Pela luz que ilumina
Quanto o fato é mineiro de nascença e interessante demais, ele merece todo espaço. E é o que acontece hoje neste espaço, que conta os "Des(a)tinos mineiros". Des(a)tinos que, certamente, não são só meus, mas de todos que possuem a incrível experiência de se viver neste estado que, como de praxe friso em meus rodapés de texto, "é um estado de espírito". E foi ao me entreter no Facebook um dia desses, que coletei o relato que segue, apresentado pela amiga e ilustradora deste espaço (estampando, inclusive, a coluna que você ora lê), Lucí Sallum, sobre uma curiosa história ocorrida em Belo Horizonte com seu amigo, Lorenzo Natale. Ainda que eu não conheça o Lorenzo pessoalmente, agradeço pela inspiração e pela autorização em contar sua saga. Sim, aqui há espaço para boas histórias!
De acordo com o relato, Lorenzo, entusiasta das bicicletas, o que o torna um guerreiro ao enfrentar o enorme contingente de veículos pelas vias da capital, vinha pedalando para casa após mais um dia de trabalho. É certo que o horário já era mais tarde e o número de carros já havia diminuído e imerso em seus pensamentos, rodava pelas ruas e avenidas, mas, como mesmo ressalta, "sempre alerta", como querem os escoteiros. Tanta atenção o fez tomar conta de uma imagem, chegando próximo à Praça da Assembleia, ali no Santo Agostinho.
Foi na área onde estão instaladas agências bancárias que ele flagrou a cena: um morador de rua, parado ali no canto de um dos prédios, próximo de um caixa eletrônico, movimentava-se de costas para a rua. Por ocasião do horário, da conjuntura, da segurança pública nas grandes cidades e pelo perfil do cidadão, não havia como pensar em coisa boa. Poderia ser um assalto, poderia ser um crime, poderia ser o crack... Mas, graças a Deus, era pela luz... Sim, pela luz!
Observando mais um pouco e com menos gás nos pedais, Lorenzo se deparou com um belo resultado para uma cena que parecia dar mais uma demonstração da violência com as quais temos nos acostumado a conviver. O mendigo não procurava a maçaneta da porta para arrombar. Na verdade, ele queria a luz do interior do prédio. Em vez de um revólver ou canivete que fosse, ele possuía outra arma nas mãos: um livro. Ele não queria roubar. Ele queria luz para poder desenvolver a nobre atividade da leitura. Com a iluminação precária da rua, ele resolveu tirar uma 'casquinha' da farta iluminação da instituição financeira...
Quão bom seria se todos os maus juízos que tomamos, diariamente, perante aos tipos mal encarados e rotos e que, em sua maior parte, justificam o temor com crimes, transmutassem em atitudes tão poéticas, como a que o Lorenzo teve oportunidade de presenciar. Tomara que essa luz que ilumina a sua mente possa trazer luz para a cidade da praça mal iluminada e para todos os seus habitantes. E que novas histórias como essa mereçam ser contadas.
Juliano Nery acredita que Minas Gerais é mais que um Estado. É um estado de espírito. Belo Horizonte pode ser encontrada na latitude 19° 49' 01" S e longitude 43° 57' 21" W
Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.
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