Artigo
Alimenta??o vegetariana
parte 1

26/02/2002

As origens e as diferentes correntes

Todos os povos, em todas as ?pocas, sempre se preocuparam em estabelecer a sua pr?pria seguran?a alimentar, baseando-se tanto nos recursos naturais dispon?veis, quanto nos seus preceitos morais. A busca de alternativas para a alimenta??o vem desde os prim?rdios da civiliza??o, quando o homem buscava fontes de alimentos no mundo ao seu redor. A partir do momento em que valores morais s?o incorporados ? vida e ao comportamento humano, a alimenta??o passa por modifica?es profundas, com a sele??o de determinados alimentos e a busca de novas fontes alimentares.

Um exemplo muito comum ? a rela??o da dieta vegetariana com algumas importantes religi?es antigas e com o pensamento filos?fico de algumas ?pocas. ? conhecida a predile??o dos grandes fil?sofos cl?ssicos (Plat?o, S?crates, Pit?goras) pela alimenta??o vegetariana, recomendando-a a seus disc?pulos. A famosa ?dieta de Pit?goras? consistia no uso liberado de vegetais macios e frescos e que necessitariam de pouco ou nenhum cozimento na sua prepara??o. Em geral, abstin?ncia de todos os alimentos de origem animal, com exce??o do leite e do mel; todos os condimentos eram proibidos, sendo substitu?dos por ervas frescas.

Em v?rias ?pocas, mesmo em per?odos em que se abusava do uso das carnes pela abund?ncia de ca?a em certas regi?es, houve uma preocupa??o por alguns pensadores e religiosos em se fazer um retorno a uma alimenta??o mais ?natural?, ou seja, uma procura por alimentos mais pr?ximos a sua forma natural, sem grandes modifica?es e sem agress?es ao meio em que se vivia. Com o objetivo tamb?m de facilitar a busca espiritual, em que seria necess?ria uma pr?tica de vida mais regrada e simples, muitos optaram por uma alimenta??o mais vegetariana, com menos requintes e mais pr?xima a sua forma original (naturalismo), como forma de se atingir um elevado estado espiritual.

Durante muito tempo, v?rias correntes de pensamento passaram a se dedicar ao estudo do naturalismo e, como extens?o, da alimenta??o vegetariana. S?o muitas as personalidades hist?ricas que adotaram essa forma de alimenta??o, fazendo dela uma pr?tica de vida. Estudos tamb?m foram feitos atrav?s das ?pocas, com cientistas e m?dicos defendendo uma dieta simples, baseada na absten??o de carnes e de bebidas alco?licas, como forma de promover a sa?de.

? bastante conhecido o esfor?o do m?dico e ministro presbiteriano Silvestre Graham (1794 - 1851) em divulgar a alimenta??o vegetariana nos Estados Unidos, dando ?nfase ao uso do p?o integral, que at? ent?o n?o era considerado alimento de import?ncia para a sa?de. Hoje ele ainda ? lembrado atrav?s do famoso p?o de Graham, nome utilizado para um tipo de p?o integral muito comum em alguns pa?ses.

Muitos cientistas, m?dicos, fil?sofos, artistas e intelectuais foram influenciados pelas id?ias de Graham. Algumas sociedades foram fundadas pelos defensores da alimenta??o vegetariana, como a Sociedade Vegetariana Alem?, em 1867. Grupos religiosos tamb?m promoveram esse tipo de alimenta??o, como ? o caso de Ellen White, fundadora dos Adventistas do S?timo Dia.

Durante a Primeira Guerra Mundial, ocorreram algumas experi?ncias de uma alimenta??o desprovida de carne devido ? escassez de alimentos, como foi o caso da Dinamarca. Nesse pa?s, em virtude do bloqueio ?s importa?es, o governo solicitou ? Sociedade Vegetariana que organizasse um programa de racionamento de alimentos. O resultado foi surpreendente: a popula??o desse pa?s atravessou a guerra com um padr?o de sa?de superior ao que tinham anteriormente, embora n?o ingerissem carnes e se alimentassem, principalmente, de cereais e p?o integral, mingau de cevada, latic?nios e batatas.

Experi?ncia semelhante ocorreu na Noruega durante a Segunda Guerra. Com a redu??o no consumo dos produtos de origem animal, a popula??o passou a se alimentar basicamente de cereais, batatas e latic?nios. Al?m de n?o se ter encontrado nenhum sinal de defici?ncia proteica nesses indiv?duos, observou-se tamb?m consider?vel redu??o no n?mero de mortes causadas por enfermidades circulat?rias.

Em 1944 surge a Sociedade Vegan, a qual pregava uma alimenta??o ? base de frutas, nozes, gr?os e outros vegetais, abolindo qualquer alimento que exigisse sacrif?cio animal. Essa sociedade tem, ainda hoje, centenas de adeptos em todo o mundo. V?rios outros movimentos surgiram nesse s?culo, com base religiosa ou n?o, que defenderam a alimenta??o vegetariana como a melhor forma de garantir a sa?de e o equil?brio mental. Este fato tem despertado a aten??o de cientistas de todo o mundo, tendo sido grande o n?mero de pesquisas realizadas, desde o final do s?culo passado, sobre a alimenta??o vegetariana e suas implica?es para a sa?de.

Para facilitar a compreens?o do assunto, usaremos a classifica??o tradicional que ? dada aos diferentes tipos de dieta:

  1. Dieta vegetariana restrita ou pura ou total: n?o utiliza nenhum produto de origem animal como alimento. Exemplo: alimenta??o dos ?vegan?.
  2. Dieta lacto-vegetariana: apesar de se abster de carnes, a pessoa que segue essa forma de alimenta??o faz uso do leite e seus derivados.
  3. Dieta ovo-lacto-vegetariana: semelhante ? anterior, com a varia??o de permitir tamb?m o uso de ovos.
Essa classifica??o ? gen?rica, n?o se considerando determinadas especificidades de dietas orientadas por um pensamento filos?fico e/ou religioso. Resumimos abaixo algumas dessas tend?ncias, de acordo com a corrente de pensamento a que elas se referem.

Na segunda parte deste artigo abordaremos as implica?es da alimenta??o vegetariana para a sa?de, mostrando os riscos nutricionais poss?veis de cada tipo de alimenta??o e fornecendo algumas orienta?es que possam reduzir ou evitar as defici?ncias nutricionais t?picas das dietas vegetarianas.

Tamb?m ser? apresentado um estudo comparativo entre a alimenta??o comum e a vegetariana, envolvendo vantagens e desvantagens de cada uma.


Cristina Garcia Lopes
? nutricionista formada
pela Universidade Federal de Vi?osa.
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Sobre quais temas (da ?rea de nutri??o) voc? quer ler novos artigos nesta se??o? A nutricionista Cristina Lopes aguarda suas sugest?es no e-mail nutricao@jfservice.com.br


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