sobrinhos, enfim, os familiares mais novos em geral, têm que aprender a respeitar a autonomia das pessoas que recebem cuidados. Por exemplo, algumas vezes, os pais perdem alguma capacidade momentaneamente, mas depois eles recuperam. Porém, o filho continua fazendo aquela função, deixando, assim, a pessoa mais velha desestimulada. Esse tipo de atitude sobrecarrega tanto os familiares, quanto os idosos."

Sociedade envelhecida

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a população brasileira está envelhecendo muito rapidamente. Em 1960, 3,3 milhões de pessoas tinham 60 anos ou mais. Já em 2010, essa faixa etária passou para 20,5 milhões, o que representa quase 11% da população do Brasil. Em Juiz de Fora, este índice é ainda maior, como revela o geriatra Márcio Borges. "Atualmente 13,5% da população de Juiz de Fora é de idosos, ou seja, com mais de 60 anos. E, apesar do assunto envelhecimento estar em pauta, eu percebo que existem poucos especialistas. A cidade tem poucos geriatras e o Brasil acabou de atingir a marca de mil médicos com títulos nesta especialidade."

Pensando em minimizar este problema, o médico criou, há cinco anos, um site que trata de assuntos relacionados às doenças da velhice. "O site tem a colaboração de vários especialistas, como fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais. Além de tratarmos de certas doenças, como Alzheimer, artroses, acidente vascular cerebral, Parkinson, entre outras, neste local, as pessoas podem fazer alguns cursos totalmente gratuitos, que auxiliam no cuidado com os idosos."

Profissão do futuro

Atualmente, com o crescimento da população idosa, vários cursos são direcionados para essa população. Apesar de receber o nome Cuidador de Idosos, o curso pretende suprir as necessidades não só dos idosos, mas de quaisquer pessoas que perderam alguma mobilidade física ou mental.

Nestes cursos, os cuidadores vão além dos conhecimentos das áreas da saúde e psicológica, como explica a professora Cristina Domingos de Oliveira. "O curso, além de ensinar coisas primordiais, como aferir pressão, trocar fraldas, prevenir acidentes, vai além, pois tratamos até da área psicológica e jurídica, quando estudamos o Estatuto do Idoso. Lembrando que o curso atende também a pessoas que precisam cuidar de doentes com qualquer outro problema."

Remuneração

Os salários para essa profissão podem variar de R$ 50 a R$ 70 por dia, entretanto, Cristina destaca que, para ser um cuidador de idoso, a exigência principal é a dedicação. "A primeira coisa que falo durante o curso é que se alguém está ali somente pelo dinheiro, não precisa continuar. Pois, para cuidar de uma pessoa doente ou de um idoso, a primeira coisa que precisa-se ter é o amor pelo ato de cuidar. É um trabalho árduo, mas para quem gosta, a recompensa é fazer com que a pessoa cuidada sinta-se melhor."

Os textos são revisados por Mariana Benicá

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