Especialista explica tudo sobre o zika vírus
Repórter
Desde novembro de 2015, o zika vírus tomou o noticiário brasileiro após a possibilidade de associação dos casos da doença com bebês desenvolvendo microcefalia, ainda durante a gravidez.
Com um clima favorável encontrado no Brasil, o Aedes aegypti, o mesmo mosquito transmissor da dengue, também é o vetor desta "nova" doença. "A princípio, o zika vírus foi descoberto na década de 40, na África, e nunca teve uma grande relevância em questão de sintomas e letalidade. Acredita-se que com o trânsito de pessoas viajantes no mundo, esse vírus foi disseminado, mas sem grande expressão. O Aedes é quase que ausente na Europa, é mais na parte centro-sul apenas, e são poucos casos. Na década de 50, até o próprio Brasil não tinha esse mosquito. Com as cidades crescendo desordenadamente, e o mosquito tem um aspecto para boa adaptação ao ambiente urbano, ele teve um boom reprodutivo. O zika entrou no Brasil no ano passado pelo Nordeste, encontrou um ambiente favorável e o vírus começou a transmitido", explica o médico da coordenação da dengue da Subsecretaria em Vigilância em Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora, Marcos Moura.
Apesar da doença ser considerada nova, Moura garante que os sintomas são considerados mais brandos em relação à dengue e a chikungunya. "A dengue é a principal doença, pois é a que mata na fase aguda. São quatro tipos virais, que podem agravar infecções posteriores. Já na forma crônica, o chikungunya tem um potencial enorme de causar doenças debilitantes e articulares, além da diminuição da capacidade motora para o resto da vida. É uma doença que pode deixar uma sequela para sempre, e é muito fácil de ser transmitida. As pessoas que se contamina têm sintomas. No caso da dengue, 80% das pessoas já tiveram e não sabem. Pode acontecer. Das três, o zika é o "primo pobre". Ninguém esperava muito dela. A pessoa com zika não reclama da doença. Reclama que está ficando vermelha. É branda, com pouca dor articular, às vezes uma conjuntivite como queixa clínica. Ela se tornou um problema no pós doença, com associação a microcefalia e doenças neurodegenerativas. Potencialmente, se tornou a mais grave. As sequelas dão maior medo e alarde na população", acredita.
Microcefalia
Sobre o surto de microcefalia, o profissional acredita que, assim como outros vírus que já passaram pelo mundo, a tendência é diminuir com o passar do tempo. "A microcefalia gerou uma sensação de comoção mundial, é uma situação debilitante, em que as pessoas mais carentes vão ficar na dependência social e econômica do Estado. Mas a doença atinge rico, pobre, negro, branco... Até então, ano após ano, as pessoas não se preocupavam com o Aedes, que é o vetor também da dengue. A zika é diferente? Talvez não. As viroses são típicas. Há pouco tempo teve o H1N1, que chegaram a falar no fim da humanidade e já foi. Quando acabar o zika, provavelmente, teremos uma nova epidemia viral. É assim que funciona", fala Marcos.
Ainda segundo o profissional, os casos de microcefalia associados ao vírus ainda dependem de maior estudo e comprovação. "O problema é que doenças ganham importância quando estão em grande incidência. Nunca houve um período onde se viu tantos casos deste vírus juntos. Aqui no Brasil, aconteceu uma coisa peculiar. Na Colômbia, não se tinha observado microcefalia, apesar de casos de zika vírus lá. Na Polinésia Francesa houve casos, mas devido a permissibilidade do aborto, não foi nada relatado. Aqui, essa grande quantidade de notificações não estão sendo tratadas somente por conta da microcefalia. Ela é mais notória, as pessoas sentem-se inseguras. Mas tem casos de morte, pneumonia, danos neurológicos... A gente sabe que qualquer doença viral é capaz de provocar tudo isso. Hoje, existem várias doenças similares, virais, sendo transmitidas em grande quantidade e acometendo um grande número de pessoas. Por isso, tudo ainda é uma penumbra. O fato é que a microcefalia não era tão observada de um ano pra cá. Há um grande número de casos associados as pessoas positivas para o zika. No entanto, existem muitos outros casos notificados de microcefalia que não tem ligação com vírus. Agora é preciso separar o que é relacionado e o que não é. Estamos em um período de adaptação, de avaliação direta... Não há uma comprovação científica ainda. O que existe hoje é que existem muitos casos de microcefalia e existe uma doença viral afetando um grande número de pessoas. É uma relação epidemiológica direta, mas não quer dizer que seja uma verdade ainda", garante o profissional.
Testagem e tratamento
Com a doença em evidência, surgem dúvidas quanto ao tratamento para saber se o paciente tem ou não a doença. De acordo com Moura, a expectativa é que o zika vírus seja como outras doenças virais. "No futuro, pode ser que o zika seja como era esperado: uma doença que, uma vez infectada, a pessoa se cura e não tem mais a doença. Em tese, a zika não tem muita diferença para outras doenças transmitidas pelo Aedes. As pessoas são identificadas pela relação clínica. Se a pessoa for bem acolhida e tratada como se fosse uma dengue, ela vai ser curada. Nós imaginamos que uma pessoa curada desenvolva anticorpos e fique protegida para esse vírus para o resto da vida, como uma vacina. Se desenvolver uma resposta imunológica efetiva, não vai ter um problema. O Brasil é um dos países que mais investe em vacinas e com a zika acredito que vai ser a mesma coisa. Mas como ainda não existe a vacina, as pessoas têm medo de ter problemas futuros. Daqui um tempo, ela deve sumir das pessoas. Temos que esperar, isso ainda é muito novo e vai demorar um ou dois anos", comenta.
Sobre a testagem para descobrir se tem ou não a doença, o médico comenta que, no momento, o Governo prioriza as grávidas. "O teste é importado e custa em torno de R$ 300,00 e o SUS tem em pequenas quantidades. A prioridade são as mulheres grávidas, que fazem parte do grupo de risco. Elas são testadas, mas não têm o que fazer para mudar o curso da doença, não existe um tratamento [contra a microcefalia]. Houve, um tempo atrás, uma liberação dos planos de saúde para a realização de testes da dengue e chikungunya. Porém, o teste da zika ainda não foi liberado pela Anvisa", conclui.
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