e-Sports e o Respeito
Salve leitores e desbravadores do incrível Planeta Videogame. Hoje vou tocar num assunto mais delicado que nitroglicerina e tão explosivo quanto: o e-Sports.
Para quem não conhece ou nunca ouviu falar em e-Sports, uma definição rápida seria “esporte eletrônico”. Ou seja, falamos de games sendo jogado de forma competitiva por cyberatletlas, jogadores de videogame de alto rendimento, que treinam e jogam como se fossem um atleta mesmo. O assunto chegou a ser coberto até pelas grandes redes de televisão, como a Rede Globo, mostrando que o e-Sports, e os games em geral, estão tendo um devido reconhecimento... ou quase isso.
Eu digo “quase isso” porque a situação ainda é estranha aqui. É o respeito. Ou a falta dele, na verdade. É simples: o e-Sports ainda não é visto como um esporte no Brasil.
Por definição, esporte é toda atividade física ou mental, individual ou coletiva, que demanda dedicação e treinamento pelas partes praticantes. Portanto, o e-Sports é um esporte de fato. Os cyberatletas passam, em média, de 8 a 12 horas por dia praticando no game-modalidade. Aqui no Brasil, as equipes costumam morar em casas específicas (algo nas entrelinhas de um Centro de Treinamento) onde, além de viverem, passam HORAS treinando. Tudo isso para focarem-se cem por cento no objetivo. É uma atividade mental, o videogame, e isso não precisa ser discutido. Não só mental, mas motora também, haja vista a necessidade de reflexos afiados e, dependendo da modalidade – como o Starcraft – velocidade nas mãos (destreza) é essencial.
Ora bolas, Poker é considerado esporte e o e-Sports não seria considerado por quê?
Mas o que acontece para a “falta de respeito”, tendo em vista que todos os “pré-requisitos” estão preenchidos?
De onde vejo essa questão, enxergo alguns problemas. O primeiro e mais clássico é o caso do “Videogame é coisa de criança”. Não sejamos idiotas: Isso não é um problema específico do Brasil. A especificidade entra na preguiça que nós, brasileiros, temos de mudar conceitos. Pesquisas realizadas aqui no país indicam que a maioria das pessoas que jogam games, na realidade, tem entre 20 e 35 anos de idade. E ainda vemos isso como coisa de criança. Talvez seja uma questão de gerações e daqui alguns anos essa mentalidade mude.
A segunda questão, essa talvez mais perigosa, é o preconceito com jogos eletrônicos. É algo que esbarra na primeira questão, mas é muito mais profundo que isso. Vemos uma leva de pessoas que se acham superioras falando que videogame é perda de tempo e que quem gosta disso é gente que “não tem nada melhor para fazer” (nas palavras de um parente muito próximo meu). Não é algo inventado: Eu ouvi dezenas de pessoas dizendo que “isso é apenas uma reunião de virjões (sic) marmanjos assistindo joguinho de videogame”. Ouço, ainda hoje, de pessoas que se dizem superioras que eu sou um “marmanjo que joga joguinho”.
É o argumento mais chato e repetitivo do universo, mas é o mais conciso e contundente: Os games não são mais uma exclusividade infantil. É uma indústria que movimenta mais grana que o cinema. É coincidência que os jogos mais vendidos são jogos focados para o público adulto? Oi? GTA: V? Oi? The Witcher 3?
Hoje, o e-Sports (que abrange diversas categorias – os games jogados – mas é mais conhecido atualmente pelos MOBAS, games como League of Legends e SMITE) é um negócio (no sentido literal da palavra) altamente lucrativo para diversas partes: Àqueles que praticam, àqueles que patrocinam e, principalmente, àqueles que organizam. O torneio (único?) oficial de DotA 2, o The International pagou pouco mais de dezoito milhões de dólares à equipe vencedora do torneio que terminou no comecinho de Agosto. Pouca grana né? Não precisa ir ao Seattle Center nos EUA – lugar onde foi realizado o torneio supracitado – para entender a magnitude do e-Sports hoje em dia. O Brasil já sediou, no Maracanãzinho e no Allianz Parque, finais do Circuito Brasileiro de League of Legends, carinhosamente apelidado de CBLoL, e contou com audiência presente enorme, além das premiações que chamam a atenção.
Enquanto vivermos num país onde o único esporte aceito sem problemas é o futebol, viveremos num país onde qualquer coisa que não é futebol é coisa de “gente que não tem nada pra fazer”
Leon Cleveland é formado em Comunicação Social pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. É fã de desenhos animados, mitologias, heavy metal, culinária, gastronomia, bacon e é completamente apaixonado por games. Tão apaixonado que sua Tese de Conclusão de Curso foi "O uso da Linguagem Cinematográfica nos Games". Já escreveu para várias publicações, analógicas e digitais, sobre o assunto e planeja se especializar na recente área de "Crítica de Videogames"
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